Funâmbulos e palhaços
Sempre que nos sentirmos mais em baixo, por causa da crise ou por causa do Benfica, temos o Governo, que nos acode nestas horas de aflição. Como estamos a viver tempos de excepção, governados por pessoas a quem não compraríamos um carro nem que nos apontassem uma arma à cabeça, só nos resta irmos assistindo às incompetências, dislates ou improvisos que se vão sucedendo de forma imparável.
No fundo, somos um privilegiados. Mesmo sem um comediante do calibre de Relvas, o executivo consegue ir descobrindo novas formas de estimular as nossas glândulas do prazer. Basta apontar um nome ao calhas - pode ser, para o propósito deste texto, Nuno Crato, o ministro do rigor e da exigência - e encontraremos motivos para riso, escárnio e preocupação, desespero. É verdade que tem havido um meritório esforço de Crato a esquivar-se às balas surgidas depois dos cortes nas bolsas da FCT - e veio mesmo a calhar a polémica das praxes, que ele aproveitou que nem um afogado aproveita as derradeiras moléculas de oxigénio de uma botija -, mas nem com estas golfadas de ar terminal Crato consegue estar mais do que quarenta e oito horas afastado da linha da frente.
Só no dia de hoje, dois tiros no porta-aviões: os reitores queixam-se de uma promessa de financiamento de 30 milhões de euros que ele já veio negar ter feito, demonstrando à exaustão que a boa fé não é algo com que se possa contar quando falamos deste Governo. Por outro lado, os politécnicos já vieram dizer que recusam leccionar os cursos de dois anos aprovados, aproveitando o Conselho Coordenador para acusar o ministro de "desconhecimento da realidade do ensino superior".
Relembro que é este o ministro do rigor e da exigência, o que, de cada vez que se sente acossado, inventa um exame para entreter tolos. É este ministro que, algum tempo depois de ter posto em causa a qualidade dos cursos ministrados nos politécnicos, aprova uma espécie de formação fast-food, em nada diferente do que já existe no ensino secundário.
É claro que já há muito tempo que o Governo labora em roda livre, e as pessoas sabem que nada lhes vai acontecer. Morando o seu porta-vez em Belém, o Governo não cairá nem que o país afunde - e nem os submarinos de Portas nos poderão salvar, se isto acontecer. Despreocupadamente, os ministros lá vão dando o seu pior, exemplos vivos de que o princípio de Peter não se aplica quando falamos de Passos Coelho e da sua trupe. É a desbunda total. Desfrutemos.