Estatísticas há muitas
"It looked artificial, but it was full of real birds"
V. S. Naipaul "A bend in the river
Passos Coelho confrontado com o aumento do défice de 2014 para os 7,2% por causa do Novo Banco disse que era apenas uma "contabilização estatística". Um Primeiro-Ministro, que pautou toda a sua governação por fins estatísticos, que se apresenta a votos ancorado numa suposta melhoria desses dados, vem agora desvalorizar esses elementos e afirmar que tal não tem impacto na vida das pessoas. A mesma vida das pessoas que recuou para níveis da década de 90 do século passado para se alegadamente cumprir com certos objectivos estatísticos, cuja importância económica está longe de ser consensual e, em muitos casos, é puramente política - uma espécie de padrão das explosões no Catch-22 (ficava bonito nas fotografias áreas dos relatórios).
Na verdade todos os dados estatísticos são relativos, são meros indicadores, até o sacrossanto PIB. Kuznets, prémio Nobel da Economia, que liderava a equipa de economistas que criou o cálculo do PIB, bem tentou avisar que “o bem-estar de uma nação não pode ser aferido através do cálculo do seu PIB" uma vez que "A country, for example, that overemphasizes G.D.P. growth and market performance is likely to focus policies on the big drivers of those — corporations and financial institutions — even when, as during the recent past, there has been little correlation between the performance of big businesses or elites and that of most people."
O problema de Passos Coelho é que não pode continuar a relativizar o défice, o PIB e a balança comercial. Se o fizer, será obrigado a focar-se na qualidade de vida, na saúde, na igualdade, no bem-estar - a realidade é madrasta.