Estamos carecas de saber
"No seu trágico desespero arrancava brutalmente os cabelos da sua peruca"
Díaz Dufoo Jr
A manifesta incapacidade da UE para lidar com as diversas crises - crise económica causada pela crise do sub-prime, a crise da Ucrânia e, agora, a crise dos refugiados - é trágica. As suas respostas extemporâneas e ad hoc revelam que os princípios de solidariedade, de democracia, de defesa dos direitos humanos que apregoava eram um recurso demagógico: um artifício estético que aos poucos é arrancado, demonstrando a sua verdadeira face.
E esta é a de uma UE cada vez mais inter-governamental - apesar de se ter assistido ao reforço da legitimidade democrática do Presidente da Comissão com a sua "eleição directa" a Comissão continua dependente e com falta de proactividade -, onde os poderes fácticos imperam e as regras se vão adaptando consoante o poder do país* e dos interesses afectados, com predomínio do poder económico sobre os demais (vd: a forma díspar como as lideranças europeias tratam os governo grego e húngaro).
O projecto europeu, que era na sua génese uma construção política que utilizaria a integração económica como catalisador daquela, subverteu-se numa instituição dos mercados, pelos mercados e para os mercados. E será possível que tal entidade assim concebida e assim dedicada possa perdurar?
* A Comissão Europeia está há cinco anos a avisar a Alemanha que esta arrisca-se a ser multada caso mantenha o investimento abaixo das metas estipuladas.