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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

26
Ago14

Entretanto, num país perto de si

Sérgio Lavos

- Isto está complicado.

- O quê, stôra?

- A execução, Pedrinho. Não vamos lá, a este ritmo. E com o TC a chumbar as nossas medidas, ainda menos.

- Aqueles cabrões...

- Pois é, Pedrinho. Não diga palavrões.

- Ó stôra, e que fazemos? Não podemos aumentar os impostos, que já só falta um ano para as eleições e ainda quero ganhar esta merda.

- Não diga palavrões. Acho que só nos resta aumentar impostos. Temos aquela coisa da almofada orçamental, mas combinámos que isso é apenas para gastar em 2015, mesmo em cima das eleições.

- Sim, e não podemos esquecer o dinheiro que ainda vai para o BES, pelo menos até às próximas eleições.

- Isso já está de parte. Desde que continuemos a ter alguma coisinha para pagar os juros, tudo bem. Foi para isso que introduzimos a contribuição no IRS, lembra-se, Pedrinho?

- Pois é, pois é, stôra. Já me esquecia disso. Se calhar devia ter feito mais do que copiar na cadeira de Finanças Públicas...

- Lá isso tinha feito bem, Pedrinho. Mas agora não interessa nada. O Pedrinho até tem-se portado bem, sempre foi bom a fingir ser uma coisa que não é...

- Obrigado, stôra. Só o sacana do La Féria não percebeu a minha verdadeira vocação.

- Deixe lá isso, menino, que o seu pai está muito orgulhoso de si. E eu também. Mas adiante. Temos mesmo de aumentar impostos, não há outra maneira. Mesmo que cortemos nos hospitais, nas escolas e nas prestações sociais, continua a faltar dinheiro.

- Isso não pode ser, que o outro não quer ficar mal visto e perder o resto do eleitorado que lhe resta. Se a prima-dona arma mais uma fita, o senhor presidente passa-se de vez e ainda aceita a demissão, de forma completamente irrevogável.

- Invente lá qualquer coisa então, para disfarçar. Telefone aí ao Miguel, quer dizer, a um dos dois: se o Relvas não atender (ainda está amuado consigo), pergunte ao Maduro, que ele até sabe umas coisas.

- Ah, bem pensado, stôra. 

 

(...)

 

- Estou, Miguel?

(...)

- Sim, sou eu, o Pedro.

(...)

- Epá, não desligues, caraças, estou aqui num aperto.

(...)

- Já te pedi desculpa, pá. Sabes muito bem que tinha mesmo de ser, estavas a queimar tudo.

(...)

- Não digas isso, pá, eu encaminho uns quantos clientes para a tua nova empresa. É uma mina, sabes bem, melhor do que a Tecnoforma.

(...)

Ah, é assim? Eu ligo ao outro Miguel, juro.

(...)

(...)

(...)

 

- Ora, foda-se.

- Então, Pedrinho, o Miguel não o ajuda?

- Continua chateado. Criancices. Vou ligar ao outro Miguel.

 

(...)

 

- Estou, Miguel?

(...)

- Pedro? Pedro quem? Não conheço nenhum Pedro?

(...)

- Lomba? Está numa lomba? Realmente não o estou a ouvir muito bem... ouça lá, não sei quem é, mas o seu trabalho é passar-me a chamada. Não está aí o senhor ministro?

(...)

 - Secretário? De Estado? E fui eu quem o nomeou? Não me lembro... olhe, isso agora não interessa nada, passe-me aí o senhor ministro.

(...)

- Estou? Miguel? Aqui fala o Pedro. Ouça lá, olhe que o seu secretário tem de ser mais diligente a passar as chamadas.

(...)

- Ele não é assim tão novo, já está há alguns meses aí no gabinete. Não lhe deu o manual de formação para secretários de Estado? Aquele em 12 passos? Olhe que o Moedas aprendeu por aí, e veja lá onde ele já está...

(...)

- Ora, bem, se ele tem esse problema, deixe estar. Sempre cumpre a cota dos deficientes. Mas liguei-lhe para falar de outra coisa.

(...)

- Não, não é isso, deixe lá a RTP em paz que eles agora estão a fazer um bom serviço. Não aprendeu com o outro Miguel? O que eu preciso é de uma manobra de diversão para distrair as pessoas. Estamos à rasca com a execução orçamental.

(...)

- Sim, precisamos de cortar ou aumentar os impostos.

(...)

- Outra vez isso? É sempre a mesma coisa. Não consegue fazer outra coisa se não lançar notícias que se vêm a revelar falsas? Já o outro Miguel fazia isso.

(...)

- Bom, deixe lá, homem, não fique ofendido. Então qual é o plano?

(...)

- Sim, ah, essa é uma variante interessante. Está a ver, Miguel, sempre temos alguma imaginação, colega. Então, vamos lá ver se eu percebi bem: dizemos ao Luizinho para lanças umas balelas sobre aumento de impostos na TV, certo? Depois eu nego veementemente, e tal, dizendo que este ano, não. Depois, esperamos que saiam as notícias falando dos inevitáveis cortes na Saúde e na Educação, culpando o Tribunal Constitucional, é isso?

(...)

- Ah, bom toque final. Se falarmos também da justiça as pessoas compreendem melhor. Olham para o lado, e como de qualquer maneira acham que os juízes são uns chupistas, ainda entalamos os cabrões do TC.

(...)

- Epá, não seja fino, eu digo os palavrões que me apetecer, eu é que sou o primeiro-ministro. Olhe, até logo, vou já ligar ao irrevogável, antes que ele faça uma birra ou ligue ao arquitecto do jornal a lançar a confusão. Mãos à obra!

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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