Drumpf
Num post retirado do baú:
"Na comparação entre "1984" e o "Admirável Mundo Novo" Neil Postman refere que enquanto Orwell temia a censura, Huxley temia que nos fosse dada tanta informação que seriamos reduzidos à passividade e egoísmo, que a verdade fosse afogada num mar de irrelevância.
Passados 75 anos da publicação da obra de Huxley, David Foster Wallace, com a sua habitual genialidade, cunhou o termo "Ruído Total" (Total Noise) para descrever o tsunami de informação, spin, retórica e contexto que nos invade diariamente - que não só dispersa a nossa atenção, mas também torna impossível distinguir o que é relevante e de valor.
No meio desta avalanche as únicas noticias/opiniões capazes de se elevar do mar de irrelevância são as mais chocantes e esdrúxulas."
Trump parece ser o culminar deste fenómeno descrito por DFW. Com efeito, ele é o candidato que através da sua capacidade de chocar, de criar polémica e de entreter domina a atenção dos media sedentos de audiências.
Esta atenção desproporcional face aos restantes candidatos reforça o poder da candidatura de Trump, que por sua vez lhe confere mais cobertura noticiosa - um ciclo vicioso. Este poder da imagem assente em discursos simples reduzidos à formula "eu sou o melhor" nas suas mais diversas variantes apela a eleitores cansados de tanto ruído, de tantos anos de falsas promessas. É este elemento, mais do que as suas ideias ou ideais, que, conforme tão bem exposto pelo John Oliver são capazes de oscilar no próprio dia, o tem catapultado para a liderança. E esse talvez seja o único ponto positivo desta história: a maior parte das coisas hediondas que diz e defende não são para levar a sério e, espero eu, nunca as tentará levar à prática caso seja eleito. Por outro lado, é assustador que se desconheça quais são as ideias do principal candidato republicano à Casa Branca.