David Bowie (1947-2016)
David Bowie, nos dois últimos álbuns, regressou às sonoridades da trilogia de Berlim (Low, Heroes e Lodger) - álbuns experimentais e ambientais temperados pela produção de Brian Eno. Uma intuição sobre a sua melhor fase e um regresso aos seus anos mais selvagens de boémia e de vitalidade criativa (as duas andam a par). Terá sentido que era ali que tinha sido mais vivo. O penúltimo, "The Next Day" é uma revisitação da sua vida e o último, "Blackstar", uma preparação para a morte e legado final. Há letras destes últimos dois álbuns que são lamentos de fantasma passeando pelas ruínas do que foi. Lembrei-me de Herberto Helder, ao perceber o modo como David Bowie se despediu do mundo, encenando a sua saída de palco, criando uma derradeira personagem, uma última máscara para usar. Esta, mais real do que todas as anteriores. Ou não. Todas as máscaras usadas são verdadeiras, sucessivas peles de que se foi despindo até nada restar. A não ser a música, claro. O suficiente?