Da luta de classes (ao contrário)
Se há tópico onde entendo perfeitamente a dramatização é em política. Está em causa a vida das pessoas, o rendimento, o bem-estar das populações. Se não se dramatizar a possibilidade de conferir uma vida melhor a milhares ou milhões de pessoas vai dramatizar-se o quê?
Esta notícia (que aliás se soma a esta) sobre a redução na atribuição de prestações sociais merece toda a revolta que se consiga colocar num discurso político. Merece uma voz embargada. Merece palavras atiradas como pedras. Merece que nos socorramos de todos os archotes e forquilhas retóricos a que consigamos deitar mão. Merece acusações.
Merece a acusação de estar o Governo a retirar verbas a prestações sociais sujeitas a condição de recursos - argumento a que este executivo parecia ser tão sensível.
Merece este Governo a acusação de privar estas 49+19 = 68 mil pessoas, possivelmente 68 mil famílias, de um rendimento crucial para as tirar da mais completa pobreza. Merece este Governo a acusação de encetar uma guerra de classes mas ao contrário. Uma espécie de ódio ao pobres responsabilizando-os pela sua pobreza atirando-os para a indignidade das medidas assistencialistas.
Merece este Governo a acusação de querer lançar a classe média contra as classes mais pobres. Merece este Governo a acusação de restringir seriamente o acesso a dois dos instrumentos mais eficazes na redução da severidade da pobreza. Merece este Governo que empreguemos todas as forças que tenhamos, todas as forças que consigamos arregimentar, para forçar a sua demissão. Com urgência.