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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

19
Ago14

Como tenho o pressentimento que até Novembro haverá muitas confusões destas...

David Crisóstomo

... embirro já. Caro(a) D.T. do Diário de Noticias, vamos lá pegar nesta minúscula peça e dar-lhe um arranjinho, sim? Podemos começar logo com o título "Partido europeu de Marinho Pinto reúne em Lisboa", que, enfim, o ALDE pode ser muitas coisas, mas nunca aceitou o Marinho Pinto como militante. Nem podia, pois não é possível a um individuo ser membro do ALDE, capacidade essa reservada a partidos de países europeus. Marinho Pinto podia ser quanto muito "membro associado" do ALDE, mas nem isso consta que seja. Avançando: "O congresso do grupo político de Marinho e Pinto no Parlamento Europeu, Aliança dos Liberais e Democratas (ALDE), vai ..." - ehn, erro, e este é muitíssimo comum na imprensa portuguesa (e não só) quando falamos de partidos europeus. Quem virá a Lisboa realizar o seu congresso não é o ALDE, grupo parlamentar no Parlamento Europeu do qual Marinho Pinto e o seu "colega" fazem parte, mas sim o ALDE, Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa (sim, faltou esta parte no nome do partido, o "pela Europa"), partido que não inclui Marinho, nem o Partido da Terra, nem nenhum outro partido político português. Têm o mesmo nome e a mesma sigla, sim, mas são entidades distintas com diferenças óbvias: um é um partido supranacional que concorre a eleições através dos seus partidos membros e o outro é um conjunto de eurodeputados no Parlamento Europeu, nem todos sendo membros do partido homónimo e nem todos partilhando da sua ideologia, como bem sabemos. Esta confusão é bastante comum e já a vi ser feita outrora relativamente, por exemplo, ao Partido dos Verdes Europeus e ao grupo parlamentar d'Os Verdes/Aliança Livre Europeia (que, como o nome indica, este segundo é composto por eurodeputados eleitos por partidos membros do partido ecologista europeu, por eurodeputados eleitos por partidos membros da Aliança Livre Europeia [um partido europeu regionalista e que agrega um conjunto de partidos nacionais que defendem a independência ou a autonomia de certas regiões europeias], por eurodeputados eleitos por outros partidos nacionais e por independentes) ou ao Partido da Esquerda Europeia e ao grupo parlamentar da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde, mais conhecido pela sua sigla bilingue GUE/NGL (que, mais uma vez, é composto por eurodeputados eleitos por partidos membros do Partido da Esquerda Europeia, por eurodeputados eleitos por partidos membros da aliança de partidos da Esquerda Nórdica Verde, por eurodeputados eleitos por outros partidos nacionais [os do PCP, por exemplo] e por independentes). No caso do ALDE, ok, têm o mesmo nome e a coisa baralha, mas isso não é desculpa para o desleixo na informação. Por fim, esta pequena peça acaba da seguinte forma: "O líder do ALDE é o belga Gui Verhostad. Marinho Pinto integra o 'bureau' deste grupo político europeu." Enfim, cá vou eu outra vez - isso é o grupo parlamentar, rapaz! O grupo parlamentar é de facto presidido pelo belga e ex-candidato à presidência da Comissão Europeia Guy Verhofstadt (e não "Gui Verhostad"). O presidente do partido é desde há 3 anos para cá o escocês Graham Watson. E sim, para mal da nossa "credibilidade externa", Marinho Pinto integra o secretariado do grupo parlamentar da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa, juntamente com outros 35 eurodeputados, como o ex-comissário europeu Olli Rehn. E como é óbvio, Marinho Pinto não integra o "bureau" do partido da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa coisíssima nenhuma, como diria o outro, e dúvido que eles o queiram ver lá perto.

 

Já noutros tempos mandei vir com o tratamento que é feito pela imprensa lusa às questões europeias, nomeadamente ao Parlamento Europeu, em que muitos partilham da visão marinhopintiana de que os eurodeputados "não mandam nada". Numa altura em que constatamos que devido a constrições europeias, seja no plano fiscal, económico, financeiro ou monetário (a maioria delas reguladas em comissões parlamentares de Estrasburgo), a resolução desta crise é e será mais complexa que qualquer outra da nossa democracia, seria de esperar que os nossos jornalistas começassem a abandonar o desprezo e o desinteresse com que retratam esta temática. Ou, no mínimo, que não fizessem noticias com os pés.

 

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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