Capitolismo
"Capito, que era suficientemente tolo para querer ser prevenido de tudo..."
Voltaire
Nos últimos anos tornou-se recorrente as "pessoas muito sérias" apelarem à estabilidade como se esta fosse um fim em si mesmo. Estes novos capitos detestam a incerteza política. No entanto, não é bem a incerteza que os incomoda tanto - ao mesmo tempo conseguem alegar, sem qualquer consciência de contradição, que o mundo mudou, que já não é mais possível existir segurança no mercado laboral. O que eles desejam é a certeza da aplicação de uma política: a única que segundo eles é capaz de garantir a confiança dos mercados.
Neste mundo maravilhoso dos mercados perfeitos a prossecução e implementação das "reformas estruturais" tornaria o crescimento económico eterno. Com efeito, esquecidos da definição keynesiana do capitalismo como "um sistema caracterizado pela incerteza", tiveram a soberba de declarar que "o problema central da prevenção das depressões foi resolvido" (Robert Lucas da Universidade de Chicago - 2003).
Passados cinco anos desta frase surgiu a crise financeira do subprime, que não foi certamente causada pela incerteza política, nem pela regulação. Será que foi o oposto? Será que, como defende Minsky, a instabilidade financeira surge da estabilidade: períodos de calma, de progresso, de crescimento sustentado transforma os mercados descontentes com a taxa normal de lucro e em busca de taxas mais elevadas procuram riscos maiores?
Em qualquer dos casos esta preconizada estabilidade funciona como pura propaganda (soa bem: quem não gosta de algo fiável para variar?), um subterfúgio, uma imposição anti-democrática para proteger certos interesses, eles próprios destabilizadores. Após quatro anos da troika, Portugal tem mais de 800 mil trabalhadores com um vínculo precário. Estabilidade, portanto.