Calar Sócrates
Ainda por aí um alvoroço por causa de um editorial do Público que supostamente mandou calar Sócrates. O editorial em causa, apesar de citar a frase que o rei Juan Carlos atirou a Chávez numa cimeira, não é mais do que uma crítica (não especialmente virulenta) ao que Sócrates disse numa entrevista, sobre diversos assuntos. Afirma o editorial que melhor faria Sócrates em não emitir a sua opinião, dada a situação em que se encontra. Podemos discordar da crítica do Público, é certo. Mas é incompreensível tanta gente clamar pela liberdade de expressão de Sócrates. Logo este, que, mesmo sob investigação, não tem feito outra coisa senão exercer a sua liberdade de expressão, em diversos palanques e formatos. Já Passos (e muita gente de direita), recorrendo a um já habitual cinismo oportunista, aproveitou para candidamente defender o uso da palavra de Sócrates. Claro que, como não somos todos parvos, sabemos por que razão Passos fez isto: na entrevista em questão, Sócrates afirma que não teria aceitado ser primeiro-ministro caso tivesse perdido as eleições. Não interessa que Sócrates tenha dito isto em resposta a uma questão muito concreta sobre as eleições de 2011 (e qualquer um naquela situação não aceitaria ser PM). Passos chega-se à frente porque, na cabeça dele, ainda é primeiro-ministro. Tudo normal. Menos a reacção de muita gente de esquerda, indignando-se contra o editorial do Público. Ameaça à liberdade de expressão? Tenham juízo.