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Sem antídoto conhecido.

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25
Fev14

Bloco central

Sérgio Lavos

A escolha de Francisco Assis como cabeça de lista do PS à eleições europeias clarificou, para já, o posicionamento político de António José Seguro. Pressionado por um ultimato feito no Congresso do PSD, Seguro, a reboque da agenda mediática dos seus adversários políticos, sentiu a necessidade de revelar o nome que já teria sido decidido há algum tempo. Pode Assis vir dizer que a questão do timing é secundária, que ninguém acredita nele: quem tem decidido a agenda têm sido os partidos do Governo, e, na actual democracia mediática em que vivemos, isso é decisivo. 

Mas, mais importante do que o embaraço momentâneo, são as ideias de Assis e o seu lugar no PS. Candidato derrotado por Seguro, antigo deputado ao parlamento europeu, Assis tem vindo, nos últimos anos, a colocar-se no centro absoluto do PS, personificando a facção socialista que prefere claramente aproximações aos partidos de direita. A sua candidatura é a do "bloco central" e "estruturante da esquerda portuguesa". Esta afirmação pode parecer uma mera provocação ao sectarismo que existe à sua esquerda, mas na realidade torna óbvio o que talvez fosse turvo para alguns. Define o PS enquanto partido de poder, do "bloco central" de que farão parte PSD e CDS, o que não é nada de novo - o PS assinou o memorando da troika com a direita, e, acima de tudo, aprovou o tratado orçamental já sob a liderança de Seguro. O tratado orçamental limita, de forma evidente, o tipo de políticas que serão tomadas pelos Governos que se seguirão. Ao impôr um limite muito estreito ao défice - 0,5% de défice estrutural - na prática o tratado evita que se possam implementar políticas keynesianas de aumento do investimento público em tempo de crise, perpetuando em letra de lei o austeritarismo germânico. O PS, acreditamos todos, saberá o que fez. E o que fez foi, na verdade, recolocar-se mais à direita no espectro político, aproximando-se - e tornando-se praticamente indestinguível - do PSD e do CDS.

Por outro lado, Assis esclarece de que modo o PS olha para os partidos à sua esquerda, respondendo às variadas tentativas de convergência ensaiadas nos últimos tempos. O actual PS "estrutura-se" assim em torno da direita e de políticas liberais, não-keynesianas. À esquerda, nenhum dos partidos defende este tipo de políticas. Nem o BE - cada vez mais fechado num socialismo estatal -, nem o PCP, fiel à velha ortodoxia. Resta o LIVRE, que por enquanto existe apenas como ideia. E o LIVRE sabe agora por onde tem de ir, se quiser ser chamado ao poder depois das próximas legislativas: em direcção ao centro, contrariando a ideologia social-democrata (não confundir com o PSD) que está nos seus princípios fundadores.

Os dados estão lançados - escolher um político inteligente como Francisco Assis tem as suas vantagens. Enquanto Seguro navega entre premências do PSD e soundbytes vazios e pouco assertivos, Assis define o seu espaço e o do PS. É verdade que há pouco que distinga Paulo Rangel e Francisco Assis; já o sabíamos do programa semanal onde ambos aparecem. Mas o tiro de partida da candidatura foi bastante esclarecedor. Se Assis conseguirá conquistar votos com esta estratégia, será duvidoso - os votos que ganhar ao PSD e ao CDS certamente serão perdidos à esquerda. E os abstencionistas nunca irão votar num candidato que afirma orgulhosamente pertencer ao "bloco central". O tal que tem governado o país desde sempre, trazendo-nos onde nos trouxe.

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«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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