Ano novo, vida nova
O meu artido no Diário Económico de hoje:
A proposta de proibir que qualquer cidadão venha a perder a sua casa por dívidas fiscais é uma medida, a um tempo, e apenas como exemplo, socialmente justa e economicamente sensata.
Pela frente, temos eleições presidenciais e um interessante imbróglio para resolver. Aquele que parece ser um melhor Presidente, pelas suas qualidades pessoais, visão da política e do exercício da função presidencial, e tendo em conta o momento que o País atravessa - Sampaio da Nóvoa -, está a revelar -se um candidato menos convincente do que se esperaria.
Por outro lado, Marcelo Rebelo de Sousa é um candidato imbatível nessa função. Um político experiente, comentador há mais de dez anos na televisão, com um grau de notoriedade único e irrepetível, emana energia e dinamismo numa campanha em que aposta tudo em não se comprometer com nada. Por muito que, nas ruas, simpatizem com ele (e, pessoalmente, sou um deles) não acredito que seja o Presidente que o País precisa.
Veremos quem ganha: se o melhor candidato, se o melhor Presidente. As urnas decidirão. Em qualquer caso, o novo Presidente terá de começar por mostrar que sabe lidar com o quadro político que os portugueses desenharam. Essa não é uma escolha do novo Presidente, é um dado com que terá de contar.
O ano de 2016 promete, ao menos, uma oportunidade. A oportunidade de ter um ciclo político sem Cavaco Silva (foram muitos e longos anos), sem uma política austeritária que deixou um legado pesado ao País e sem – até agora – um discurso entre o miserabilista e o passa-culpas que pautou demasiadas vezes sucessivos Governos.
À economia será dado algum espaço para respirar e é preciso que ele seja aproveitado. Temos, é verdade, uma dívida pública maior do que nunca. Temos, é verdade, um défice que continua por controlar, pese embora o enorme aumento de impostos de Vitor Gaspar, que ainda estamos a pagar. Temos, ainda, um Estado menos capaz do que no passado de assegurar políticas sociais mínimas em áreas críticas como a Saúde, a Educação ou a Segurança Social.
Mas temos, por outro lado, a força de trabalho mais qualificada de sempre, mesmo descontando os que emigraram. Temos, também, uma dura aprendizagem feita a expensas próprias sobre a importância de exportar mais. Esse será, talvez, o único legado duradouro dos últimos anos e aquele que importa reter. Temos, por fim, uma Europa um tudo nada menos ortodoxa e intransigente porque, por um lado, a Alemanha está a braços com outras prioridades e porque, por outro, já percebeu que se mata a periferia do seu mercado interno, mais dia menos dia, isso lhe custará também qualquer coisa.
Não é um cenário inteiramente brilhante, decerto, mas é o menos mau desde, pelo menos, 2011. Mas se o País onde nasceu a actual crise mundial em 2008 conseguiu sair dela com relativo sucesso, não podemos exigir a nós próprios menos do que isso. Precisamos de recuperar salários, a par do aumento da produtividade dos factores de produção (e não só do trabalho, como tanto se gosta de insistir), e de voltar a crescer. Pouco, dirão, mas alguma coisa sempre é melhor que sucessivos trimestres de recessão como vivemos recentemente.
Os políticos parecem dispostos a fazer a sua parte. Resta aos empresários, gestores e trabalhadores fazer a sua. Este pode ser um bom ano.