A vida na lixeira: o dilema
But when television is bad, nothing is worse. I invite each of you to sit down in front of your own television set when your station goes on the air and stay there, for a day, without a book, without a magazine, without a newspaper, without a profit and loss sheet or a rating book to distract you. Keep your eyes glued to that set until the station signs off. I can assure you that what you will observe is a vast wasteland.
Newton N. Minow
Ao longo da sua história a SIC - a estação do "Big Show Sic", dos "Malucos do Riso", dos comentários do Marques Mendes, entre outros - sempre fez por transmitir uma imagem de qualidade: uma espécie de canal com pretensões gourmet que vende comida congelada. Nada contra. A Televisão é um negócio. Se a empresa considera que assim consegue ter audiências está livre de o fazer, assim como cada um é livre de desligar a televisão ou mudar de canal.
No entanto, os limites mínimos da dignidade foram ultrapassados nesta semana: num programa de tarot da SIC a apresentadora sugere a uma telespectadora que se apresenta como uma vítima de violência doméstica para ter paciência, para não discutir nem procurar conflitos, para nutrir o marido. Este é um programa que por si nunca deveria existir: vive do desespero alheio, da incerteza e da ansiedade para recolher milhares de euros em chamadas de valor acrescentado. Este episódio foi ainda mais grave, culpabilizou uma possível vítima de violência doméstica - vitimização terciária. Nem quero imaginar o nível de desespero que alguém sofre para se expor desta forma: telefonar para um programa de televisão em directo que é visto por milhares de pessoas para contar algo tão pessoal e grave. E em vez de obter ajuda, é recriminada.
Perante isto a SIC, pelo menos para preservar a imagem que criou, devia cancelar de imediato este programa. Caso contrário, a ERC devia tomar medidas urgentes antes que a lixeira se torne ainda mais vasta.