A ver se a gente se entende...
...que isto já cansa. Ter aqui a direita, ainda enfurecida por ter sido expulsa da governação pelos representantes eleitos da população portuguesa, a escandalizar-se toda a santa hora pelo "gigantesco aumento de impostos", nas palavras do douto Hugo Soares, ou o "maior esforço fiscal" que Portas agora lacrimeja, é uma cena que me aborrece. Aborrece porque, como o Nuno muito bem aqui relembrou, esta mesma direita produziu um documento que nos estimava como seria a sua fiscalidade este ano, caso ainda tivessem as rédeas da nação: o Programa de Estabilidade e Crescimento 2015-2019, entregue pelo XIX Governo Constitucional no ano passado em Bruxelas. E no inicio do Quadro II.7, na página 42 do documento, podemos observar as estimativas de Receitas Fiscais do governo de Passos Coelho para o periodo plurianual referido:
E agora é compara-las com as Receitas Fiscais estimadas pelo governo de António Costa no Relatório da Proposta de Lei do Orçamento de Estado para 2016:
E tenhamos em conta que 25,6% é matematicamente superior a 25,2%, ok? Que o peso na economia dos impostos que a direita se preparava para aplicar era superior àquele que foi orçamentado por este governo.
Concluindo, sobre o alegado aumento de carga fiscal, remeto-vos para a Caixa 8 da análise à Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2016 da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO):
Tenhamos em conta que há uma profunda hipocrisia em ver ex-governantes e legisladores do PSD e do CDS-PP a fingirem que um orçamento por eles desenhado não exigiria nesta altura um "maior esforço fiscal" às famílias portuguesas. Tenhamos em conta que, sim, lamento imenso, mas a direita preparava-se para aplicar ao país uma carga fiscal superior à deste governo, nomeadamente ao nível dos impostos sobre os rendimentos dos portugueses, continuando o trajecto que percorreu no passado recente.
Para além de tudo isto, recomenda-se também (e muito) as leituras do Eugénio Rosa e do Marco Capitão Ferreira, ali noutros sitios.