A apologia da Política
Em 2009 inaugurou-se em Portugal uma lamentável e vergonhosa maneira de estar na política. Achincalhar, apenas porque sim. Falar mal de todo um país, apenas porque isso daria uns votos. Transformar a política numa espécie de "jogo de claques", numa "luta na lama", uns contra os outros, em que se procura única e exclusivamente menorizar o adversário mesmo que à custa da reputação de um país, quando no fundo aquilo que se está a menorizar verdadeiramente é a inteligência coletiva, a capacidade de olhar e pensar a cidade.
Estar na política, saber o que é a política, fazer política, não tem absolutamente nada a ver com este lamentável e embaraçoso espetáculo. Tal postura, em rigor, é precisamente o oposto: é a negação da política, é a sua rejeição.
É perfeitamente possível (e até provável e louvável) reconhecer os progressos de um país, o contributo de um povo (ou povos), em particular num contexto em que a absoluta incompetência governativa de uns obrigou outros a darem o melhor de si.
Mas eu compreendo que aqueles que acabaram por ver esta sua "estratégia" de achincalho premiada nas urnas possam ter, erradamente, interiorizado que aquilo é política. E percebo que agora estranhem muito que haja alguém com uma postura mais construtiva, mais aberta, mais honesta.
O que se passou com as declarações de António Costa (e que, temo, voltar-se-á a repetir dada a absoluta falta de argumentos dos seus detratores), é muito mais revelador do grau de inaptidão política de quem se apressou a tentar converter em escândalo uma declaração razoável (porque verdadeira) do que daquele que se recusa a recorrer ao mero achincalho, ao "isto está péssimo, estamos todos condenados e a culpa é toda ali daqueles senhores".
Mas as estratégias para enganar tolinhos, frequentemente orquestradas por tolinhos, têm quase sempre o condão de serem de fácil desmontagem.
Aos que tomaram as declarações de Costa como escandalosas, alinhando na referida estratégia, e ainda não descortinaram o que lhes sucedeu, eu ajudo: esta sessão, onde Costa fez as referidas declarações, decorreu no dia 19; foi divulgada apenas anteontem, dia 25.
Uma alminha mais... crente (chamemos-lhe assim) poderá ainda não ter percebido e continuará a assumir que este hiato foi preenchido com as complexas e prolongadas tarefas de editar uma reportagem ou fazer um ficheiro áudio para telemóveis.
Obviamente, não foi o caso. No dia em que alguns se entretiveram a procurar um escândalo nas declarações de Costa, a Comissão Europeia anunciou que Portugal passou a integrar os países sob vigilância orçamental, em virtude de "riscos importantes", certamente fruto da governação de excelência de Passos Coelho, Paulo "irrevogável" Portas e seus amigos.
Para além disso, foram divulgados os números da execução orçamental. Parece que a despesa subiu.
Ouviram falar muito disso? Não? Pois...