Não vale a pena estarmos a diabolizar o FMI
A frase que dá o título a este texto é da autoria de Pedro Passos Coelho e foi proferida no longínquo dia 25 de março de 2011, numa altura em que o PSD repetia até à exaustão que o FMI era um grande amigo nosso e que o deveríamos receber de braços abertos. Isto, é claro, dois meses depois de ter dito ao país que a entrada do FMI em Portugal deveria levar à queda do Governo de então. Meros detalhes.
Chegados a maio de 2013, cerca de dois anos volvidos sobre a entrada em Portugal do FMI e a ascensão ao pote de Pedro "ir-além-da-Troika" Passos Coelho, começa a ser claro o rotundo embuste em que alguns cidadãos alinharam em 2011.
E a Renascença aproveitou para fazer umas contas, focando-se nos três principais alvos do XIX Governo Constitucional, nas três grandes "gorduras do Estado" que era necessário mitigar: a Saúde, a Educação e a Segurança Social. O resultado não podia ser mais esclarecedor:
Se dúvidas ainda houvesse, estes números dissipam-nas: a sanha deste Governo contra os mais desprotegidos, o ímpeto para destruir o nosso Estado Social, não surgiram agora com nenhum "relatório da Troika", nem vão principiar com o trágico corte de 4 mil milhões de euros ali defendido (cujo valor exato, ao que parece, já nem é esse). Fazem, isso sim, parte de uma agenda ideológica, mal escondida desde os tempos de campanha eleitoral, que começou a ser introduzida na nossa sociedade no momento em que alguém começou a falar na necessidade de se ir para além da Troika e que encontrou no resultado eleitoral de junho de 2011 a sua luz verde para avançar, mesmo que ninguém tenha sufragado esta transfiguração do Estado.
E termino recorrendo à citação de Passos Coelho: não, de facto não vale a pena estarmos a diabolizar o FMI. Não é o FMI que tem que ser diabolizado quando todo um Governo optou por ir além das medidas inicialmente definidas no memorando. Não é culpa do FMI, nem da Troika, que um Governo tenha achado que o frontloading de medidas de austeridade era solução para alguma coisa. O FMI não tem culpa que o Governo português não queira agora negociar as condições do seu memorando ou que, quando o fez, tenha sido para as tornar mais "ambiciosas", mais baseadas numa austeridade destrutiva de um Estado Social que é de e para todos nós.