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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

30
Ago14

Lamacento

David Crisóstomo

 

 

Habituem-se, que isto mudou”. Mudou, mudou para isto.

António José Seguro decidiu deixar de se anular. Após 3 anos de liderança, tinha chegado a altura de se revelar à população. De revelar o que lhe vai na alma, no espírito, de deixar de se ocultar, de deixar de fingir ser o que não era. Descobrimos que andámos a ouvir um António José Seguro em versão anulada, fingida, contida, falsa. Tínhamos um Secretário-Geral que, aparentemente, em privado era uma pessoa e em público anulava-se para se tornar naquilo a que assistimos. Aquilo que no último escrutínio eleitoral apenas conseguiu levar o seu partido a pouco mais de 30% dos votos, era um Seguro falseado. Após perceber que havia alguém que em público se tinha oferecido para levar o Partido Socialista para uma outra direcção, António José Seguro avisou-nos: agora verão aquilo que verdadeiramente elegeram. Os portugueses iam finalmente conhecer o homem que inúmeras vezes repetia: "Os portugueses conhecem-me".

Saiu-nos isto. Saiu-nos alguém que, quando desafiado para uma disputa interna e eleitoral, indigna-se, repete que "não merecia", que merecia sim, por tanto se ter anulado, ser ele o próximo primeiro-ministro. Que não, não ia sair, não há diretas nem congresso, do Palácio Praia ninguém o tirará. Ao perceber a quantidade de camaradas que estariam a optar por apoiar quem oferecia uma nova visão para o PS, arranjou uma maneira de empatar: criam-se primárias, põe-se de repente todo o país a votar. Ao ganhar noção que uma grande parte do país estaria disposto a votar no seu camarada, não hesitou e, no seu "verdadeiro eu", revelou-se. Revelou o que achava de António Costa e dos que o apoiavam, revelou que achava que os interesses, o tal "partido invisivel" que ele sempre viu, o clã dos corruptos, estava com o presidente da câmara de Lisboa. Ele era puro, ele era contra os a "corte iluminada de Lisboa", contra os "negócios", ele cumpria sempre o que prometia, ele não roubou, com ele podiam contar para tudo e para todo o sempre. Já o outro, não queria debates, tinha medo, queria "o poder" dele, era um "assalto ao poder". Era tudo contra ele. Ele que "trouxe o Partido Socialista da lama cá pra cima".

Mudou para isto, para um populista que para se manter num cargo não hesita em insultar, em difamar os que dele discordam. Que não hesita em envergonhar os seus camaradas, em insinuar o quão uliginoso era alegadamente o seu partido antes da sua salvífica chegada.

 

Nunca o Partido Socialista nos seus 41 anos de existência esteve na "lama". O que infelizmente não significa que não haja quem, mesmo internamente, tente de tudo para conspurcar a sua história. 

 

22
Ago14

É importante "a exigência na prestação de contas", ouvi alguém dizer

David Crisóstomo
Com a divulgação do resultado das eleições europeias e do avanço de António Costa para a liderança do Partido Socialista, António José Seguro fez do seu cavalo de batalha a reforma da lei eleitoral, nomeadamente com as propostas de rever a lei das incompatibilidades dos deputados à Assembleia da República e de tratar da redução dos mesmos. Contudo, em Outubro de 2012, o mesmo António José Seguro prometeu que o PS apresentaria "até ao final do anouma "proposta de alteração da lei eleitoral para a Assembleia da República", que teria como objectivos o de alcançar uma “maior proximidade entre eleitos e eleitores e uma menor dependência dos eleitos face às direcções partidárias” e de “introduzir maior transparência na vida pública e aumentar a exigência na prestação de contas”. E essa proposta tinha claramente como ideal a redução dos representantes eleitos no parlamento português. Todavia, não me lembro e não encontrei qualquer registo de a bancada parlamentar do PS alguma vez ter apresentado tal projecto de "reforma" legislativa em 2012. Ora, como Seguro faz questão de repetir vezes sem conta que "Aquilo que prometo cumpro", só posso concluir que isto é falha minha.
Alguém sabe me informar do paradeiro dessa proposta populista que certamente terá dado entrada na Assembleia da República algures entre Outubro e Dezembro de 2012? Onde está?

 

 

 

21
Ago14

Dos procedimentos normais

David Crisóstomo

"Quanto ao pagamento de quotas por terceiros a militantes, o dirigente nacional desvalorizou, dizendo que esse tipo de pagamento “está tipificado”. E recusou mostrar os comprovativos de pagamento por estar em causa o direito ao “sigilo bancário”", diz Miguel Laranjeiro, o secretário nacional com os pelouros da Organização, Administração e Finanças. Mas camarada, permita-me: não creio que esteja bem a ver gravidade da questão. Percebo que do seu ponto de vista sejam só mais umas quotas que entram para os cofres pagas por outrem (e nalguns casos, pelo além). Mas a mim preocupa-me um outro ponto bem mais grave: no que se percebe da situação presente do PS de Braga, as quotas foram pagas por terceiros totalmente desconhecidos dos militantes em questão e à revelia dos mesmos. Se é relativamente normal haver militantes com quotas pagas por outros cidadãos que não os próprios, é deveras anormal que alguém veja as suas dívidas ao partido pagas por anónimos. Tal situação levanta a questão óbvia, que não vejo apoquentar o ainda secretário nacional: como é que estes "terceiros" desconhecidos dos militantes em causa tiveram acesso aos seus dados de pagamento? Como é que um perfeito estranho consegue aceder e utilizar o número de militante de um filiado no Partido Socialista? É prática comum em Braga as informações sobre os militantes circularem assim por anónimos sem qualquer autorização prévia? Mais que o "direito ao sigilo bancário" de quem obviamente não se preocupou quando quis fazer o que é aparentemente uma "doação anónima", o Miguel Laranjeiro não está preocupado sobre de que forma é que estes estranhos benfeitores puderam ter acesso aos números de militantes em causa? Ou isto é banal e "tipificado"? "Desvaloriza"? Os nossos dados de filiação no PS circulam assim em mãos alheias e o secretário nacional responsável nem uma declaração faz, nem um processo manda abrir? Isto é normal?

 

09
Ago14

duas ou demasiadas coisas

David Crisóstomo

O blogue do Francisco Seixas da Costa é um dos espaços da blogosfera que há mais tempo frequento. Local de histórias curiosas, opinões ponderadas e análises sensatas com que tendo quase sempre a concordar. Dito isto, ontem deparei-me com um post de reflexão sobre a campanha interna do Partido Socialista infelizmente interessante. Interessante por utilizar um argumentário semelhante ao de muitos, mas profundamente equivocado. Em variados aspectos.

 

O ex-secretário de estado começa por relatar que no passado recente tomou conhecimento que havia um segmento populacional da população portuguesa, essencialmente alfacinha (que, numa terminologia que costumo ver mais para os lados da Soeiro Pereira Gomes, identifica como "direita burguesa") , elogioso do trabalho e do carácter do presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Seixas da Costa acrescenta ainda que nas redes sociais "reaças" António Costa era muito apreciado, por oposição a Seguro que era desprezado.

 

Vamos por partes: o embaixador assegura-nos de que "sabe do que fala", como atestado de credibilidade do seu ponto de vista. Não contesto, mas não me chega, até porque a interpretação me parece tortuosa. Não me faz impressão nenhuma que haja cidadãos que se identifiquem como sendo de direita ou "conservadores" e que encontrem méritos e qualidades em António Costa. Ou em António José Seguro. Ou no Jerónimo de Sousa. Pessoas de direita a elogiar candidatos de esquerda e vice-versa não é nenhuma anormalidade deste reino. Que sejam "burgueses", utilizadores de redes sociais e/ou da "boa gente do interior", utilizando uma expressão do atual Secretário Geral do PS, também me é completamente irrelevante. Numa discussão democrática madura, devemos dispensar (ou mesmo rejeitar) a "catalogação" dos cidadãos por estereótipos, alguns deles bem bolorentos. O apoio de um eleitor de Lisboa e de um de, sei lá, Penamacor, deve ser visto e entendido pelo mesmo conjunto de critérios, sob pena de cairmos na arrogância discriminatória de que acusamos o outro lado: um cidadão do interior é necessariamente menos "burguês" que um de Lisboa? Porquê? E que direito tenho eu de julgar um habitante do litoral como sendo obrigatoriamente mais "espertalhão" que aquele que reside em Viseu ou Évora? Este tratamento classicista dos cidadãos pelo seu local de origem não será tão ou mais insultuoso ou primitivo como o outro que queríamos denunciar? Creio que o embaixador concordará comigo neste ponto.

Confesso que no que às "redes sociais reaças" diz respeito, não creio que neste ponto Seixas da Costa saiba do que fala. Não me lembro de alguma vez ter lido textos de blogueres mais à direita que se desfizessem em elogios a António Costa. A titulo de exemplo, é espreitar o segmento de opinião do Observador, que mais à frente no post é dado como "barómetro". Deduzo que o autor tenha feito alguma confusão.

 

Segue-se uma caracterização da caracterização feita frequentemente a António José Seguro, referindo que esta última descrevia o Secretário-Geral do PS como sendo "insuspeito de carisma" e que "dificilmente levaria o PS a parte a alguma, muito menos ao lugar de Passos Coelho". Seixas da Costa refere que este é um olhar "sobranceiro", apesar de não justificar nem refutar a adjectivação. Eu, que não vejo em Seguro nenhuma relevante habilidade carismática nem a capacidade para levar o PS a vencer as próximas eleições legislativas e ter capacidade para formar governo, não entendo porque sou caracterizado como "sobranceiro". Acredito aliás que os últimos dias, as últimas intervenções e entrevistas vieram dar razão a este perfil traçado.

Há ainda uma queixa de que de cada vez que Seguro apresentava uma medida, "a imprensa "desfazia-a" no dia seguinte". Bom, vamos lá ver, a não ser que entremos aqui num complexo santanista de "incubadora", se a imprensa é capaz de desacreditar uma proposta em apenas 24h, então a proposta não devia ser grande coisa, não é? E, bom, sobre a parte de que "quando, um dia, se decidiu a apresentar uma "batelada" delas, então foram medidas a mais", estando a falar do pack das 80 medidas, que entre elas tinham "Defender as funções estruturantes da soberania do Estado" (?), "Estabelecer a necessária articulação entre departamentos do Estado no sentido de assumir posições céleres e comuns em todos os processos em que estão em causa direitos, liberdades e garantias ou a sustentabilidade de empresas e postos de trabalho" (?) "Estabelecer regras claras para a definição, execução, avaliação e controlo das políticas públicas" (?) "Aplicar de forma generalizada práticas preventivas de conflitos de interesse e de corrupção a todos os organismos da função pública" (?) , "Adoção de uma estratégia industrial 4.0” (?) e a "Estação Oceânica Internacional" (???), o problema não era estas serem muito numerosas, é de que, muito fracamente, muitas delas são completamente vagas. Quer dizer, como não criticar um conjunto de 80 "propostas concretas" em que as últimas 5 são Portugal permanecer membro da UE, da CPLP, da ONU, da NATO e ter boas relações com o resto do mundo? 

 

O texto continua com uma análise dos últimos meses. "Vieram as europeias. Em face do seu próprio descalabro, a direita percebeu, num instante, que a potencial alternativa partidária não tinha sequer aproveitado a sua queda.". Interessante é que quando fala do não aproveitamento da derrota da direita parlamentar, o autor está-se a referir ao que aconteceu no pós-25 de Maio e não aos resultados eleitorais que conhecemos nesse dia, onde, com pouco mais de 30% de votação no principal partido da oposição, a direita governamental confirmou um pressentimento partilhado com grande parte da população: apesar da massiva contestação e insatisfação popular, apenas 30% dos eleitores reconheciam no Partido Socialista capacidade para os representar. E ninguém governa com 30%. Aliás, nesse mesmo dia foi dada a conhecer uma sondagem para as legislativas com um resultado que veio mais tarde a ser confirmada por outras subsequentes: o PS empataria ou perderia face ao PSD e CDS-PP.  Face a isto, aconteceu o óbvio (ou que pelo menos assim deveria ser considerado, face aos factos): um "setor do PS que não se conformava com a escassez da vitória" apoiou a disponibilidade revelada por António Costa para alterar uma trajetória politica que poderia (e poderá) ser desastrosa para o Partido Socialista e para o país.

 

Seixas da Costa nota ainda uma alegada e aparente alteração de opinião que aconteceu em certos setores da sociedade sobre António Costa e António José Seguro. E conclui com uma opinião, creio eu ficcionada mas baseada em percepções do autor: "O Costa, se for montada uma boa campanha a acusá-lo de estar ligado ao Sócrates, pode ser que venha a suscitar rejeição no eleitorado. Mas vai ser difícil, porque ele é bastante popular. Já o Seguro, com aquele ar agora um pouco mais determinado, será que vai conseguir dar a volta? Se arranjar coragem para se distanciar abertamente do "Sócras", com o balanço de uma vitória nas primárias e se a economia descarrilar um pouco, pode final ser bem mais perigoso do que pareceu nas europeias.". Este trecho opinativo está bem apanhado e é muito comum.  Revela uma opinião banal, mas deprimente. Uma que acha que "estar ligado" ao anterior primeiro-ministro é uma falha, um defeito, e que o caminho de Seguro deverá ser o distanciamento do passado recente do PS. Isto é, Seguro só "será mais perigoso" para a direita (dado o quão foi até agora, também não seria difícil) se demonstrasse publicamente uma certa vergonha, um desconforto com o legado dos últimos governos socialistas. Ao que parece, Seguro partilha da opinião desta senhora das pulseiras de Seixas da Costa, pois ao longo das últimas semanas, no novo registo do não-anulado, não hesitou em copiar o argumentário utilizado pela direita parlamentar, ou até mesmo a suplantá-la e a ir directamente à fonte que lhes levou ao poder e que trampolinou Marinho Pinto para Estrasburgo: o populismo básico e reles, inspirado em manchetes do Correio da Manhã, que tenta ligar a crise económica e social ao fenómeno da corrupção e da mistura de "política e negócios". Ignorando-se a complexidade dos problemas do país e da Europa, aposta-se no primário, no simples e simplório, no estulto. É fácil utilizar e abusar da carta da corrupção. É fácil dar a entender que se concorda com a visão anti-política, que houve muita trafulhice nos últimos governos e que Seguro, separador da politica e dos negócios, é "diferente" de Sócrates e dos anteriores. É fácil e com certeza dará votos. Seixas da Costa queixa-se do "registo de lota" da campanha. Eu queixo-me e amedronto-me com o registo populista do atual Secretário-Geral do PS. Aceitar e aderir à narrativa da direita sobre a crise, a de que gastámos bué e tínhamos bué direitos e que agora temos que nos disciplinar e austerizar até à medula, já era mau o suficiente. Juntar a isto uma visão baixa do debate politico, uma "nova forma de fazer política" que parece consistir em advogar menos deputados e difamar o adversário até à exaustão para poder vir a colher simpatias junto dos que duma forma salazarenta olham com desprezo e nojo para a politica, assuta-me enquanto democrata e socialista. E a ausência de denúncias e distanciamentos de muitos democratas socialistas assusta-me ainda mais.

 

31
Jul14

A Última Oportunidade

Frederico Francisco

Por muito que António José Seguro diga o contrário, o resultado das eleições europeias deixou claro que o PS não é, aos olhos dos eleitores, uma alternativa credível ao actual governo PSD/CDS. Para mais, o facto de António José Seguro ter classificado este resultado como “uma grande vitória” dá um preocupante sinal de que um resultado semelhante a este nas legislativas do 2015 seria satisfatório para si. Podemos interrogar-nos se o único objectivo do actual líder do PS é chegar a Primeiro-Ministro, independentemente das circunstâncias.

Não há nenhuma razão para acreditar que este PS possa ter um resultado muito diferente nas próximas eleições legislativas, não sendo sequer claro que as conseguisse ganhar. Nessa situação, qualquer cenário viável de governabilidade teria de incluir o PS e o PSD.

Se imaginarmos um governos de “bloco central”, com ou sem CDS, com este PSD e com um PS que não tem sequer um diagnóstico diferente sobre a actual crise que atravessamos, não é difícil concluir que a governação não poderia ser muito diferente, já que continuaria a assentar no pressuposto que foi o “despotismo do passado” que levou Portugal “à beira da bancarrota”. Esta é a principal razão pela qual o PS não foi capaz, até agora, de se apresentar como alternativa polarizadora ao actual governo: tudo o que tem para oferecer é uma espécie de “austeridade fofinha” que não põe em causa a “narrativa” vigente.

É por esta razão que se tornou imprescindível uma clarificação no PS, que só poderia ser obtida com uma disputa pela liderança. Não quero agora discutir se o modelo em que essa disputa se está a realizar é o mais adequado, mas estou convencido que estamos perante uma das últimas oportunidades para o actual sistema partidário, em particular, para os dois grandes partidos portugueses.

O único factor que pode desbloquear a actual situação política e permitir que se abra um novo ciclo significativamente diferente do actual é um PS que se apresente a eleições com a possibilidade credível de obter uma maioria absoluta. A equipa de António José Seguro não mostrou até agora estar em condições de conseguir isso. Pode-se argumentar que António Costa pode também não o conseguir, mas todos os dados (sondagens, opinião publicada, etc.) levam a crer que estará em muito melhores condições para tal.

Não restarão muitas oportunidades para travar o declínio dos dois grandes partidos do nosso regime. Apenas um resultado forte do PS permitirá, não só mudanças significativas na governação, mas também a negociação de acordos à sua esquerda. Só assim poderá o PSD ir para a oposição e iniciar um processo, que será doloroso, de regeneração do partido após esta passagem pelo governo. Mas apenas um PS que seja, de uma forma clara,  programaticamente distinto do PSD poderá conseguir um resultado forte.

Se estas condições falharem, estou convencido que continuarão a crescer as condições que favorecem o aparecimento e crescimento de movimentos políticos de natureza populista ou de franja e ficaremos mais próximos de ter um sistema partidário irreconhecível.

26
Jul14

Responsabilização parlamentar (II)

David Crisóstomo

O Voto n.º 210/XII/3.ª, apresentado pelo Bloco de Esquerda, foi ontem a votação no plenário da Assembleia da República. 

 

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) encontra num dos seus princípios fundadores 'o primado da paz, da democracia, do estado de direito, dos direitos humanos e da justiça social'. Estes valores têm uma exigência inerente a todos os estados membros da CPLP, bem como a todos os estados que pretendam aderir a esta comunidade.

A Guiné Equatorial não é um país que respeite nenhum destes princípios fundadores e a sua admissão na Comunidade de Países de Língua Portuguesa revela uma cedência intolerável. Trocaram-se os valores da defesa dos direitos humanos pelo petróleo e gás natural.

A Guiné Equatorial é governada por um ditador há 35 anos. Teodoro Obiang ascendeu ao poder depois de um golpe de Estado sangrento em 1979. O país é um dos mais corruptos do mundo segundo a Transparency International, figurando na posição 163 entre 177 países analisados.

É um país onde é permitido a Obiang governar por decreto, concentrando nele grande parte do poder de Estado, e onde a pena de morte, ainda que tenha sido suspensa, ainda faz parte do quadro legal.

Não existe liberdade de expressão, nem liberdade de imprensa, como é referenciado por diversas organizações não-governamentais, por exemplo a organização Repórteres sem Fronteiras. Este é, apesar de tudo isto, a partir de dia 23 de julho, um membro de pleno direito da CPLP, contando com a aprovação de Portugal.

É uma aprovação que envergonha Portugal. E nem o facto da Guiné Equatorial ter feito do português a sua terceira língua oficial desvia as atenções do óbvio: na Guiné Equatorial não existe um primado de primado de paz, de democracia, de Estado de direito, de respeito pelos direitos humanos e de justiça social.

Existe, isso sim, petróleo e gás natural, mas não se pode tolerar que isso baste para legitimar um regime opressor de todo um povo.

 

O texto foi lido e submetido a votos. Foi aprovado pela totalidade da bancada do Bloco de Esquerda e rejeitado pelas bancadas do PSD e do CDS-PP. No PS, existiu uma divisão entre os deputados, com apenas metade dos parlamentares socialistas a seguirem o sentido de voto decretado pela direcção da bancada parlamentar.

Na bancada do PS votaram contra o voto de condenação da entrada da Guiné-Equatorial na CPLP os deputados:

Fernando Serrasqueiro
Acácio Pinto
Alberto Martins
António Cardoso
Bravo Nico
Celeste Correia
Elza Pais
Fernando Jesus
Jacinto Serrão
João Paulo Pedrosa
Jorge Fão
Jorge Manuel Gonçalves
Jorge Rodrigues Pereira
José Lello
José Magalhães
Luís Pita Ameixa
Miguel Coelho
Miguel Freitas
Miguel Laranjeiro
Miranda Calha
Mota Andrade
Nuno Sá
Paulo Campos
Maria de Belém Roseira
Marcos Perestrello
Pedro Farmhouse
Ramos Preto
Renato Sampaio
Rui Paulo Figueiredo
Rui Pedro Duarte
Sónia Fertuzinhos
Vitalino Canas
Paulo Pisco
Ivo Oliveira

 

Votaram a favor os deputados socialistas:

Ferro Rodrigues
Jorge Lacão
Alberto Costa
Filipe Neto Brandão
Ana Paula Vitorino
André Figueiredo
Euridice Pereira
João Soares
Rosa Albernaz
Maria Antónia Almeida Santos
Eduardo Cabrita
Gabriela Canavilhas
Idália Serrão
Agostinho Santa
Catarina Marcelino
Isabel Oneto
Luísa Salgueiro
Glória Araújo
João Paulo Correia
Carlos Enes
Sandra Pontedeira
Mário Ruivo
Isabel Santos
Inês de Medeiros
Sérgio Sousa Pinto
João Galamba
Isabel Moreira
Pedro Delgado Alves
Pedro Nuno Santos

 

Os deputados do Partido Comunista Português e do Partido Ecologista "Os Verdes" optaram pela abstenção na condenação da entrada do regime totalitário na Comunidade de Países de Língua Portuguesa. A estes juntaram-se ainda os deputados do PS Vieira da Silva, Pedro Marques, Laurentino Dias e Odete João.

 

Na bancada socialista estiveram ausentes 7 deputados, entre os quais António José Seguro.

 

21
Jul14

Você escolhe em quem vota

David Crisóstomo

 

07/06 - "Leio, indignado, as sondagens do Expresso e do jornal i que dão uma queda brutal ao PS. Este é o resultado da irresponsabilidade do António Costa. Os danos provocados ao PS devido à sua ambição pessoal! Um PS em queda, depois de termos ganho as eleições europeias e do Governo ter chumbado pela terceira vez no Tribunal Constitucional. Lamentável. O PS não merece isto!"

 

28/06 - "Uma coisa é viver no interior outra é olhar para ele a partir das alcatifas vermelhas de Lisboa."

 

06/07 - "Eu sempre assumi o passado do PS, mas não trouxe o passado de volta."

 

07/07 - "(...) precisamos de um Primeiro-Ministro que conheça o país real e não apenas através dos dossiers que chegam aos gabinetes."

 

07/07 - "Há que separar a política dos negócios. E isto não vale só para os outros partidos. Tem também de se aplicar ao PS. A política não pode ser uma porta giratória para o mundo dos negócios."

 

17/07 - "Não estamos aqui por minha responsabilidade. Mas a nossa responsabilidade é encontrar soluções para os problemas que os outros criam, seja no interior do Partido Socialista, seja pelo Governo. Estamos aqui, à altura dos acontecimentos."

 

19/07 - "Não estamos aqui por minha causa. Estamos aqui por Portugal. Precisamos de vós para combater aquilo que certas cortes de Lisboa acham melhor para o País."

 

19/07 - "Esta campanha tem a ver connosco e com o nosso projecto: derrotar a velha política e afirmar a nova política que defendemos."

 

19/07 - "Algo me diz que esta crise interna não é por termos ganho as eleições europeias, mas sim porque poderemos ganhar as legislativas e o poder tornou-se apetecível."

 

20/07 - "Nós não devíamos estar aqui. Nós devíamos estar concentrados a fazer apenas duas coisas: oposição a este governo e prepararmo-nos para governar o país. O PS não merecia isto."

 

ou

 

20/07 - "Eu não direi nada sobre o actual secretário-geral do PS que o diminua se ele no futuro vier a ganhar. Como tenho a esperança que ele tenha sentido de partido para perceber que não deve prosseguir a campanha de ataque pessoal que tem vindo a fazer. Estou aqui para afirmar uma alternativa ao Governo do PSD e CDS. E afirmar qual é a alternativa política que acho mais relevante, que melhor serve os interesses do país e melhor serve o futuro dos portugueses. Quanto à diferenciação entre os dois, confio suficientemente nos eleitores militantes do PS e simpatizantes do PS para destrinçarem as propostas, as pessoas, as opções."

 

 

27
Jun14

Na teoria, é difícil discordar. Mas há quem tente, muito disparatadamente

David Crisóstomo

Não me apetece perder muito tempo com isto, juro que não me apetece, mas este artigo do Daniel Oliveira é, e o autor vai-me perdoar, um perfeito disparate. Deixem-me resumir o ponto que o Daniel faz ali: "O processo das primárias do PS está a ser uma pouca vergonha, não está? Então prontus, aqui é para esquecer, é um horror mata-partidos, mais nenhum alguma vez pegará naquilo". De seguida, para justificar a premissa de que o conceito de primárias é para abolir, escreve umas conclusões tiradas sabe lá Deus donde, dado que não justifica nenhuma. Ora veja, segundo o Daniel, por que são maléficas as primárias:

 

"Porque transformam os partidos em meras federações de eleitores (ahn? qual foi o partido que fez primárias e que se transformou numa "mera federação de eleitores"?), descaracterizam a sua identidade, reduzindo a capacidade de apresentarem aos cidadãos propostas claras que se distingam das de outras forças partidárias (como é? as primárias são más porque, dado o processo da escolha dos candidatos ser feito pelas bases eleitorais, os candidatos têm que se comprometer com projetos e pensamentos próprios? epa, que maldade). Porque desmantelam equipas (ah, isto é uma cena de equipas? e eu a pensar que era uma de "representantes dos cidadãos", silly me), afastam de cargos eletivos pessoas competentes mas menos mediáticas (ai afastam? eu por acaso acho o contrário, dão a oportunidade a cidadãos que de outro modo não teriam alguma hipótese de servir o seu país) e obrigam os eleitos a passar por sucessivos e desgastantes processos eleitorais (eheh, a sério, isto é argumento? epa, bora lá abolir todos os sufrágios pessoal, são uma maçada), tendem a expulsar do sistema quem seja menos dotado para o registo da campanha eleitoral (ou seja, quem de outra forma nunca seria escolhido para representar quem quer que fosse. ora bolas). Porque dão direito de voto a quem não tem qualquer dever para com o partido (isto é tipo o argumento de que só deviam poder votar aqueles que pagam impostos, né?), aligeiram formalismos (oi? quanto muito criam novos formalismos), facilitam golpes (ahahah, ya, sem primárias os golpes ficam muito mais difíceis) e enfraquecem a democracia interna dos partidos (sim, nada torna mais fraca a democracia interna dos partidos do que... democratizar ainda mais a eleição dos seus candidatos). Porque dependem da mobilização de toda a sociedade (ah, pois, isso é mau, não queremos isso), implicam um grau de dramatização que torna a coesão interna, depois de feita a escolha, muito mais difícil (oh brother, já cá faltava o argumento Cavaco Silva, do "consenso" e dos perigos da "crispação"), retirando aos partidos capacidade de integração das divergências (sim, isto das 'divergências' terem que ter legitimidade eleitoral é um aborrecimento).

 

Em resumo: as primárias são más porque o Daniel acha que sim, hoje deu-lhe para isso. Mas o mais surreal daquela prosa que foi há minutos publicada no Expresso é mesmo um dos parágrafos seguintes, onde o autor defende inovações como a das listas abertas ou a possibilidade de cidadãos independentes poderem concorrer a eleições legislativas e europeias e não entende que praticamente tudo o que afirma sobre as eleições primárias poderia também ser dito sobre estas duas ideias. Ou achamos que a possibilidade dos cidadãos poderem concorrer aos parlamentos português e europeu não iria, por exemplo, aumentar a "mediatização dos candidatos"?

 

Que o processo de primárias organizado pelo PS não prima pelo brilhantismo, concordo em absoluto. Mas tal não é devido ao processo, mas sim ao organizador, a direcção do PS, que se socorreu da inovação recentemente testada em Portugal pelo LIVRE para tentar empatar uma demissão que já tarda, arrastando assim a ideia das primárias para o estado decadente em que se encontra.

 

Concordo e defendo a ideia de permitir que os cidadãos, no boletim de voto, passem a ordenar os candidatos de acordo com a sua preferência. Tal como concordo que nenhum cidadão deva depender de uma estrutura partidária para representar os seus eleitores nos parlamentos, nas casas da Democracia. Mas de todas as transformações necessárias para tornar as estruturas politicas mais acessíveis aos cidadãos, a instauração de primárias (abertas) como modelo regular da escolha dos candidatos dos partidos aos diferentes cargos elegíveis parece-me a mais fundamental. O processo das primárias permite retirar o monopólio da escolha dos nossos candidatos a representantes políticos da mão de uma dezena de pessoas que, nos partidos nacionais, "cozinham" as listas. Permite que esse processo passe a estar na mão dos eleitores, dos votantes, daqueles que os candidatos irão representar caso sejam eleitos. E permite, por fim, que o deputado deixe que ter que se preocupar em agradar fundamentalmente a direcções partidárias nacionais ou regionais para poder ser reeleito, e passe unicamente a depender daqueles que o elegeram e que podem, caso entendam, retirar-lhe esse privilégio.

 

O processo que actualmente decorre no PS não matará a ideia das primárias. O Daniel engana-se redondamente se acha que continuamos no "antigamente" politico, onde as listas, as equipas, eram feitas por um punhado de gente, um punhado de funcionários de partido que geriam as tendências da máquina partidária. Esse tempo, em que um candidato ficava desvalorizado por ter que debater as suas ideias, as suas convicções e as suas discordâncias, acabou, é história, ou será brevemente. As primárias serão, a seu tempo, instauradas como modelo de escolha dos candidatos eleitorais na maioria dos partidos portugueses, tal como aconteceu em vários outros países (de que Espanha é o melhor exemplo). Porquê? Ora por uma razão fundamental: as primárias permitem que um cidadão passe a ter a possibilidade de disputar um acto eleitoral devido à legitimidade concedida pelos seus eleitores potenciais e não por alguém numa determinada direcção partidária ter achado que ele seria "competente" para o cargo. E a importância desta mudança suplanta, de longe, qualquer alegado risco de "descaracterização da identidade dos partidos" [francamente...].

 

24
Jun14

Nem traz nenhum futuro

David Crisóstomo

António José Seguro resumiu, mais uma vez, a essência do seu pensamento. “Eu não trago nenhum passado de volta" diz o (ainda) meu Secretário-Geral. Não é preciso perder tempo a discorrer sobre o quão constrangedora é toda esta visão sobre a nossa história recente. Não é preciso perder tempo com quem teima em não merecer. A resposta já foi escrita:

 

"Camarada, tens vergonha da aposta na educação? Tens vergonha do investimento na escola pública? Tens vergonha da requalificação de escolas com a Parque Escolar? Tens vergonha da avaliação dos professores? Tens vergonha do inglês no 1º Ciclo? Tens vergonha dos resultados PISA? Dos resultados a matemática? Tens vergonha das aulas de substituição e apoio aos alunos, do alargamento do horário? Tens vergonha do combate aos subsídios a colégios privados? Da escolaridade obrigatória até aos 18 anos? Tens vergonha da redução do abandono escolar, Camarada?

Camarada, tens vergonha da aposta na ciência? Tens vergonha da subida em flecha da investigação? Tens vergonha do apoio aos nossos cientistas, investigadores e académicos? Tens vergonha da aposta nas universidades? Tens vergonha de ver o MIT com o Técnico? Tens vergonha do computador Magalhães nas escolas primárias? Dos 300 milhões de euros que hoje vendem? Tens vergonha do plano tecnológico? Da cobertura de banda larga?  Tens vergonha dos computadores portáteis para estudantes, Camarada?

Camarada, tens vergonha das reformas feitas no estado? Tens vergonha do programa Simplex, da empresa na hora? Da entrega do IRS pela internet? Tens vergonha do Cartão do Cidadão? Do fim dos subsídios vitalícios aos deputados? Da reforma da Segurança Social? Tens vergonha do código contributivo, dos serviços públicos electrónicos? Da redução das pobreza e desigualdades? Tens vergonha do Complemento Solidário para Idosos, Camarada?

Camarada, tens vergonha das medidas na economia? Do défice de 3% antes da depressão? Das medidas contra-cíclicas para a combater? Das linhas de crédito às PME? Do aumento do salário mínimo? Tens vergonha das infraestruturas? Da rede ferroviária? Do projecto TGV apoiado pela UE? Do novo aeroporto? Tens vergonha do crescimento da economia logo em 2010? Tens vergonha do investimento público, Camarada?

Camarada, tens vergonha da aposta na saúde? Tens vergonha do Hospital de Cascais? Do Hospital de Braga, do de Loures, do da Guarda? Tens vergonha do Hospital pediátrico de Coimbra? Do Hospital de Lamego? Tens vergonha da despenalização do aborto? Tens vergonha da rede de cuidados continuados, Camarada?

Camarada, tens vergonha das Novas Oportunidades? Da requalificação da economia e aposta em tecnologia? Tens vergonha das energias renováveis? Do carro eléctrico? Da rede de postos de carregamento? Tens vergonha da fábrica de baterias da Nissan que este governo deitou pela janela fora? Tens vergonha da fábrica da Embraer em Évora? Da nova refinaria da GALP? Tens vergonha do investimento da Portucel que esteve para ir para a Alemanha? Da expansão do Porto de Sines? Tens vergonha do aumento das exportações, Camarada?

Camarada, tens vergonha do anterior governo PS? Tens vergonha do que o teus camaradas de partido fizeram, daquilo por que se bateram? Tens vergonha dos nossos sucessos, dos nossos insucessos, das nossas apostas ganhas e das nossas apostas perdidas? Tens vergonha quando te chamam Socialista, quando te apontam o dedo e te dizem que faliste o país? Tens vergonha da tua própria história? Tens vergonha, camarada?

 

Então vota no António José Seguro."

 

Vega9000

 

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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