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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

18
Mai13

Caminhos da esquerda

Pedro Figueiredo
Se duvidas restassem ao secretário-geral do Partido Socialista quanto ao caminho a trilhar para poder apresentar uma solução que possa realmente convencer os portugueses que há, de facto, diferenças entre as suas ideias e as do actual executivo, o histórico fundador do PS dissipou-as.

Mário Soares, segundo noticia hoje o Expresso [edição papel], vai organizar uma mega reunião da esquerda, com a participação do PS, PCP e BE, bem como da UGT e da CGTP – representadas pelos respectivos líderes –, subordinada ao tema «Libertar Portugal da Austeridade». O antigo Presidente da República requereu aos três partidos um representante, embora com a premissa que cada participante assuma com liberdade o que pensa sobre o assunto, isto é, sem visões partidárias.

A sessão pública será presidida por Sampaio da Nóvoa e contará com as presenças já confirmadas de Pacheco Pereira, Manuel Alegre, Alberto Costa, Ana Drago, Pilar del Rio e Boaventura Sousa Santos que, na última edição do Congresso Democrático das Alternativas, já se havia referido à actual situação do país como um período de brutalismo político, o qual deveria ser combatido pela mesma via.

É o mote para uma viragem à esquerda, já pedida por alguns sectores do próprio PS no último congresso em Santa Maria da Feira, e que acaba por ser dado pela figura mais respeitada e ouvida no Largo do Rato.

A reunião será no próximo dia 30, em local a anunciar.
25
Mar13

(Não) Jogar no terreno da direita. Afirmar uma alternativa.

Cláudio Carvalho

A grande vitória da direita lusa ocorreu quando, perante os cidadãos do país europeu mais desigual da OCDE, conseguiu evangelizar a classe média e a classe baixa com a ladainha de que "vivemos acima das possibilidades".

Venceu quando começou a extrapolar demagogicamente casos particulares para ficcionar um determinado contexto sociocultural, como são exemplos os recursos abusivos e hostis aos ditos, pela direita nacional, “malandros do rendimento mínimo”. Quando convenceu alguns de que a responsabilização é "dicotómica de" ou "suprema a" um patamar mínimo de proteção social e que a punição é prioritária à reabilitação. Quando convenceu outros de que a caridade substitui eficientemente a segurança social. Saiu gloriosa quando enraizou, sem qualquer pudor, a tese hipótese de que a classe baixa tem um padrão de consumo mais propenso à importação do que a classe alta; que comer bife é hábito de rico. Triunfa quando vinca, no seu timbre clerical, que é nobre ter-se respeitinho pela ordem social, ser-se obediente ao Estado e, sobretudo, ser-se indefetivelmente leal ao sistema tributário para continuar a alimentar os sucessivos erros de planeamento estratégico e financeiro dos executivos. Levou de vencida, quando instituiu como natural a desigualdade e a falta de igualdade de oportunidades e de mobilidade social mas, também, quando fez esquecer que não há liberdade sem liberdade económica.

É neste novo “terreno” que as esquerdas recetivas à economia de mercado – não só na vertente partidária, como em movimentos culturais, sindicatos, correntes de opinião, etc. - têm de “jogar”, transfigurando-o, se quiserem vencer politicamente. Não querendo elaborar apologias deterministas, as esquerdas devem rejeitar o argumentário supra exposto de cariz hobbesiano e que procura bipolarizar a sociedade (i.e. gerações e classes). Devem afirmar-se como alternativa, aprender com os erros do passado e não entrar no discurso tático de apontar nuances de posicionamento que pouco impacto têm, no panorama macroeconómico e social, a longo prazo. Talvez resida aqui a atual grande descrença da esquerda sociológica na esquerda política – incluindo, o parco distanciamento entre a esquerda e a direita nas sondagens - e é, neste vetor, que alguns responsáveis da esquerda política deveriam fazer ajustes de discurso e de opções políticas. Primeiro, é preciso afirmar e personificar uma estratégia social e cultural diferente, para depois vencer politicamente. 

23
Fev13

Cala-te. Está Calado.

David Crisóstomo

 

Houve uma greve geral no dia 14 de Novembro. A greve corria com grande êxito de Santa Cruz das Flores a Santo Aleixo da Restauração. O remate final dessa greve foi uma marcha de protesto que culminou naquele pedacinho apertado de calçada portuguesa em frente à escadaria da Assembleia da República. Esse protesto final, convocado pela CGTP, estava finalizado por volta das 16h30. Os sindicalistas arrumavam as faixas e os microfones e Arménio Carlos retirava-se após o que tinha sido, sem dúvida, mais uma 'greve histórica'. Contudo, os meios de imprensa começaram a notar que certos manifestantes não arredavam pé do final da nobre escadaria. Passados uns minutos começou o evento que iria marcar o dia: uma amostra desses manifestantes começou a escavacar esse mini-passeio onde a magna-escadaria concluía e iniciou-se uma série de bombardeamentos às forças policiais que ali estavam estacionadas. Todos sabemos como isso acabou. 

 

Socorro-me deste episódio do passado altamente recente com intuito de questionar: quem defendia que a policia não devia ter sofrido aquele apedrejamento, quem criticou aquela mão cheia de vândalos revoltados, estava a defender o Governo? Quem censurasse aquela matilha que não sente remorsos em pegar num calhau de calcário e atirá-lo à cabeça dum outro ser humano, estava a atacar a manifestação que horas antes ali tinha estado? Estava a atacar a greve geral? Se afirmarmos que o comportamento das bestas que ali estavam com o objectivo de partir crânios foi nojento e revoltante, estaremos então, por lógica barata, a defender o Governo e seus ilustres membros? Quem tem repulsa pelo canhoneio a policias que defendem o parlamento português, está a aprovar Relvas?

 

Recordo estas questões face ao tumulto de opiniões que têm por estes dias polvilhado a sociedade face aos acontecimentos da passada terça-feira no ISCTE, envolvendo a douta criatura que dá pelo nome de Miguel Relvas. Acontece que, passado o período de reacções ao sucedido, chegámos à fase onde três correntes de opinião se formaram: 1) quem acha que o que se passou foi uma manifestação legitima, justa e apropriada ao grau de repulsa que tal fulano causa nas pessoas com neurónios; 2) quem, tendo nojeira por todos os actos passados do Dr. Relvas, tem dúvidas ou manifesta oposição à forma de protesto escolhida naquela tarde; 3) quem acha que tudo aquilo foi um golpe d'estado onde o estimadíssimo Ministro Adjunto, dos Assuntos Parlamentares & Outros Assuntos viu a sua imaculada honra atacada por um bando de assessores do PCP, do BE e sabe lá Deus nosso-senhor donde. Ignorando esta última (também é pouca gente, deixem lá), ficamos com duas opiniões que, partilhando do mesmo desprezo pelo mestre da simplicidade da busca pelo conhecimento permanente, discordam na aprovação total do que se passou naquela faculdade pública, estando na base dessa discordância a violência (verbal, que não foi física por centímetros) utilizada e a limitação do direito à liberdade de expressão do vil ser. E numa sociedade evoluída ficar-se-ia por aqui, com um debate de ideias e argumentos respeitoso e maduro. Há discordâncias, pronto, olhem, c'est la vie. 

 

Todavia, não é isso que se tem passado. A fação que defende que aquilo foi lindo, genial, de aplaudir, dedicou-se nos últimos dias a atacar quem dela discorda. A argumentação basicamente tem sido um 'badamerda, relvistas, salazarentos, mansos, betinhos de direita, vocês são mazé contra o direito à manifestação, pró-troika,  pró-pacto de agressão, vocês morrem d'amores pelo governo que a gente já vos topou!' ou qualquer coisa deste género. Basta um passeio pelas redes sociais da 'verdadeira esquerda' para vermos como é que a coisa funciona: ou se está ao lado deles em tudo e de toda a forma, ou temos fotos do Passos Coelho escondidas debaixo da almofada. É um mundo simples. É um mundo onde toda a outra argumentação, todo o outro pensamento critico oposto é rotulado como sendo 'contra o povo' - mesmo que essa argumentação se possa basear em valores tão universais como a liberdade de expressão, o direito à integridade física e moral, à igualdade perante a lei, etc... 'Ou estás comigo, ou és meu inimigo' é basicamente o motto. Fascistas e sonsos são aqueles que não estão com eles. 

 

É difícil não entender o ridículo e o deplorável deste tipo de raciocínio. Baseiam-se em falácias e pensamentos fechados infantis, onde pode-se atacar sem pudor aquele de quem desgostamos/discordamos/desprezamos porque sim, porque tem que ser. Este desconforto com o debate, com a pluralidade de opiniões (e não a dualidade que teimam em querer vender) revela-nos o estado ainda precoce de desenvolvimento da cultura democrática em Portugal, onde a mera divergência é tratada como um ataque directo e personalizado à base de valores fundamentais. Tudo é justificável, desde que seja feito em prol dos 'verdadeiros ideais'. Se for necessário o silenciamento, que se silencie. Se for necessário o ataque verbal e psicológico, que se o faça. Se for necessária a violência física, avante. Se for necessário partir a cara de todo o cidadão que esteja no seu caminho, siga. Se for necessário o apedrejamento, é um mal necessário, pois a revolução não pode esperar. Relvas é Relvas por alguma razão, pois nesta sociedade floresceu. 

 

Camaradas, moderem-se, pensem um pouco no que dizem, a quem dizem, como dizem. Formalmente, (ainda) vivemos em democracia e num estado de direito. Há pessoal que discorde de vocês? Paciência, amanhem-se. Ou argumentem como gente crescida.

 

 

Post-scriptum - antes que me venham, como de costume, acusar de gostar muito do Relvas e das suas boas-companhias, deixo aqui claro que me revejo na opinião do Porfírio Silva e recomendo a leitura da posição do José Manuel Leite Viegas. Boa noite.


«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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