Uma das críticas que se costuma fazer ao programa "Impulso Jovem" é o facto dos estagiários serem supostamente pagos a "preço de saldo". Esta crítica é, principalmente, da responsabilidade de pessoas afetas à esquerda, nomeadamente ao Partido Socialista. Ora, as remunerações dos estágios ao abrigo do programa em causa estão alinhadas com a Portaria nº 92/2011, de 28 de fevereiro, sucessivamente alterada pelas Portarias n.º 309/2012, de 9 de outubro, n.º 3-B/2013, de 4 de janeiro e n.º 120/2013, de 26 de março que regula o Programa de Estágios Profissionais. Portanto, estas alterações foram introduzidas por um governo socialista.A anterior Portaria (n.º 129/2009) vinculava ao pagamento de 838,44€/mês por estagiário com o grau de licenciado, mestre ou doutor. Agora, o valor ilíquido, para a mesma categoria, é igual a 691,71€/mês.
Custa-me, particularmente, ler e ouvir, hoje, certas pessoas que, no passado, calaram, hipocritamente, perante esta redução abrupta de 17,5%. Perante sucessivos alertas, criticavam ou calavam. Hoje, o cenário político é diferente e tudo serve para "arma de arremesso". Memória curta, portanto. É lamentável.
«É um mito muito grande as pessoas dizerem que não há trabalho.»
«Nós temos identificados os principais motivos pelos quais as pessoas estão desempregadas. (...) O primeiro é o de pessoas que não pensam bem o mercado, que têm um erro de análise tremendo. São pessoas de direitos que se esquecem dos seus deveres e esperam que as empresas as convidem a juntar a elas. Estão permanentemente à espera que os outros lhes resolvam o problema. Isto acontece, não é um mito, é real. Tenho a caixa de correio cheia de exemplos destes. Depois, tens pessoas que se formaram numa área que neste momento desapareceu. Supõe, engenheiros civis, professores de português-alemão, professores de história. Pessoas que vendem um produto no mercado e que não têm absorção. Estás a vender uma televisão a preto e branco quando o mercado compra televisões a cores.»
«Não considero que o problema é teu, considero que a solução é tua. É muito diferente. Eu não considero que o problema do desemprego é dos desempregados, estou a dizer é que a solução para o desemprego é dos desempregados. Essa é que é a grande diferença. E, se calhar, pode chocar dizer isto, mas muitos dos que estão desempregados, estão desempregados porque, ponto número um, não querem trabalhar e, ponto número dois, são maus a fazê-lo.»
«De repente, sempre que falamos de desemprego, parece que nos esquecemos dos fenómenos das pessoas que vão às empresas pedir para carimbar no IEFP. Essas pessoas existem e são as milhares.»
«Percebo que as pessoas olhem para mim e digam: “Este tipo não é sensato. Está a dizer que os desempregados estão sem trabalho porque querem”. Não é isso que eu digo. Digo que muitos estão desempregados porque querem, outros porque não querem trabalhar, outros porque não sabem o que é preciso para trabalhar, outros porque têm muito talento mas não sabem mostrar ao mercado que têm talento.»
«Nas universidades, o que vês é que as pessoas estão com muito medo, porque vêem demasiada televisão.»
As alarvidades podem ser todas lidas, in loco, aqui http://www.ionline.pt/portugal/miguel-goncalves-ha-muita-gente-portugal-nao-trabalha-porque-nao-quer. Confesso que perdi toda e qualquer vontade de defender o que quer que seja proferido por este indivíduo. Nem vale a pena, perder muito tempo a desconstruir o pobre argumentário de conversas de tasco a transbordarem para os jornais. Estou francamente cansado desta gentalha. Pim!
Quanto a isto, apesar de já ter escrito ontem, vale a pena reiterar que me sinto na zona equatorial entre dois lados, diria dois polos: entre o polo do grupo que aglomera os risíveis contorcionistas que procuram desculpabilizar - da forma mais disparatada possível - as infelizes declarações proferidas pelo Miguel Gonçalves e os fanáticos do utilitarismo, do racionalismo ao absurdo e do individualismo metodológico e o polo do outro grupo que congrega os que negam qualquer ponta de influência positiva do individualismo - alguns parecem mesmo querer ignorar a sua associação biológica -, os que convivem bem com um certo imobilismo e oportunismo do meio académico e com o corporativismo de algumas classes profissionais. Aqui, darei o desconto àqueles que, de um polo ou de outro, procuram capitalizar a discussão partidariamente ou que têm apenas “tiradas infelizes”, por exemplo, trazendo para a discussão a pessoa de Relvas. Isso não interessa para o caso e só ridiculariza automaticamente a crítica do próprio emissor.
Se é verdade que concordo com a crítica ao discurso exacerbado à volta do empreendedorismo, da responsabilização individual e do utilitarismo e, ainda, se me preocupa os que se aproveitam indignamente da "especulação" à volta da promoção do autoemprego, também me revolta o discurso extremado da socialização de todas as responsabilidades, a distorção oportunista do empreendedorismo, esquecendo que este assume várias formas para lá da criação do próprio emprego e confesso-me desiludido por subsistir uma certa visão socialmente conservadora, imobilista, e ausente de qualquer sensibilidade pragmática para procurar resolver problemas socioeconómicos e institucionais concretos (faz-me lembrar isto).
Não me vai ser fácil escrever sobre o vendedor de pipocas Miguel Gonçalves (MG). Cada vez que ouço alguém falar dele, vem-me sistematicamente à cabeça uma expressão de Max Weber : “especialistas sem espírito”. MG é a vacuidade e a liquidificação de tudo o que pode ser mais corpóreo, mais consistente, mais coriáceo. Tudo o que não seja superficial, tudo o que não seja rápido, não tem valor. Só há um valor: o valor de mercado. A mercantilização do eu.
Hoje atingiu um novo mínimo histórico: convidado por um Ministro de Estado de um Governo eleito, que detém nas suas mãos a minha vida, a nossa vida, a vida do Miguel - ele responde do alto da sua inocuidade: “eu não percebo nada de política”. E só faltou verbalizar: “nem quero saber”. (Descontemos o facto de o Ministro em causa ser Miguel Relvas. É um Ministro de Estado, ponto).
E esta, para mim, foi a última gota. Porque é de uma irresponsabilidade enorme alguém que tanto tem visto abertas as portas de instituições de ensino superior, para falar aos seus rebanhos sobre como ‘bater punho’ é um estilo de vida tão super-hiper-mega-uau, tenha o desplante de afirmar isto.
E, assim sendo, aqui vai o porquê de considerar Miguel Gonçalves não apenas uma vacuidade idiota, mas também o representante de uma ideologia que hei-de combater com todas as minhas forças enquanto andar pelo Ensino Superior.
Talvez seja o modo de Seguro responder ao repto de António Costa, unindo o partido. Mas unindo na mediocridade e em laivos ideológicos pouco condizentes com os pergaminhos do Partido Socialista.
Estará o PS a fazer de propósito para não ganhar Câmaras Municipais, colocando jarretes destes como candidatos a Câmaras historicamente relevantes? Se não é de propósito, parece.
Adenda:
Durante a tarde, vi o comentário de Manuel Pizarro na página facebook da Jugular Ana Matos Pires:
Folgo em ver que Manuel Pizarro está preocupado com a classificação das suas propostas políticas, mas deixo uma pergunta que não vi esclarecida: O dinheiro que o Estado gasta em RSI vem da Segurança Social. Como planeia Pizarro articular esse dinheiro 'central' com o dinheiro que a Câmara Municipal possa gastar (saberá qual é o montante em causa), i.e., de forma local? E como é que isso depende da esfera de acção de um Presidente da Câmara?
(E o que faz com a empresa que agora presta os serviços? Paga indemnização? Alega incumprimento? ...)
De repente, do discurso do empreendedorismo, fez-se luz. Tomando o memorando da Troika como o programa necessário à inevitável redução do défice - o Governo pode queixar-se que está de mãos atadas, mas na verdade encontrou o álibi perfeito para a implementação das políticas que tinha perfeitamente delineadas e que escondeu na campanha eleitoral -, houve desde logo uma consequência que nunca foi ocultada, pelo contrário, até assumida, embora com o pudor exigido na altura: é que o desemprego ia disparar.
Pode o número ter galgado para um patamar que nem o próprio executivo fazia prever. No entanto, o cenário foi mais ou menos preparado e daí o discurso do empreendedorismo... e mais ridículo, o da emigração. Passos Coelho, quando se referiu ao desemprego como uma oportunidade, estava a imaginar não um grupo de pessoas que tinha acabado de ficar sem trabalho, mas uma mole humana de empreendedores que, de um dia para o outro, ia trabalhar na maravilha do auto-emprego. Ser patrão de si próprio ou, melhor ainda, gerar emprego para outros.
Quase dois anos depois de ser eleito, o Primeiro-ministro deve estar muito desiludido com os portugueses. Não são os empreendedores que esperava que fossem. São, isso sim, apenas mais um peso para o Estado Social que tanto quer refundar e acabar de vez com esse pão para malucos que só por terem ficado desempregados não sabem o que fazer da vida. Sabem é viver à sombra dos que ainda produzem riqueza, que já é tão pouca.
Numa abordagem esquizofrénica da questão, não foram as políticas do Governo que falharam. Foram os portugueses que não as souberam interpretar. Aproveitar. Dar-lhes corpo. Não se entregaram de alma a este novo desígnio nacional: empobrecermos para se ser competitivo. O plano era genial. Pena é que as pessoas a quem se destinam essas políticas não estejam de acordo com o caminho seguido. E se houve lição a tirar - dito até por comentadores insuspeitos - da manifestação de 2 de Março, é que o silêncio com que se saiu à rua não pode deixar de ser ouvido.
A notícia de Ernest Moniz, norte-americano luso-descendente nomeado por Obama para secretário de Estado da Energia, apareceu em todo o lado. A comunidade portuguesa nos Estados Unidos ficou muito satisfeita. Acredito e é justo. Mas fiquei a pensar: deve haver muita gente no Governo que terá vontade de vir a público dizer Estão a ver? Emigrar tem as suas recompensas!