Processo de refundação em curso
Os novos hábitos desta governação continuam a fazer-me alguma impressão.
Marques Mendes, que recentemente parece ter adquirido o estatuto de proclamador oficial das novidades do Governo ao povo, comunicou-nos que o FMI e o Governo já estão a preparar a reforma do Estado (ou “refundação”, na sempre inovadora linguística de Passos Coelho).
No passado, qualquer indício, mesmo que infundado, sobre algo deste género granjeava aos governantes de então epítetos de “traidores da Pátria” para baixo, mas isso agora parece não interessar para nada – o que interessa é refundar a gosto. O Presidente (ausente), as instituições democráticas e as eleições que se lixem.
A transparência transformou-se num verbo-de-encher. Alguém está a negociar algo, mas ninguém sabe a não ser um opinador de ocasião com acesso a informação privilegiada do Governo sem que dele faça parte. O como e o porquê deste livre-trânsito de Marques Mendes (entre outros) a estes dados são questões que me incomodam tanto como o facto de o cidadão comum não ter acesso a estas informações pelas vias oficiais.
De todo o modo, face a esta informação (entretanto confirmada pelo Governo) e ao mesmo tempo que se insulta o PS e se distorce a história recente atribuindo-lhe responsabilidades exclusivas sobre a situação atual, apelar aos socialistas para participar nesta malabarice já em curso só pode ser visto como um insulto à inteligência.