Governo de Esquerdas - o primeiro obstáculo é Seguro
Diz Pedro Nuno Santos, do Partido Socialista, numa entrevista ao jornal i:
A visão em relação ao Bloco de Esquerda tem diferentes tonalidades: "Vejo com muita esperança as declarações de António José Seguro à saída da reunião com o Bloco de Esquerda. É uma esperança para os portugueses, que precisam de uma mudança política sem a direita. O PS está a dar mostras de que quer construir uma alternativa política."
As questões que Pedro Nuno Santos levanta, de desenho concreto (haja alguém que dentro do PS fale de modo concreto), são realmente sensíveis. Porém, passa ao lado do óbvio. Sim, qualquer esperança de ética de responsabilidade por parte do PCP é para cair em saco roto. É um partido cristalizado, centrado matricialmente na perspectiva de ser oposição, nunca governo. Não tem configuração genética para tomar decisões. E talvez (diria que é uma aposta ovo kinder) a relação com o Bloco de Esquerda possa ser diferente.
Mas, como dizia, passa ao lado do óbvio: a liderança do Partido Socialista.
António José Seguro (por muito que seja notória a preocupação de Pedro Nuno Santos em poupá-lo), é, efectivamente um líder fraco, sem chama, sem conteúdo, sem capacidade mobilizadora. Nem o próprio partido Seguro consegue mobilizar (a blindagem dos estatutos fala por si sobre a sua receosa forma de estar). Depois da gestão ruinosa destes 2 anos, com a insatisfação dos portugueses a níveis históricos, o PS não capitaliza nas sondagens. Nem sequer dá mostras de que isso possa acontecer no futuro. Facil: Seguro é em 2013 o Pedro Passos Coelho de 2011. Forjado nas jotas, com ar benigno e de copinho de leite em riste. A dizer "isto não fazemos", mas sem dizer como faria nem porquê. Titubeando. Titubeante.
E é este o líder da oposição que temos por responsabilidade dos próprios militantes do PS, que perante a ameaça de avanço de António Costa, tremeram com a possibilidade de haver alterações às listas para as eleições autárquicas. Os militantes do PS escolheram primeiro as autárquicas, depois o país. O que também diz muito dos seus objectivos e da mundividência do sustentáculo do Partido Socialista. E, convenientemente, Seguro deixou a proposta que preconizava a eleição do líder do PS aberta a simpatizantes a marinar. António Costa, por seu lado, ficou electus interrompidus, num inenarrável, primário e imaturo movimento para quem está há tanto tempo na política.
É, uma coligação à esquerda é terreno minado. Mas talvez não fosse mau de todo a liderança do PS começar a achar que é, ela próprio, neste momento, também um obstáculo ao desejável governo de esquerdas. Esperemos que o momento "pá de porco" das Autárquicas passe rápido para que os socialistas, sentados confortavelmente nos seus pavilhões gimnodesportivos e nas suas rotundas, possam agora concentrar a sua atenção no governo deste país na desgraça plantada.