Farewell
A Helena Matos é uma querida. Andava eu a querer saber quais tinham sido os deputados do PS que se tinham abstido no 'voto de pesar' pela morte da ex-primeira-ministra britânica e deparo-me com o video da votação no blogue da bovinidade. Já vos disse que ela é uma querida? Deus lhe pague. Vejam vejam:
O voto de pesar pelo falecimento de Margaret Thatcher foi proposto pelo CDS e pelo PSD, que ficaram muito abalados com isto. O BE, o PCP e PEV votaram contra. E a maior parte do PS decidiu votar a favor, mas com uma declaração de voto onde diz que se dissocia dos considerandos do voto que tinha acabado de aprovar (enfim). Houve todavia 13 deputados do PS que se abstiveram: Duarte Cordeiro, Isabel Moreira, Pedro Delgado Alves, Pedro Nuno Santos, Ana Paula Vitorino, António Serrano, João Galamba, Rui Santos, Idália Serrão, Mário Ruivo, Paulo Pisco e Carlos Enes. E a Helena Matos está chateadíssima com eles por não se terem vestido de preto e encharcado lenços brancos com lágrimas amargas. Pois nunca se pode ser contra ou indiferente a votos de pesar - tem-se sempre que aprovar de forma sentida e emocionada. Se alguém apresentar um voto de pesar pela morte do Kim Jong-un? Aprove-se! E se alguém apresentar pela de Bashar Al-Assad? Aprove-se! Omar al-Bashir? Aprove-se! Robert Mugabe? Aprove-se! Alexander Lukashenko? Aprove-se! You get a vote, you get a vote, everybody gets a vote!
Nunca entendi esta mania dos deputados da Assembleia da República de transformar o órgão legislativo numa agência funerária momentânea aquando da morte de alguém assim, digamos, 'importante'. Não está nas competências do parlamento português pronunciar-se sobre a morte ou o nascimento de alguém. Os parlamentares não devem ser especialmente sensíveis a mortes, sejam elas de quem forem, sob pena de estarem a discriminar cidadãos - os 'importantes', para os quais o parlamento manifesta um voto de pesar na altura do seu falecimento, e os outros. Mas, pronto, admitindo que é, de qualquer modo, uma tradição parlamentar fazê-lo, ao menos que tal iniciativa esteja exclusivamente reservada a casos de altas individualidades públicas (ex-presidentes da república, ex-primeiros-ministros, figuras nacionais da história cotemporânea, ...). E sabe quantos votos de pesar é que já foram apresentados desde o inicio desta legislatura? 69.
Não conheci Margaret Thatcher e suspeito que a esmagadora maioria dos deputados da AR também não. Não a tendo conhecido, a sua morte é algo que me causa indiferença. Não gostava da senhora por discordâncias políticas e pelo seu papel em certas circunstâncias da história recente - mas é só isso. Não sendo o meu atrito com a senhora algo de pessoal, não vou festejar a sua morte. Mas também não me peçam para encarnar uma mágoa que não é minha. O luto é algo de pessoal. E a Assembleia da República não deve legislar ou manifestar-se sobre matérias do foro pessoal dos cidadãos. A Helena Matos indignou-se com a abstenção dos 13 deputados do PS. Eu aplaudo, pois é exatamente daquela forma que eu me comportaria: com indiferença. A morte da senhora não me diz respeito.