"Onde o antigo PM disse que não tem culpas no descalabro do país"
Esta introdução, no Jornal da Noite da SIC no day after à entrevista de Sócrates na RTP, junta-se ao coro de comentários cujo denominador comum é este: igual a si próprio, a besta negra nunca reconhece culpas próprias.
Ora, eu não sei se todos vimos a mesma entrevista, mas aqui vão excertos da entrevista do ex-PM:
"Não digo nenhuma responsabilidade, a nossa gestão da crise teve as suas consequências e nós procuramos fazer face a elas"
"Todos os políticos cometem erros"
"Aceito as responsabilidades que tenho e não aquelas que me querem atribuir à força (...) as responsabilidades de comandar uma governação que pretendeu fazer face à crise"
"Se reconheço que há dimensão nacional? Claro que há, existem debilidades estruturais, passei 6 anos a tentar combatê-las"
Eu não sei muito bem qual era a expectativa, mas isto é admitir erros. Talvez a esperança do colectivo nacional fosse uma coisa à Egas Moniz, uma corda ao pescoço em vez da gravata azul bebé. Ou algo como fez Guterres recentemente. Imagino que se sacrificassem borregos aos deuses se Sócrates fizesse uma declaração deste tipo, um feriado nacional é que vinha a calhar.
Mas qual é a novidade? Com Sócrates sempre foi assim, de faca nos dentes. Podia ter ganho com maioria absoluta as eleições de 2009 caso esta forma de ser PM previsse o taticismo político de não abdicar de Maria de Lurdes Rodrigues. Foram os professores que retiraram a maioria absoluta ao PS. E convenhamos: quem governa de faca nos dentes tem parcas possibilidades de estabelecer pontes suficientes para aguentar um governo de maioria simples. Afinal de contas, o principal factor identificado por Sócrates para a falência do plano.