A Palavra de José Sócrates
Quando escolhe as primeiras frases e justifica o seu regresso, José Sócrates, destemido, sublinha a importância do tempo:
“É tempo de tomar de palavra”.
A citação, que poderá revisitar Eclesiastes e que se transporta para além da formulação, assume evidente sinal de aviso para “essa gente”.
É um regresso que assusta e faz tremer lá fora. E só lá fora.
Há, agora, outra rocha, que quer e que vai impedir a propagação do tal buraco que se escava. Há, agora, outra rocha, que quer e que vai impedir o alargamento do fosso.
Mas, revisitando de novo Eclesiastes, José Sócrates faz-nos regressar a III a.C. e à família dos Tobíadas, que controlava então a política interna e externa, a economia e o comércio.
José Sócrates, entre metáforas, desmonta - ancorando-se no exemplo da Palestina, então colónia da dinastia dos Ptolomeus - a estrutura social injusta, mas que se dizia justa. A estrutura social que se dizia vítima de crimes passados, mas que mais não era do que vítima dos crimes presentes e que serão julgados no futuro. No curto futuro.
Mas, mais, José Sócrates lembra novamente Eclesiastes e convida a destruir – a tal mão que se esconde no arbusto.
E, depois, convida a uma construção.
E quando convida à construção, quando desmonta a narrativa, quando se revê em Eclesiastes e quando ensina porque trilhou aqueles caminhos e explica agora os outros, José Sócrates aponta para o futuro:
“Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?”.