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Sem antídoto conhecido.

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24
Mar13

Sacrifício de todos

Pedro Figueiredo

Foto de Paulo Henriques do Fotografia, Sempre!!!


Desde cedo que a expressão 'sacrifício para todos' me fez confusão. Não pelo espírito, mas pela letra. Por mais que possa lembrar alguém que gosta de trocar os des pelos das, ou até por puro preciosismo meu, soa-me melhor 'sacrifício de todos'. Sacrifício que nunca esteve em causa. Aliás, uma das vantagens que se apontava ao novo governo quando tomou posse era que, pelo menos, os portugueses sabiam que vinha por aí um mau bocado que exigia sacrifício. E veio. Só que o ser mau bocado não implicava torná-lo ainda pior.


 

Já deixou de estar em causa o facto do país ter ido pedir dinheiro a uma autêntica empresa financeira à escala planetária para pagar a conta do cartão de crédito. A decisão foi tomada segundo os cânones tradicionais numa situação destas embora, neste caso, um dos accionistas dessa empresas financeira até é o banco do qual a Europa está dependente. Outros "clientes" europeus na mesma situação foram bater à mesma porta. O problema começou logo por se chamar ao empréstimo concedido um resgate financeiro.


Dirão os mais conservadores que foi exactamente disso que se tratou. Não havia dinheiro. Foi mesmo um resgate. Uma salvação. Com juros, mas uma salvação. Juros que estão a asfixiar cada vez o país. Neste caso, os países. No entanto, com o mal dos outros podemos todos bem. Os alemães que o digam (pensando que um dia as consequências não lhes vão bater à porta numa zona de livre circulação de pessoas, bens e capitais). Numa Europa cada vez mais desunida (apesar das regras), há muito que soou o toque do salve-se quem puder.


O pensamento dos irlandeses foi simples: vamos tratar da nossa vida e tentar resolver a situação a bem. Temos de e queremos pagar, mas vamos fazê-lo de acordo com as nossas possibilidades. E vão ao balcão da empresa financeira renegociar o seu caso. Em Portugal nem queriam, mas parecia mal não ir. Perante o país com tantas dificuldades, seria quase um crime de lesa-pátria não ir, pelo menos, bater à porta como fez a Irlanda.


Estão ambos sentados para expor os seus casos e o primeiro avisa: estivemos a fazer as contas e precisamos de 15 anos. Alguém que nos representa benzeu-se, como se tivesse acabado de ouvir um sacrilégio, e pediu uma extensão mais modesta. Parece mentira, não parece?


Têm sido pedidos sacrifícios ao país que, mesmo cá dentro, muitos não considerariam sequer a hipótese de tal poder vir a acontecer sem dar em desgraça. Que acabou por acontecer. Se foi avisado que este seria um momento de sacrifício para todos, consideraria bem mais justo que o sacrifício fosse de todos. Inclusivamente daqueles que têm de o impor, bastando para isso que lá fora tratasse de fazer com que fosse menor e não piorasse ainda mais o que já é mau.

 

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«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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