Aníbal Branco de Neve
Cavaco Silva “entusiasmado” com maçãs transmontanas
A Branca de Neve era uma princesa sonsa e parva. Era ingénua caramba. Vive num castelo com uma gaja que fala com espelhos e lhe lança o mau-olhado todo o santo dia e ela, a Branca, acha isso natural? Percebe que a quarentona pôs a sua cabeça a prémio e em vez de fugir para o fim do mundo vai, feita estúpida, refugiar-se num bosque ali nos arredores da real residência, numa cabana de (imagine-se) anões. 7 anões. Que ela não conhecia de lado nenhum. Achou que a casa de sete mineiros solitários que viviam no meio da mata isolados do mundo era um sitio seguro. A tipa não era inteligente. Depois, após andar a aceitar fitas que lhe esmagavam os ossos e pentes que lhe causavam desmaios (ok, a rainha também não era sobredotada), decide comprar umas maçãs assim mesmo brilhantes, vermelhas, Red Delicious, a uma senhora de 90 & tal anos, vestida de negro e com todo o ar de ter 'Bruxa' no seu curriculum vitae que, acaso dos acasos, andava a vender maçãs reluzentes porta-a-porta no meio duma floresta. Branca decide comer uma dessas maçãs. E (choque!) cai para o lado. Depois, num bizarro funeral, vem um gajo que beija a moça-quase-cadáver e ela acorda, surpresa mas agradada, e parte com o jovem (que também nunca tinha visto mais gordo) para uma vida linda e deslumbrante.
Aníbal Cavaco Silva é a nossa princesa idiota. Apesar de já ter idade para ter as crises da rainha que tinha conversas com o mobiliário, demonstra possuir a ingenuidade da pálida miúda. Apesar de ter algo parecido com bruxaria no CV (sacanice, intrujice, velhacaria, ...), Cavaco parece ter perdido esses dotes de outrora, enfim, ficou gaga. Ou então escolhe poupar essa sua esperteza saloia para outras almas, outras épocas. Ele lá terá as suas razões. Todavia nos últimos meses tem demonstrado sinais de ter perdido a pouca sanidade mental que possuía. Ultra-preocupado com a sua imagem nos manuais de história, tentando que esta seja algo como "E depois veio o Presidente Silva que, usando o poder da palavra, clamou: eu assegurarei a estabilidade". Em tempos de instabilidade pura, onde Orçamentos de Estado nem 2 meses aguentam, onde se observa o caos em outrora civilizadas sociedades europeias (Roma, Budapeste, Atenas, ...), onde enormes massas humanas marcham nas ruas exigindo mudança, onde um governo cumpre medidas que são o antónimo das suas promessas eleitorais... E o Presidente da República escreve prefácios. Prefácios senhores, prefácios! Há uma calamidade social lá fora mas Cavaco crê que os tempos são brandos e modera-se. Resume-se ao silêncio, pois "existe uma relação inversa entre o protagonismo mediático do Presidente da República e a sua influência efectiva sobre o processo político de decisão". Nota-se. Cavaco Silva, o supremo magistrado da nação, tem hoje a influência duma borboleta moribunda. E não apenas pelas imbecilidades do passado recente (e foram tantas, Deus sabe), mas acima de tudo pelas imbecilidades que deixou passar. O garante do regular funcionamento das instituições rubricou orçamentos inconstitucionais, sendo que no último lá teve umas dúvidas (depois de ter todo o país a gritar-lhe inconstitucionalidade) e permanece impávido e sereno face às declarações e actos de ataque aos avanços sociais trazidos pela democracia. Deseja permanecer sossegado e faz o seu dia-a-dia lendo Diários da República e encontrando vogais fora do lugar. Quando confrontado com acontecimentos do descalabro relembra sempre: 'Eu na altura avisei' - mas nada fez para o impedir. Em vez disso entusiasma-se com as maçãs, os cogumelos e as vacas. É essa a sua definição da função presidencial.
Cavaco Silva não terá um lugar discreto mas honrado num manual de história. Não, o seu lugar terá algum destaque, pois foi ele o grande patrono das mentes lunáticas que nos governam internamente. Será destacado como aquele que, face a este babel miserável no qual habitamos, escolheu nada fazer, escolheu não interceder. Cavaco é profundamente idiota se acha que não será associado a este período negro da história recente de Portugal.
Não admira que estejamos deste modo - Vitor Gaspar foi afinal aluno de Cavaco Silva.