Refresco de memória
É fácil, até de mais, perceber que a actual acção governativa nada tem a ver com a linha proposta pelo, então, candidato a Primeiro-ministro em campanha eleitoral. Basta ir à sua conta no Twitter e lá se encontram as frases mais fortes do seu discurso da altura, as ideias com que planeava tirar o país dos hábitos e caminhos que vinham a ser seguidos. Ia ser duro, mas nunca foi dito abertamente - nem podia ser, pois havia eleições a ganhar - que ia piorar. E muito.
Durante algum tempo, depois das legislativas de 5 de Junho de 2011, ainda houve o fôlego das exportações que tinham vindo a aumentar, mas o brutal aumento nos impostos - que fez cair a procura interna - combinado com o congelamento do QREN e com o resgate de parte do sector bancário, acabou por pulverizar tudo o resto. A economia nem sequer estagnou. Retraiu. E muito.
No entanto, e voltando ao discurso de Passos Coelho enquanto líder da oposição e candidato a Primeiro-ministro, há uma ideia que foi referida a 6 de Novembro de 2010, em Viana do Castelo, num jantar para militantes do partido, que nunca chegou a ser veiculada como punch line do candidato.
Se dissermos que a despesa irá ser 100 e ela for 300, aqueles que são culpados pelo resvalar dessa despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos e suas acções.
A ideia não voltou a ser defendida por Passos Coelho talvez por ter sido alertado (ou ter descoberto por mote próprio) do perigoso populismo que encerravam as suas palavras, como até pelo facto de tal se poder virar contra si. A história tem destas coisas. As conjunturas externas dão muito jeito... É que, na altura, o líder do PSD incluiu no lote dos 'potenciais' arguidos aqueles que, mesmo inconscientemente, seguiam condutas de má gestão.
Imagino que para o actual Primeiro-ministro, o Governo, nem de longe nem de perto, esteja a seguir por caminhos de má gestão. Os números podem desmenti-lo, mas a boa fé, essa é que conta. Quantas vezes deve Passos Coelho lembrar-se do que disse em Viana do Castelo, em 2010? Assim de repente, nenhuma.