Se grandolar não me chega.
Já se escreveu sobre a manifestação de 2 de Março tudo aquilo que quereria exprimir, e não vos quero maçar.
Já se escalpelizou o silêncio do povo e se interpretou o futuro que ele significa.
Aqui a Fernanda Câncio, aqui o Ricardo Santos, por exemplo, escreveram o que eu senti, e estou-lhes grato por isso.
Mas se não chega, se isto ainda não acabou, talvez tenhamos que cantar mais um pouco. Talvez até mudar a letra da nossa canção.
Porque ser perseverante é também isto.
Humilde proposta:
Coro Da Primavera
Zeca Afonso
Cobre-te canalha
Na mortalha
Hoje o rei vai nu
Os velhos tiranos
De há mil anos
Morrem como tu
Abre uma trincheira
Companheira
Deita-te no chão
Sempre à tua frente
Viste gente
Doutra condição
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores
Livra-te do medo
Que bem cedo
Há-de o Sol queimar
E tu camarada
Põe-te em guarda
Que te vão matar
Venham lavradeiras
Mondadeiras
Deste campo em flor
Venham enlaçadas
De mãos dadas
Semear o amor
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores
Venha a maré cheia
Duma ideia
P'ra nos empurrar
Só um pensamento
No momento
P'ra nos despertar
Eia mais um braço
E outro braço
Nos conduz irmão
Sempre a nossa fome
Nos consome
Dá-me a tua mão
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores