Corrosão do tecido social
São perigosos estes tempos, já o sabemos. Todos os dias nos pedem que abdiquemos de direitos que demoramos a conquistar. Em nome da contenção orçamental, do aumento da produtividade, do regresso aos mercados. Tantas vezes sem razão de ser, com argumentos falsos, fundamentos erróneos. E depois há quem se aproveite da confusão para saquear só porque sim.
De repente, pululam petições e movimentos contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a liberalização do aborto, a nova lei do divórcio e a reprodução artificial... e tudo mais o que não couber no sistema de valores do conservadorismo bacoco e bafiento.
Uma dessas petições, assinada por ilustres figuras como Bagão Félix, Gentil Martins e João César das Neves, apela à revisão destas leis porque, e passo a citar: «têm vindo a corroer o tecido social do país». Em nome da proteção da família, clamam eles. Mas esquecem-se, talvez, que é certo que o tecido social está corroído, mas graças ao desemprego, à falta de proteção social, às condições em que vivem milhares e milhares de portugueses...
Não venham com a hipócrisia da proteção da família, se não conseguem conceber uma família que não tenha por base os cartazes da propaganda de outros tempos.
O tecido social está corroído, sim. Não venham agora aproveitar a confusão para nos lançarem areia para os olhos e fazerem regredir no tempo ainda mais o nosso país, retirando ainda mais direitos aos portugueses.