Pimenta na língua
Havia uma certa curiosidade em saber no que ia dar a reunião da Comissão Política Nacional do Partido Socialista. Deu para perceber logo à entrada dos intervenientes na sede no largo do Rato que não ia correr muito bem. Para o PS. E facilmente se explica porquê. O porta-voz do partido, João Ribeiro, fez a seguinte a declaração: «É uma deslealdade nunca vista. Costumávamos assistir a isto no PSD, mas no PS não havia registo histórico».
Num momento particularmente especial para o PS, como de resto para todo o país, o porta-voz do partido fala em deslealdade interna - algo que o líder também já tinha feito -, esquecendo-se por completo que não estava a falar aos militantes dentro de casa e sim aos portugueses. Que vêem televisão, ouvem rádio e lêem jornais. Que imagem passou ao país do seu próprio partido.
O que terá passado pela cabeça quando disse o que disse, só o próprio saberá. No entanto, não parece é que encontre justificativo para semelhante declaração que, pior ainda, chegou taxativamente a comparar o PS com o PSD. Da próxima vez que alguém do núcleo duro de Seguro ou mesmo o próprio secretário-geral do PS, falar em diferenças entre o PS e o PSD, é legítimo recordar este episódio, resumindo o pensamento público ao já velho e popular "é tudo a mesma coisa".
Pode ter funcionado internamente para 'segurar' Seguro, passo a redundância, e tentar tirar Costa do caminho com um ataque pessoal tão mesquinho quanto injusto. Mas foi um autêntico processo quimioterapêutico: derreteu a concorrência e manchou o partido.
Este tipo de declarações são a prova que esta direcção nunca esteve nem jamais vai estar preparada para ser alternativa. Como, de resto, Passos provou ao PSD e ao país. Só reforçam os argumentos de quem quer, dentro do PS, uma outra solução.