Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

22
Jan13

Mau tempo

A coisa começou há muito: Funcionários públicos incapazes e carregados de privilégios, pensionistas pouco mais que sobas, jovens a estudar para serem nada. Um desperdicio, um regabofe, uma orgia insana de dinheiro dos contribuintes a escorrer pelas paredes caiadas a ouro das casas compradas a crédito. Nenhuma desta gente vergou as costas, não mostraram submissão, não passaram fome e assim perderam o toque humilde que tão bem os caracterizava quando o doutor Salazar os olhava do retrato oficial. 

O chapéu à frente agarrado com as duas mãos fechadas sobre as abas.


E os feriados pornográficos, meu Deus, os feriados que esta gente auferia. Isto tem que acabar e é já.

Com seringas de insulina, a espaços, foi-se administrando na consciência colectiva a noção de que isto estava mal e que tinha que mudar. Uns tinham mais que outros, e alguns merecem mais que todos. O empreendedorismo, senhores, a rentabilidade, a excelência- tudo antónimos de Estado - tudo contradições da própria existência da coisa pública.

A economia, os índices, as taxas, os coeficientes, os relatórios de verão e de inverno. 

Os Audis LWB reunidos em Bruxelas, preocupados, indecisos, atónitos com a coisa que não avança. E o povo na rua, a gritaria. O povo em casa e o silêncio. Já nada é como dantes, tudo ficou como sempre foi.

E depois a Ângela, sempre a Ângela. O povo atrapalhado porque a Ângela, faça favor de entrar. E o Gaspar, tão pouco comum que deve ser único no mundo, humilde e pouco arranjado. Faça favor de entrar, que é dos nossos. Já cá está, sentou-se na cabeceira da mesa. Por quem é. Pelos que me ajudaram a meter as mãos no pote.


Baralham tudo. Inventam que somos pobres, que devemos ser pobres, e tornamo-nos pobres. Dizem que gastámos demais e trabalhamos pouco e a nossa vontade é largar tudo e ir viver numa caverna a passar fome.

Meteram na cabeça do povo português que devia esforçar-se por ser outro povo. Escandinavo!...Não! Chinês!

E eis-nos os mesmos, tornados nada, num limbo de identidade.

De manhã, na rádio, a boa noticia de minas e poços de combustivel, promissores futuros em Moçambique. Refere-se também que a população tem 80% de analfabetos. Mas isto não é importante.


Em Portugal somos outra coisa, trabalhámos para ser outra coisa.

O governo espanca-nos como se tivéssemos feito errado um caminho que era o da civilização e do progresso.

A economia não é grande coisa? Isso não é desculpa para lançar no desemprego uma nação inteira, bem pelo contrário.


Não sabem como resolver o assunto? Apesar da cara instrução que o país lhes deu? Então que se demitam, que hão-de vir os que tentarão fazer melhor. No ponto em que estamos começa a nem parecer dificil. 



O que esta gente fez...

Demolir o que havia sido construido para construir o quê? 

Um monte de escombros não é plataforma para nada a não ser mais escombros.

Mais valia ter remendado, que bem era preciso, antes de destruir.






«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

No twitter

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2013
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2012
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D