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Sem antídoto conhecido.

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27
Out12

Lucidez no desespero

Pedro Figueiredo
Às vezes, é no meio de um turbilhão absolutamente triturador, que acontecem verdadeiros milagres. Momentos de lucidez fruto de um desespero impossível de disfarçar. António Saraiva, presidente da CIP, também denominado patrão dos patrões - expressão que sempre achei curiosa - foi o convidado de José Gomes Ferreira há 15 dias. Um dos temas, naturalmente, abordados na entrevista foi a taxa de desemprego (actual e prevista), que tantas dores de cabeça está a causar, por ter das consequências mais imprevisíveis que uma política mal conduzida (ou mesmo falta de uma) pode gerar. Não há cenários macro-económicos que consigam avaliar a reacção das pessoas atingido o limite máximo de uma taxa de desemprego. Esse limite não só varia de país para país, como a própria reacção também.


O desemprego é, portanto, uma preocupação - ou devia ser - comum a todos. António Saraiva explicou que o ministro da Economia tem reunido recentemente não só com a CIP mas com outros parceiros sociais, para todos juntos, poderem chegar a uma espécie de solução de compromisso (se tal for possível). Ao fim de um ano e meio de governação, isto é um raio de lucidez no meio do desespero que tem sido este executivo de coligação. Não se sabe do que vai sair destas reuniões. Pode até ficar tudo, como de costume, em águas de bacalhau. Tudo vai depender de como estão, cada um dos intervenientes, comprometidos ao ponto de poder chegarem a um consenso. E consensos são precisos. Daqueles que em cada uma das partes cede às outras. Compromissos. Ponto final.




O problema é que esta lucidez no desespero pode não ser suficiente. Há outros factores nesta equação. De que serve um humilhado ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros - não consigo esquecer a imagem de um Paulo Portas profundamente fúnebre ao lado de um Passos Coelho e um Miguel Relvas hilariantes no dia das moções de censura no Parlamento - andar a promover a economia nacional, abrindo caminho à exportação, se o próprio Primeiro-ministro e o seu cerébro político promovem exactamente o mesmo, mas em relação à própria força de trabalho que, supostamente, terá de fazer acontecer esse milagre económico de exportarmos o que fazemos? Exportar e emigrar no mesmo discurso é quase o mesmo que acreditar no conto de fadas do desinvestir para crescer.


Ficaram tão obcecados pelas gorduras do Estado, que começaram a cortar nas vitaminas e proteínas da alimentação. O gordo, agora, olha-se ao espelho e vê-se esbelto à conta de um povo anorético que continua a suportá-lo. Menos Estado não é vender o país a retalho. É tornar a máquina eficiente. A fiscal inclusive. Que funcionando como deve ser, não precisa de carregar quem já cumpre, só porque quem não o faz não é punido por isso. Voilá a equidade!


Na Europa, não é difícil olharem para Portugal e perceberem que isto está uma montanha-russa. O motivo que pode levá-los a não se preocuparem muito é que o controlador é um académico de currículo administrativo imaculado e acima de qualquer suspeita. Um merceeiro catedrático com o lápis na orelha a assentar o deve e o haver, porque no fim parece ser só isso que conta. Será mesmo?


«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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