Feiticeiro do Oz
"Keep cool, but care"
Thomas Pynchon, "V"
As noites eleitorais têm uma característica peculiar: o tempo é passado a serem feitas extrapolações, dinâmicas e narrativas com pouca ou nenhuma relação com os resultados em si.
Na verdade, os resultados das eleições correspondem ao sentido de voto naquele momento e naquele contexto, não mais do que isso.
O contexto nas últimas eleições presidenciais é simples 1) existia um candidato que era favorito, o que propicia o voto protesto inconsequente; 2) o principal partido do centro-esquerda apoiou implicitamente Marcelo, o que levou alguns votantes da direita a procurar alternativas.
Ontem, Marcelo Rebelo de Sousa obteve uma maioria confortável. Pela primeira vez na história um candidato presidencial ganhou em todos os concelhos do país. Assim, a principal noticia da noite deveria ser a vitória expressiva do candidato do centro direita, com boas relações com o governo em funções do centro esquerda; e como esta vitória é indicativa de que o regime, apesar de tudo, está sólido.
No entanto, a análise focou-se no candidato que ficou em terceiro lugar com 12% dos votos, num contexto que lhe era vantajoso. Isto não quer dizer que se deva menosprezar o resultado de um candidato de extrema-direita, mas sim relativizar a sua importância.
Ao amplificar os resultados e relevo de um candidato extremista, estaremos - em especial, os outros partidos políticos (sobretudo o PSD do Rui Rio) e os OCS - a criar a imagem de uma figura poderosa, que marca a política e a agenda mediática em Portugal. Enquanto que na realidade, por detrás da cortina, continua a ser um homem pequenino sem poder, "cheio de som e fúria e vazio de significado". É bom que se mantenha assim.