Chega de faustos
O percurso da ascensão da extrema direita em Portugal é como ver um filme depois de já se ter lido o livro.
Após a celebração do infame acordo nos Açores, repetiram-se os mesmos argumentos e episódios que tinham ocorrido noutros países em situações semelhantes:
- Factos alternativos
O PSD repetiu por diversas vezes que não havia qualquer tipo de acordo com a extrema direita.
- Projecção
O PSD não só negou a existência de qualquer acordo com a extrema direita (que finalmente admitiu existir), como acusou de mentiroso quem aludia à existência do referido acordo.
- Os media como inimigos
Na intervenção no fórum da TSF, o deputado do PSD repetidamente referiu-se aos media como "vocês" e acusou-os de empolarem a importância deste assunto (acordo com a extrema direita) em vez de falarem de assuntos mais importantes.
- Falsas equivalências
O acordo com a extrema-direita que promove a castração química é equivalente ao acordo que o PS celebrou com a extrema-esquerda que promove as 35h semanais para a função pública.
- Demonizar os adversários políticos
Miguel Albuquerque justificou o acordo alegando que o principal inimigo do PSD é o PS. Nuno Morais Sarmento foi ainda mais longe e defendeu que o BE nega os princípios básicos da democracia.
Como defendem Hugo Mercier e Dan Sperber, da Universidade Harvard: “A razão tem duas funções: produzir motivos para justificar a si mesmo e gerar argumentos para convencer os demais”. Ora, perante a ausência de argumentos válidos que permitem legitimar o acordo, apenas resta a utilização destas práticas, que, mais cedo ou mais tarde, destroem a democracia.
Assim, os partidos da direita dita democrática reconhecem que chegados a uma encruzilhada fazem acordos com a extrema-direita para alcançar o poder - objectivo que para eles se sobrepõe à própria democracia. É assim tão simples.