Alt-PSD
"We are what we pretend to be, so we must be careful about what we pretend to be."
Kurt Vonnegut
No seu discurso no Pontal, Passos Coelho disse que não queria "qualquer um" a viver em Portugal. Nestes tempos mediáticos, por uma questão de precaução e de sanidade mental, sempre que ouço uma afirmação polémica como esta, desconfio. Infelizmente, a declaração de líder do PSD consegue ser ainda pior em contexto.
Em primeiro lugar, o seu timing. Este discurso foi proferido num fim de semana marcado por uma sangrenta manifestação nazi nos Estados Unidos. Antes destes acontecimentos, o PSD havia reiterado o seu apoio a um candidato autárquico que proferiu declarações racistas, recebendo o apoio do PNR e o repúdio do CDS.
Em segundo lugar, a afirmação completa consegue ainda ser pior. Passos não diz apenas que não quer qualquer um a viver em Portugal, mas que caso isso aconteça o país deixará de ser seguro. Segundo Passos, os estrangeiros, qualquer um deles, são assim uma fonte de insegurança e violência, ao contrário dos portugueses, que são todos cumpridores da lei.
Em terceiro lugar, revela um complexo de classe. O primeiro governo liderado por Passos criou o "visto gold", que permitia a entrada no país a qualquer um que tivesse determinado dinheiro para gastar. Presumo que na visão de Passos criminalidade seja incompatível com riqueza.
Por outro lado, este discurso xenófobo e nacionalista parece incompatível com os seus discursos anteriores, segundo os quais os portugueses eram uns piegas que viviam acima das suas possibilidades, ao contrário dos exemplares povos do norte da Europa.
Passos Coelho nunca teve uma consistência de pensamento ou de ideologia, foi sempre modificando segundo as tendências mais recentes. Ele é uma espécie de Spinal Tap da política, mas pelo menos devia seguir o conselho de Vonnegut e ser mais cuidadoso com o que finge ser.