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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

29
Jun15

Blow Up

CRG

"...the green light, the orgiastic future that year by year recedes before us"

F. Scott Fitzgerald - "The Great Gatsby"

 

Na famosa cena final de "Blow Up", filme de Michelangelo Antonioni, o protagonista, ao passear pelo parque, assiste a um jogo de ténis sem bola e sem raquetes. O público e os jogadores agem como se fosse um jogo normal e aquele acaba por se render à ilusão, participa no jogo ao ir buscar uma "bola" perdida.

 

Desde o início a negociação entre a troika e a Grécia foi este jogo de ténis. Um simulacro no qual era suposto acreditar que as politicas de austeridade que nos últimos 5 anos destruíram a economia grega (o PIB desceu 25% e o desemprego atinge os 25,6%) e que não conseguiram resolver nem o problema da sustentabilidade da dívida nem da competitividade desta vez iriam ter outros resultados - a tal "luz verde que todos os anos vai recuando" -, pese embora um estudo elaborado pelo próprio FMI tenha chegado à conclusão que são políticas contraproducentes.

 

Na verdade, o destino da Grécia, também muito por culpa própria, já estava traçado desde o primeiro resgate, cujo principal e porventura único objectivo foi salvar a banca alemã e francesa, dando tempo para que esta recuperasse depois do abalo da queda da Lehman Brothers. Resolvida esta questão parte da elite europeia, com Schauble à cabeça, não vê qualquer interesse na manutenção da Grécia na Zona Euro, nem na UE, a não ser como exemplo de que não há alternativa ao seu diktat, a manutenção do "jogo de ténis".

 

O abandono da Grécia poderá ser o fim da UE, mas o catalisador da sua implosão foi a Alemanha que tragicamente quis transformar um mercado comum numa união de exportadores.

29
Jun15

Esta não é a Europa dos nossos pais

Diogo Moreira

Neste momento não existem boas soluções para a Grécia,. Se elas alguma vez existiram, em algo mais do que a cabeça de pessoas bem intencionadas, os dias que temos vindo a assistir na Europa encarregaram-se de acabar com esses sonhos utópicos.



Aqueles que governam a Europa já não se preocupam com os europeus. Preocupam-se antes com os seus eleitores, com os seus votos, com a sua carreira política. O ideal de solidariedade europeia, a argamassa de um projecto comum de paz, livre comércio, e intercâmbio político, económico e social, já não impera nas decisões de Bruxelas.



Porventura, este estado de coisas era inevitável. A União Europeia sempre foi uma falsa união. Incapaz de dar o salto para uma verdadeira união política, ficou-se pelo fac-símile de uma união económica e monetária, que na realidade nunca dispôs de instrumentos apropriados para tal.



A hubris de quem, sociais-democratas, socialistas, conservadores e liberais, achava que as futuras crises europeias iam aprofundar os mecanismos de integração, visto que as alternativas seriam impensáveis, é hoje trágica. O poder na Europa, da Esquerda à Direita, está hoje nas mãos de quem realmente pouco difere no seu objectivo fundamental: a obediência cega aos mercados, ou diremos nós aos seus mestres. À luz desse objectivo, qualquer desvio da ortodoxia neoliberal é impensável. Mesmo que seja uma necessidada absoluta da economia, ou de simples decência humana.



É um facto comprovado, e reiterado, que a Grécia é incapaz de ultrapassar a sua profunda crise económica e social sem uma reestruturação da sua dívida, e sobretudo sem um alívio dos pagamentos dos juros da dita. As actuais, e futuras, medidas de austeridade apenas agravam a situação negativa vigente. No actual contexto da austeridade idiótica e punitiva de Bruxelas, e do FMI, não existe qualquer possibilidade para haver crescimento económico grego. E sem crescimento económico, não poderá repagar os empréstimos que já recebeu, ou que ainda poderia receber.



Os gregos estão assim entre a espada e a parede. Ou se submetem ao ultimato de Bruxelas, em que o único resultado seria mais desgraça e miséria, sem efeitos práticos, ou rompem com os credores e o Euro, procurando uma via alternativa através da desvalorização de uma nova moeda própria, entrando numa nova situação de contornos imprevisíveis.



É esta a escolha que têm em mãos.



Por culpa da Europa. Por culpa de todos nós.

25
Jun15

O ponto de não retorno

Frederico Francisco

Quando leio sobre alguns momentos decisivos da história, tento sempre imaginar como os contemporâneos estariam a ver e a viver os acontecimentos. Falo, não dos protagonistas, mas das pessoas comuns, dos espectadores, daqueles cuja capacidade de influenciar os acontecimentos é muito limitada ou nula.

Em quase todos os casos que conheço, o público só se apercebe dos acontecimentos decisivos quando estas já são factos consumados, sem possibilidade de retorno ou remédio. Existe um momento em que o desfecho se torna inevitável, mas em que a coreografia continua como se tudo estivesse ainda em aberto.

Tenho tido nos últimos dias a sensação de estar a viver um desses momentos. Espero estar enganado, mas iremos todos descobrir em breve...

24
Jun15

É sempre bom haver uma cobaia

Diogo Moreira

A primeira experiência, de testarmos a hipótese de alterar o status-quo na Europa através da via negocial, teve o resultado que está à vista.



Agora, dava-nos jeito testar a hipótese da saída do Euro, para ver se é um caminho viável e com resultados.



Só podemos agradecer a disponibilidade dos candidatos a esta segunda experiência.



Tudo pela Europa, nada contra a Europa.

23
Jun15

O mito é o nada que é tudo

CRG

Discordo deste artigo do Ladrões de Bicicletas quando diz que a Ministra das Finanças usou uma metáfora falhada quando fez uma breve alusão ao mito de Sísifo para descrever o problema da dívida.

 

Na interpretação que Bolaño em "2666" faz deste mito grego, Sísifo, que já havia enganado a morte por duas vezes, foi condenado por toda a eternidade a rolar uma pedra de mármore com as suas mãos até ao cume da montanha de forma a que estivesse sempre ocupado: sem tempo livre para pensar ficaria impossibilitado de arranjar um meio de escapar do inferno.

 

O trabalho de Sísifo é assim uma distracção. E o mesmo se passa com a dívida. Após o descrédito do famoso estudo de Reinhart–Rogoff a obsessão com a dívida pública em tempos de grave crise económica apenas se consegue explicar pelo interesse na manutenção de um garrote para fundamentar politicamente mais privatizações, mais cortes no estado social e aumento de impostos. 

 

A crise é de facto uma oportunidade.

22
Jun15

Considerações sobre uma greve atrasada

João Martins

Sobre o facto da Companhia Nacional de Bailado ter marcado greve para julho, tenho que dizer o seguinte:

 

Tarde e a más horas. Desde que soube, há uns dias, que os bailarinos da Companhia Nacional de Bailado estava a pensar fazer isto, foi logo o que pensei: tarde e a más horas.
Apesar de me solidarizar com qualquer protesto que lute pela carreira e pelo estatuto dos artistas portugueses, não posso deixar de salientar o quão profundamente idiota e preguiçoso é o timing para fazer esta greve, demonstrando que os bailarinos da CNB acordaram apenas agora para aquilo que muitos deles consideram o "nojo" da política, de ter noção do que se passa no país e da luta pelos seus direitos que, aparentemente, vai renascer em pleno fim de legislatura.
O que digo hoje sempre disse e volto a dizer quando quiser, lamento. Os bailarinos - e a direção, já agora - da CNB são os que mais têm contribuído para a imagem de que os artistas são uns analfabetos políticos e que só se mexem quando o problema já se tornou demasiado grande para parar. Não me lembro de, até hoje, ter lido comunicados, artigos, notícias ou entrevistas de pessoas da Companhia - inclusivamente da diretora Luísa Taveira, cujo legado vai ser o video mapping e o marco do início do fim da CNB - a manifestar preocupação com o setor cultural, no qual se insere a dança (não vão alguns não perceber), e no que esta tem sofrido nos últimos anos com os sucessivos cortes e falta de financiamento. O que está em causa hoje nesta Companhia, relativamente a carreiras, salários e falta de apoios, há muito que está assim para as mais pequenas Companhias e freelancers por Portugal. Este problema não é de agora e o Secretário de Estado Barreto Xavier, que tão bem têm acolhido nos vossos espetáculos, vai conseguir (já conseguiu) tramar-vos, como tem feito a toda a gente do setor, mesmo antes do término deste ano eleitoral e desta legislatura.

(Ler mais)

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«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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