Para quem, independentemente da sua futura opção de voto, acha que o país precisa absolutamente de discutir alternativas de futuro que não passem pelo repetir do mantra da austeridade – e não é preciso combater essa linha política com os seus desastrosos efeitos sociais e económicos, basta lembrar que não cumpre o objectivo que supostamente teria: sanear as contas públicas – é importante saber onde pára o PS.
Ao contrário do que tem acontecido noutros Países, como Espanha e Grécia, a esquerda tradicional em Portugal não está ameaçada de extinção. As razões para isso são várias, desde logo os nossos brandos costumes. A agitação social foi, em Portugal, uma fracção do que aconteceu na Grécia ou em Espanha. O PS não sofreu as ondas de choque que mataram o PASOK e feriram profundamente o PSOE.
António Costa ganhou a liderança do PS nas costas da ideia de que, com o anterior líder, faltava oposição ao actual Governo e sobrava indefinição quanto a uma ideia para o País e para o futuro. Foi nesse António Costa que as pessoas votaram em primárias primeiro, e no Congresso do PS depois.
Desde a sua eleição António Costa tem sido ora fiel ora infiel a essa promessa implícita entre ele e os seus eleitores.
Pessoalmente, espero que o António Costa das gafes recentes, da decisão de reposição das subvenções vitalícias a meias com a actual maioria, e da conversa mole tenha ido a enterrar definitivamente hoje.
Hoje, em que é conhecida uma sondagem que mostra – objectivamente – que o PS está exactamente onde estava, do ponto de vista eleitoral, com a anterior liderança: à frente da maioria mas muito longe de uma vitória que lhe permita mudar de políticas. E isso, pura e simplesmente, não serve. Pela mesma razão, uma qualquer ideia de bloco central é fundamentalmente incompatível com aquilo que o País precisa.
Ora, com a clareza que deveria ter todos os dias António Costa afirmou que o país “não está à espera nem precisa de um bloco central”. E disse, mais, que “Nós temos propostas, nós temos medidas. E não nos conformamos com a resignação do senhor primeiro-ministro – e estamos aqui para construir e afirmar uma alternativa. (…) Apresentámos a estratégia nacional de combate à pobreza infantil e juvenil, que é o segmento da sociedade onde a pobreza mais aumentou. Apresentámos as políticas activas de emprego, dirigidas aos jovens mais qualificados, de modo a integrá-los nas empresas do sector exportador, de forma a reforçar a produtividade e a competitividade. Apresentámos a proposta de dinamizar sectores com capacidade para absorver a mão-de-obra intensiva, como sejam a reabilitação urbana, na construção; a redução do IVA na restauração”.
Ora não é preciso concordar a 100% com tudo o que ali está – ou com tudo o que está na Agenda da Década ou estará no programa eleitoral do PS – para perceber que é mil vezes mais capaz de dar resposta ao que o País precisa do que a alternativa que a actual maioria oferecerá: mais quatro anos de austeridade misturada com uma estranha (e ilógica) mistura de liberalismo de trazer por casa com uma tendência para brutais aumentos de impostos, corolados com taxas e taxinhas desde sacos de plástico a tudo o que tem armazenamento digital.
Esperemos, então, que este tenha sido o momento em que o Costa bom finalmente ganhou a batalha ao Costa mau. Afinal, para mau Seguro teria servido perfeitamente.