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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

31
Jan15

A mentira como método

MCF

 

O Primeiro-Ministro disse hoje que "o país conseguiu «passar por esse processo sem aumentar as clivagens, as assimetrias na forma como os rendimentos estão distribuídos».".

 

E não fosse não ter sido entendido acrescentou: "«Tivemos menos rendimentos todos, mas não tivemos mais dificuldades na forma como eles estavam distribuídos, tivemos até, em alguns aspetos, aqueles que tinham maiores rendimentos a dar um contributo maior do que aqueles que tinham menos», assinalou Pedro Passos Coelho.".

 

Passos Coelho comentava este Relatório do INE que diz precisamente o contrário, em vários momentos:

 

1) "a assimetria na distribuição dos rendimentos entre os grupos da população com maiores e menores recursos manteve a tendência de crescimento verificada nos últimos anos."

 

2) "De acordo com o rácio S90/S10, o rendimento monetário líquido equivalente dos 10% da população com maiores recursos era 11,1 vezes superior ao rendimento monetário líquido equivalente dos 10% da população com menores recursos (10,7 em 2011 e 9,4 em 2010)."

 

3) "Mantém-se uma forte desigualdade na distribuição dos rendimentos. O Coeficiente de Gini tem em conta toda a distribuição dos rendimentos, refletindo as diferenças de rendimentos entre todos os grupos populacionais, e não apenas os de menores e maiores recursos. Em 2013, este indicador registou um valor de 34,5%, ligeiramente superior ao verificado em 2012 (34,2%)."

 

Nem um dos jornalistas presentes tinha lido o Relatório e confrontou o Primeiro-Ministro com esta evidente contradição, ou leram e não perceberam o que lá está escrito, ou, por fim, leram e perceberam mas decidiram abdicar de exercer responsavelmente a sua função. É escolher entre o mau, o péssimo e o triste.

 

 

30
Jan15

E recordar é viver

mariana pessoa
30
Jan15

Um Primeiro-Ministro que cumpre promessas

MCF

 

Em 25 de Outubro de 2011 o Primeiro-Ministro informou o país de que: “só vamos sair desta situação empobrecendo em termos relativos e mesmo em termos absolutos”. Soou a uma espécie de ameaça. Confirma-se.

 

Em 30 de Janeiro o INE informa que "Com uma linha de pobreza ancorada em 2009, observa-se o aumento da proporção de pessoas em risco de pobreza ao longo dos cinco anos em análise, entre 17,9% em 2009 e 25,9% em 2013.".

 

Mais atingidos? Os jovens e os idosos. No mesmo documento, e sem surpresas, verifica-se ainda:

 

1) Que o risco de pobreza aumentou e as privações materiais também;

 

2) Que a capacidade das prestações sociais de diminuirem o risco de pobreza também diminui;

 

3) Que a desigualdade de distribuição de rendimentos aumentou qualquer que seja o método de medição utilizado.

 

Isto diz uma e uma só coisa: empobrecemos mas não todos por igual. Quem mais sofreu foi quem menos pode. O que já seria discutível se os resultados tivessem sido os prometidos. Não foram. Pedimos aos mais desprotegidos da nossa sociedade sacríficios intoleráveis em nome de um el dorado que não existe.

 

Isto são dados, o resto é spin.

 

Nota: Este é o meu post de estreia. Estou simultaneamente lisonjeado pelo convite e receoso pela sensatez do colectivo por me ter acolhido. Mas já está, já está, agora tenham paciência.

29
Jan15

Cigarra e Formiga

CRG

O ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Luís Marques Guedes, disse que Portugal é a formiga e a Grécia a cigarra. Presumo que o Ministro procure aludir à moral usual dessa fábula que apenas com trabalho árduo poderemos estar protegidos no futuro.

 

Por ora vamos deixar de lado que é indigno um Ministro referir-se nestes termos a um país aliado, parceiro na União Europeia. Vamos deixar de lado que a alegação que os gregos não trabalham (à moda do José Rodrigues dos Santos) carece de fundamento e que as factos apontam que estes são os que na UE trabalham mais horas a par dos romenos. Vamos deixar de lado que temos um Primeiro-Ministro que apelida o programa eleitoral de um governo estrangeiro como "conto de crianças", mas que ao mesmo tempo tem um membro do governo que ele lidera que reduz a crise europeia a um conto de crianças.

 

Imagine-se que tudo isto era verdade e que Portugal era mesma a formiga e a Grécia a cigarra.

 

Na fábula que eu conheço a Formiga com compaixão acaba a ajudar a Cigarra, dando-lhe alojamento e comida, e como resultado a Cigarra sobrevive ao inverno -  desfecho que parece contradizer a moral que costuma culminar a história*.

 

Por essa razão sempre extraí desta fábula uma outra moral segundo a qual uma sociedade justa, na sociedade em que eu quero viver, não excluí os mais desfavorecidos, mesmo que estes tenham cometido erros; nenhum erro, por mais grave que seja, se sobrepõe à dignidade da pessoa humana. Nenhum erro pode condenar à penúria e à miséria uma população inteira.

 

Infelizmente, os nossos governantes continuam sem perceber os contos de crianças.

 

* No original do Esopo não existe qualquer contradição uma vez que Formiga não ajuda a Cigarra.

27
Jan15

Sinais dos Tempos

Diogo Moreira
É nas mãos de um dito “radical” de esquerda, que os povos europeus depositam as suas esperanças para um futuro que não seja tão miserável como o presente tem sido. 

Por muito que se queira dar cambalhotas, utilizar frases mais ou bem conseguidas, ou simplesmente se queira apagar o passado recente, é indisfarçável que os partidos de centro-esquerda falharam, quando os europeus mais precisavam deles. A “Terceira Via” foi a porta de entrada para o Neoliberalismo se tornar a ideologia predominante em todos aqueles que se ambicionavam meros tecnocratas, esquecendo que na raiz de todas as decisões políticas, sem excepção, está a ideologia. Ao abraçar acriticamente a ideologia dos que defendem a “lei da selva social”, enganados que estejam sobre os seus resultados na produção de uma sociedade mais justa e solidária, os sociais-democratas esqueceram-se de onde vieram, e do que os fez chegarem aonde estão. 

Ao apelidar Tsipras, ou o Syriza, de “radicais”, ou ainda mais hilariante, chamar os Independentistas Gregos de extrema-direita, o actual “centro” político está a reagir da mesma forma que as sociedades conservadoras do séc XIX reagiam à ascensão do centro-esquerda. Foi graças a esses “radicais” do passado, que muitos de nós podem viver em sociedades mais justas, e mais prósperas. Um caminho tortuoso, sem duvida. Mas que era necessário. 

Também Tsipras, e o Syriza, e todos aqueles que queiram seguir o seu exemplo no combate à austeridade na Europa, são necessários. Espero que consigam convencer o centro-esquerda que o povo, os mais fracos, e oprimidos, e uma sociedade mais justa, são a sua real missão. E não o seguidismo imbecil das imposições neoliberais de uma cambada de lunáticos, que infelizmente ascenderam aos maiores cargos políticos da Europa. 

Senão… bem nem tudo dura para sempre. E em democracia, há sempre alternativas.   O PAZOK que o diga.

— Diogo Moreira
26
Jan15

Irresponsável, dizem eles

CRG

Os que não alinham na doutrina da austeridade e das alegadas reformas estruturais  são acusados de serem irresponsáveis.

 

Ao contrário, presumo, dos que são nomeados Primeiro-Ministro de um país em tanga, mas que largam tudo para o cargo de Presidente da Comissão Europeia; ou os que que numa altura de crise orçamental auxiliam multinacionais a fugir aos impostos; ou ainda os que numa campanha eleitoral prometem um programa de governo com reserva mental.

 

A responsabilidade não é ortodoxia, nem é seguir o caminho mais percorrido, ou sequer actuar de acordo com o que é expectável. É escolher e aceitar as consequências dessas escolhas.

 

Como escreveu David Foster Wallace: 

“I am now 33 years old, and it feels like much time has passed and is passing faster and faster every day. Day to day I have to make all sorts of choices about what is good and important and fun, and then I have to live with the forfeiture of all the other options those choices foreclose. And I'm starting to see how as time gains momentum my choices will narrow and their foreclosures multiply exponentially until I arrive at some point on some branch of all life's sumptuous branching complexity at which I am finally locked in and stuck on one path and time speeds me through stages of stasis and atrophy and decay until I go down for the third time, all struggle for naught, drowned by time. It is dreadful. But since it's my own choices that'll lock me in, it seems unavoidable - if I want to be any kind of grownup, I have to make choices and regret foreclosures and try to live with them.”

25
Jan15

Demokratia

Sérgio Lavos

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Ao fim de sete anos de crise e seis de políticas de austeridade, continua a ser extraordinário como a direita europeia continua a achar que os povos dos países "resgatados" irão aceitar sem bulir o sofrimento que lhes tem sido imposto, aceitar que sejam governados por quem não está com eles, por eles. Achava isso, e continua a achar, e tudo indica que continuará nos próximos tempos. Este inacreditável estado de negação trouxe a ruína e a pobreza a Portugal, a Irlanda, a Espanha, a Chipre e espalhou desemprego e perda de rendimento por vários outros países que não chegaram a ser resgatados. E a Grécia, a cobaia desta violenta experiência de redimensionamento da base fundadora da União Europeia - o Estado Social - foi o país que mais sofreu, desde o início. Sofreu com 27% de desemprego, com a pobreza extrema de milhões, com o fim de muitos apoios estatais a quem perdeu o emprego, e sofreu sobretudo no espírito, na alma, uma terrível humilhação, infligida pelos países do Norte; a Grécia teria de ser o poster boy da maior transferência de rendimento do trabalho para o capital depois da Segunda Guerra Mundial (transferência também conhecida por "austeridade" ou ainda por esse infame eufemismo, "reformas estruturais"). A direita que governa a Europa decidiu que a crise de 2008 era uma imperdível oportunidade de acabar com o Estado Social, e a Grécia tornou-se o poço sem fundo desta desvairada alucinação que tomou conta dos dirigentes europeus. Agora, seis anos depois, os gregos voltaram a respirar. Voltaram a poder dizer que nenhuma humilhação quebrará o espírito do país onde nasceu a democracia. A democracia foi, e será, a única resposta a dar a uma União Europeia desfigurada, exangue dos seus princípios fundadores, uma União Europeia que tem vivido uma crise de liderança sem precedentes desde a sua fundação - e logo na pior altura possível, a crise de 2008. A democracia, a voz do povo (esse que durante todos estes anos tem suportado um sofrimento apenas comparável a uma guerra ou uma ocupação estrangeira), a democracia seria sempre o único caminho possível. Governar com o povo, para o povo, é por aí. Tão simples, não?

25
Jan15

Espectro de Brocken

CRG

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Passados cinco anos de políticas de austeridade a Grécia conta com uma taxa de desemprego de 25 por cento e o nível de poder compra caiu 1/3.

Os prognósticos mais pessimistas  indicavam que o sistema democrático não iria aguentar a pressão - as manifestações no inicio pareciam sustentar previsão. 

 

O povo grego demonstrou que continua a acreditar no sistema democrático; que as mudanças de políticas se fazem nas urnas. 

 

Deste modo, a vitória do Syriza poderá constituir um espectro brocken: um halo num topo de uma montanha, neste caso Olimpo, e uma sombra que se estende por diversos quilómetros, cobrindo, assim se espera,  toda a Europa.  

Pág. 1/6

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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