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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

27
Jun14

Na teoria, é difícil discordar. Mas há quem tente, muito disparatadamente

David Crisóstomo

Não me apetece perder muito tempo com isto, juro que não me apetece, mas este artigo do Daniel Oliveira é, e o autor vai-me perdoar, um perfeito disparate. Deixem-me resumir o ponto que o Daniel faz ali: "O processo das primárias do PS está a ser uma pouca vergonha, não está? Então prontus, aqui é para esquecer, é um horror mata-partidos, mais nenhum alguma vez pegará naquilo". De seguida, para justificar a premissa de que o conceito de primárias é para abolir, escreve umas conclusões tiradas sabe lá Deus donde, dado que não justifica nenhuma. Ora veja, segundo o Daniel, por que são maléficas as primárias:

 

"Porque transformam os partidos em meras federações de eleitores (ahn? qual foi o partido que fez primárias e que se transformou numa "mera federação de eleitores"?), descaracterizam a sua identidade, reduzindo a capacidade de apresentarem aos cidadãos propostas claras que se distingam das de outras forças partidárias (como é? as primárias são más porque, dado o processo da escolha dos candidatos ser feito pelas bases eleitorais, os candidatos têm que se comprometer com projetos e pensamentos próprios? epa, que maldade). Porque desmantelam equipas (ah, isto é uma cena de equipas? e eu a pensar que era uma de "representantes dos cidadãos", silly me), afastam de cargos eletivos pessoas competentes mas menos mediáticas (ai afastam? eu por acaso acho o contrário, dão a oportunidade a cidadãos que de outro modo não teriam alguma hipótese de servir o seu país) e obrigam os eleitos a passar por sucessivos e desgastantes processos eleitorais (eheh, a sério, isto é argumento? epa, bora lá abolir todos os sufrágios pessoal, são uma maçada), tendem a expulsar do sistema quem seja menos dotado para o registo da campanha eleitoral (ou seja, quem de outra forma nunca seria escolhido para representar quem quer que fosse. ora bolas). Porque dão direito de voto a quem não tem qualquer dever para com o partido (isto é tipo o argumento de que só deviam poder votar aqueles que pagam impostos, né?), aligeiram formalismos (oi? quanto muito criam novos formalismos), facilitam golpes (ahahah, ya, sem primárias os golpes ficam muito mais difíceis) e enfraquecem a democracia interna dos partidos (sim, nada torna mais fraca a democracia interna dos partidos do que... democratizar ainda mais a eleição dos seus candidatos). Porque dependem da mobilização de toda a sociedade (ah, pois, isso é mau, não queremos isso), implicam um grau de dramatização que torna a coesão interna, depois de feita a escolha, muito mais difícil (oh brother, já cá faltava o argumento Cavaco Silva, do "consenso" e dos perigos da "crispação"), retirando aos partidos capacidade de integração das divergências (sim, isto das 'divergências' terem que ter legitimidade eleitoral é um aborrecimento).

 

Em resumo: as primárias são más porque o Daniel acha que sim, hoje deu-lhe para isso. Mas o mais surreal daquela prosa que foi há minutos publicada no Expresso é mesmo um dos parágrafos seguintes, onde o autor defende inovações como a das listas abertas ou a possibilidade de cidadãos independentes poderem concorrer a eleições legislativas e europeias e não entende que praticamente tudo o que afirma sobre as eleições primárias poderia também ser dito sobre estas duas ideias. Ou achamos que a possibilidade dos cidadãos poderem concorrer aos parlamentos português e europeu não iria, por exemplo, aumentar a "mediatização dos candidatos"?

 

Que o processo de primárias organizado pelo PS não prima pelo brilhantismo, concordo em absoluto. Mas tal não é devido ao processo, mas sim ao organizador, a direcção do PS, que se socorreu da inovação recentemente testada em Portugal pelo LIVRE para tentar empatar uma demissão que já tarda, arrastando assim a ideia das primárias para o estado decadente em que se encontra.

 

Concordo e defendo a ideia de permitir que os cidadãos, no boletim de voto, passem a ordenar os candidatos de acordo com a sua preferência. Tal como concordo que nenhum cidadão deva depender de uma estrutura partidária para representar os seus eleitores nos parlamentos, nas casas da Democracia. Mas de todas as transformações necessárias para tornar as estruturas politicas mais acessíveis aos cidadãos, a instauração de primárias (abertas) como modelo regular da escolha dos candidatos dos partidos aos diferentes cargos elegíveis parece-me a mais fundamental. O processo das primárias permite retirar o monopólio da escolha dos nossos candidatos a representantes políticos da mão de uma dezena de pessoas que, nos partidos nacionais, "cozinham" as listas. Permite que esse processo passe a estar na mão dos eleitores, dos votantes, daqueles que os candidatos irão representar caso sejam eleitos. E permite, por fim, que o deputado deixe que ter que se preocupar em agradar fundamentalmente a direcções partidárias nacionais ou regionais para poder ser reeleito, e passe unicamente a depender daqueles que o elegeram e que podem, caso entendam, retirar-lhe esse privilégio.

 

O processo que actualmente decorre no PS não matará a ideia das primárias. O Daniel engana-se redondamente se acha que continuamos no "antigamente" politico, onde as listas, as equipas, eram feitas por um punhado de gente, um punhado de funcionários de partido que geriam as tendências da máquina partidária. Esse tempo, em que um candidato ficava desvalorizado por ter que debater as suas ideias, as suas convicções e as suas discordâncias, acabou, é história, ou será brevemente. As primárias serão, a seu tempo, instauradas como modelo de escolha dos candidatos eleitorais na maioria dos partidos portugueses, tal como aconteceu em vários outros países (de que Espanha é o melhor exemplo). Porquê? Ora por uma razão fundamental: as primárias permitem que um cidadão passe a ter a possibilidade de disputar um acto eleitoral devido à legitimidade concedida pelos seus eleitores potenciais e não por alguém numa determinada direcção partidária ter achado que ele seria "competente" para o cargo. E a importância desta mudança suplanta, de longe, qualquer alegado risco de "descaracterização da identidade dos partidos" [francamente...].

 

27
Jun14

Marquise de Pombal

CRG

 

"After all, we make ourselves according to the ideas we have of our possibilities."

- V. S. Naipaul

 

Numa conferência de imprensa conjunta com o Chefe de Estado alemão, Cavaco Silva disse: "Aprendemos a lição dos últimos anos". 

 

A insistência nesta falácia - tão bem desconstruída pelo magnífico artigo da Mariana Mortágua - é reveladora de um certo despeito. A melhoria do nível da vida da população é vista como um risco, uma brecha na ordem, um sinal de risco e instabilidade: quem são estes que julgam que podem passar uma semana de férias num Resort ou ir jantar fora quando querem; esses "luxos" devem ser reservados para alguns (onde, claro, se inserem).

 

Por outro lado, esta recorrente atitude de submissão (ex: "bom aluno"; silêncio perante as ofensas do Presidente da República Checa) já não surpreende, nem é infelizmente exclusiva deste Presidente da República. 

 

Longe vão os tempos da carta do Marquês de Pombal ao Ministro dos Negócios Estrangeiros de Inglaterra: "Vós não fazieis ainda figura alguma na Europa, quando a nossa Potência era a mais respeitável. A vossa ilha não formava mais do que um ponto na Carta ao mesmo tempo que Portugal a enchia com o seu nome."

26
Jun14

Privatização dos CTT

CRG

 

 

Durante cerca de cinco séculos, os serviços postais na Europa foram controlados pela família Thurn e Taxis, até que foram incorporados nos correios do Império Alemão em 1871.

 

Não é uma coincidência que o correio privado tivesse iniciado o seu declínio com o advento do Estado-Nação e encontrado o seu fim às mãos do primeiro estado social. Um serviço postal público é garante não só da soberania nacional - por alguma razão, um dos primeiros actos da 2ª Guerra Mundial foi a tomada de assalto dos Serviços Postais da Polónia, situados na cidade livre de Danzig - como da liberdade de comunicação, com direito à privacidade e ao anonimato.

 

Ora, a privatização dos CTT é mais um episódio no desmantelamento do estado social em curso e no fim da soberania nacional. 

24
Jun14

Maturidade e Credibilidade

CRG

"I am now 33 years old, and it feels like much time has passed and is passing faster and faster every day. Day to day I have to make all sorts of choices about what is good and important and fun, and then I have to live with the forfeiture of all other options those choices foreclose. And I'm starting to see how as time gains momentum my choices will narrow and their foreclosures multiply exponetially until I arrive at some point on some branch of all life's sumptuous branching complexity at which I am finally locked in and stuck on one path and time speeds me through stages of stasis and atrophy and decay until I go down for the third time, all struggle for naught, drowned by time. It is dreadful. But since it's my own choices that'll lock me in, it seems unavoidable - if I want to be any kind of grownup, I have to make choices and regret foreclosures and try to live with them."

 

David Foster Wallace

24
Jun14

Nem traz nenhum futuro

David Crisóstomo

António José Seguro resumiu, mais uma vez, a essência do seu pensamento. “Eu não trago nenhum passado de volta" diz o (ainda) meu Secretário-Geral. Não é preciso perder tempo a discorrer sobre o quão constrangedora é toda esta visão sobre a nossa história recente. Não é preciso perder tempo com quem teima em não merecer. A resposta já foi escrita:

 

"Camarada, tens vergonha da aposta na educação? Tens vergonha do investimento na escola pública? Tens vergonha da requalificação de escolas com a Parque Escolar? Tens vergonha da avaliação dos professores? Tens vergonha do inglês no 1º Ciclo? Tens vergonha dos resultados PISA? Dos resultados a matemática? Tens vergonha das aulas de substituição e apoio aos alunos, do alargamento do horário? Tens vergonha do combate aos subsídios a colégios privados? Da escolaridade obrigatória até aos 18 anos? Tens vergonha da redução do abandono escolar, Camarada?

Camarada, tens vergonha da aposta na ciência? Tens vergonha da subida em flecha da investigação? Tens vergonha do apoio aos nossos cientistas, investigadores e académicos? Tens vergonha da aposta nas universidades? Tens vergonha de ver o MIT com o Técnico? Tens vergonha do computador Magalhães nas escolas primárias? Dos 300 milhões de euros que hoje vendem? Tens vergonha do plano tecnológico? Da cobertura de banda larga?  Tens vergonha dos computadores portáteis para estudantes, Camarada?

Camarada, tens vergonha das reformas feitas no estado? Tens vergonha do programa Simplex, da empresa na hora? Da entrega do IRS pela internet? Tens vergonha do Cartão do Cidadão? Do fim dos subsídios vitalícios aos deputados? Da reforma da Segurança Social? Tens vergonha do código contributivo, dos serviços públicos electrónicos? Da redução das pobreza e desigualdades? Tens vergonha do Complemento Solidário para Idosos, Camarada?

Camarada, tens vergonha das medidas na economia? Do défice de 3% antes da depressão? Das medidas contra-cíclicas para a combater? Das linhas de crédito às PME? Do aumento do salário mínimo? Tens vergonha das infraestruturas? Da rede ferroviária? Do projecto TGV apoiado pela UE? Do novo aeroporto? Tens vergonha do crescimento da economia logo em 2010? Tens vergonha do investimento público, Camarada?

Camarada, tens vergonha da aposta na saúde? Tens vergonha do Hospital de Cascais? Do Hospital de Braga, do de Loures, do da Guarda? Tens vergonha do Hospital pediátrico de Coimbra? Do Hospital de Lamego? Tens vergonha da despenalização do aborto? Tens vergonha da rede de cuidados continuados, Camarada?

Camarada, tens vergonha das Novas Oportunidades? Da requalificação da economia e aposta em tecnologia? Tens vergonha das energias renováveis? Do carro eléctrico? Da rede de postos de carregamento? Tens vergonha da fábrica de baterias da Nissan que este governo deitou pela janela fora? Tens vergonha da fábrica da Embraer em Évora? Da nova refinaria da GALP? Tens vergonha do investimento da Portucel que esteve para ir para a Alemanha? Da expansão do Porto de Sines? Tens vergonha do aumento das exportações, Camarada?

Camarada, tens vergonha do anterior governo PS? Tens vergonha do que o teus camaradas de partido fizeram, daquilo por que se bateram? Tens vergonha dos nossos sucessos, dos nossos insucessos, das nossas apostas ganhas e das nossas apostas perdidas? Tens vergonha quando te chamam Socialista, quando te apontam o dedo e te dizem que faliste o país? Tens vergonha da tua própria história? Tens vergonha, camarada?

 

Então vota no António José Seguro."

 

Vega9000

 

21
Jun14

Bora lá então citar declarações de voto

David Crisóstomo

Desde o último acórdão do Tribunal Constitucional que a direita cá do condado descobriu que existem, no final de cada acórdão, uma cena reveladora da verdade suprema: as declarações de voto dos juizes. Tudo devido à declaração de voto de vencida da juíza Maria Lúcia Amaral, que apaixonou os bravos do laranjal. Ontem, no debate quinzenal na Assembleia da República, o senhor Primeiro-Ministro citou-a para responder à oposição, com o argumento de que estaria naquela declaração de voto a real visão sobre a interpretação da Constituição. Pois bem, então siga, vamos lá rever declarações de voto, que é onde consta estar a chave de todo o debate. Para não fazer disto um post maior que os dos acórdãos do TC [e mesmo assim já ficou demasiado grande], fui buscar algumas declarações de voto apenas dos acórdãos referentes aos Orçamentos de Estado de 2012 e de 2013, ao Código do Trabalho e ao diploma da "requalificação" dos funcionários públicos, 4 das 12 inconstitucionalidades da maioria PSD/CDS-PP:

 

"Ora, afastei-me do âmbito delineado pela maioria para a produção de efeitos da declaração de inconstitucionalidade, por entender que estes só não deveriam aplicar-se aos subsídios que, devendo ter sido pagos, não o houvessem sido no momento da decisão de inconstitucionalidade (o subsídio de férias de 2012, ou equivalente). No caso, não se deveria permitir que a norma, agora declarada inconstitucional, ainda viesse a produzir efeitos para além do momento da decisão deste Tribunal. Na prática, a decisão maioritária, quanto à produção de efeitos, tolera também, por razões que explica, a suspensão do pagamento dos subsídios de Natal de 2012 (ou equivalente), ainda que a considere inconstitucional. Na verdade, não tenho para mim como demonstrado que o facto de se encontrar a execução orçamental de 2012 já em curso, - e tanto mais que está apenas no início o segundo semestre do ano - inviabilizasse a adoção atempada de outras medidas universais alternativas que contribuíssem para o objetivo da garantia da solvabilidade das contas públicas. Mesmo tendo como seguro que não é ao Tribunal Constitucional que cabe qualquer opção nesta matéria, difícil será obnubilar que outras soluções legislativas foram anteriormente operacionalizadas de modo a contribuir com rapidez para a redução do défice, facto que, inevitavelmente, tem de ser ponderado em juízos de necessidade relativos a medidas posteriormente adotadas."


"E ainda que, em contradição de argumentos, se reconhecesse que um interesse público de excecional relevo justificaria, para todo o ano de 2012, a não produção de efeitos da decisão de inconstitucionalidade deste Tribunal, a meu ver, tal implicaria aceitar-se, num juízo de ponderação, que uma solução legislativa que o Tribunal Constitucional considerou constitucionalmente gravosa não teria, afinal, no ano que corre, suficiente peso para aqueles que a sofrem. Ora, não posso, de modo algum, subscrevê-lo. Por um lado, porque o que levou à decisão de inconstitucionalidade, que votei favoravelmente, foi admitir-se que nem mesmo as circunstâncias excecionais atualmente vividas permitem, à luz da Constituição, justificar uma situação fortemente inigualitária de ablação ou redução dos subsídios de férias e de Natal, imposta apenas aos que auferem remunerações salariais de entidades públicas, ou recebem pensões de reforma ou aposentação através do sistema público de segurança social, obrigando-os a um desmesurado sacrifício, em prol da comunidade. Por outro lado, atendendo ao variado leque de situações abrangidas pelas normas, é-me difícil aceitar que se tolere, durante todo o ano de 2012, o que para alguns casos será, certamente, um pesadíssimo sacrifício, sacrifício esse, não se esqueça, determinado por uma medida agora reconhecidamente inconstitucional."

 

Catarina Sarmento e Castro, no acórdão referente ao Orçamento de Estado para 2012, sobre a decisão de, nesse ano, a declaração de inconstitucionalidade não produzir efeito legal



"Nos termos dos n.ºs 1 e 4 do artigo 282º da Constituição, o julgamento do Tribunal Constitucional que declara a inconstitucionalidade com força obrigatória geral, como é o caso presente, "produz efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional", a menos que fundamentadas razões de interesse público de excecional relevo exijam que o efeito da declaração de inconstitucionalidade tenha alcance mais restrito.
O Governo não estava impedido de apresentar ao Tribunal Constitucional as suas razões quanto à não inconstitucionalidade das normas em causa.
Não o fez.
Para além disso, precavendo a hipótese de julgamento adverso, teria até o dever de invocar, se as houvesse, as razões de excecional interesse público que, em seu entender, imporiam uma restrição dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Também não o fez. Perante tais omissões, o Tribunal não pode afirmar – com a segurança e o rigor que lhe são exigidos – que há razões de excecional interesse público que impõem uma restrição dos efeitos do seu julgamento, pois fá-lo com base na mera suposição do "perigo" de insolvabilidade do Estado como decorrência da normal vigência dos efeitos do seu julgamento, circunstância que, como se viu, não foi sequer invocada pelo órgão a quem cabe, em primeira linha, a defesa de um tal interesse.
Não acompanhei, por isso, a restrição de efeitos decidida pelo Tribunal."

 

Carlos Pamplona de Oliveira, no acórdão referente ao Orçamento de Estado para 2012, sobre a decisão de, nesse ano, a declaração de inconstitucionalidade não produzir efeito legal



"Recaindo aquele imposto e a CES sobre o mesmo rendimento – a pensão – compreende-se que o valor da primeira possa ser abatido ao rendimento global, para efeito de apuramento da matéria coletável em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (cfr. o artigo 53.º do respetivo Código), evitando-se, por essa via, a dupla tributação. Contudo, isso não impede que os contribuintes pensionistas – apenas por serem pensionistas - independentemente da sua capacidade contributiva, possam vir a ter de suportar uma taxa média de impostos sobre o rendimento pessoal  superior à de outros contribuintes com rendimentos de outras categorias, incluindo os rendimentos do trabalho, e isto sem uma justificação objetiva fundada na própria natureza do rendimento (como pode acontecer com as taxas liberatórias, relativamente aos rendimentos de capital). Com efeito, tal sucede apenas porque se trata de pensionistas e porque se considera necessário reduzir o peso dos encargos com a segurança social no orçamento geral do Estado. Nessa medida, existe, desde logo, uma violação do princípio da igualdade."

"Acresce que a mesma contribuição não toma em consideração, a qualquer título, as necessidades do agregado familiar - sendo certo que, por força da alínea f) do n.º 2 do artigo 67.º da Constituição, incumbe ao Estado, para proteção da família, “regular os impostos e os benefícios sociais, de harmonia com os encargos familiares”. Enquanto tributação autónoma em relação ao Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, não são tomadas em consideração na CES quaisquer mecanismos ou técnicas que permitam acomodar os encargos familiares, como é o caso do método do quociente conjugal, acompanhado no ordenamento fiscal português de um sistema de deduções à coleta. Ora, como se decidiu no Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 57/95, “o princípio da igualdade é desrespeitado quando pessoas em condições iguais pagam impostos desiguais”."

"Com efeito, fica por explicar por que é que quem confiou as suas poupanças ao Estado em vista da obtenção de um complemento de reforma é chamado a «participar» na CES e quem confiou as poupanças a uma instituição de crédito privada ou a uma seguradora já não tem de contribuir…"

 

Pedro Machete, no acórdão referente ao Orçamento de Estado para 2013, sobre a não declaração da inconstitucionalidade da Contribuição Extraordinária de Solidariedade

 

"Vencida quanto à decisão de não inconstitucionalidade das normas do Orçamento de Estado para 2013 que estabelecem, para o ano de 2013, a redução salarial dos trabalhadores do setor público e o efeito equivalente a essa redução em certos contratos que visem a docência ou a investigação e nas pensões, ou seja as normas contidas no artigo 27.º, no artigo 31.º, quanto à aplicação do artigo 27.º aos contratos em causa, e no n.º 1 do artigo 78.º da Lei n.º 66-B/2012, de 31 de dezembro, que aprova o Orçamento de Estado para 2013 (LOE).

É nas situações de emergência ou crise financeira que mais importa tomar em consideração o bem comum tutelado constitucionalmente, de tal modo que a repartição dos sacrifícios seja feita sem afetação dos princípios da solidariedade, da igualdade e da proteção das famílias. O programa político de redução do défice não pode ser feito sem o respeito pela Constituição da República Portuguesa (CRP) e os seus princípios, desde logo o princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei. As normas em referência, tendo em conta o seu âmbito de aplicação, conduzem à identificação de grupos distintos de pessoas, sujeitos a regimes legais diferenciados. Na qualificação de situações como iguais ou desiguais, para efeitos da posterior aplicação do teste do princípio da igualdade, é determinante a razão de ser do tratamento jurídico que se lhes pretende dar. Ora, a aprovação das normas em causa tem como objetivo a redução do défice orçamental do Estado. Na medida em que visam solucionar um problema do Estado, enquanto coletividade, o interesse público por elas prosseguido diz respeito à generalidade dos cidadãos e não, unicamente, aos trabalhadores do setor público e/ou pensionistas. Acresce que através das referidas normas são afetados direitos fundamentais, designadamente o direito à retribuição do trabalho consagrado no artigo 59.º, n.º 1, alínea a), da CRP e o direito à pensão como manifestação do direito à segurança social consagrado no artigo 63.º, n.º 1, da CRP. De facto, o valor ou o montante das remunerações dos trabalhadores ou das pensões não pode deixar de estar abrangido pela esfera de proteção dos direitos fundamentais referidos pois representa um elemento essencial desses direitos. Se assim não fosse, a esfera de proteção ficaria comprimida a um conteúdo mínimo, de forma incompreensível e injustificável. A redução das remunerações ou das pensões representa uma restrição àqueles direitos que é constitucionalmente admissível mas que deve obedecer a parâmetros constitucionais, como o da proporcionalidade e o da igualdade. Estando em causa o tratamento diferenciado de grupos de pessoas, o controlo do respeito pelo princípio da igualdade por parte do Tribunal Constitucional não deve cingir-se a um controlo de evidência ou de mera ausência de arbítrio, antes se impondo uma análise mais densa e exigente. Tanto mais quando, como nos casos em presença, como referi, são afetados direitos fundamentais."

"A solução legal proposta assenta numa ideia de poder dispositivo unilateral do Estado sobre as remunerações de todos os trabalhadores do setor público e pressupõe que a garantia do direito fundamental à retribuição não tem igual expressão para todos os trabalhadores, o que não pode ser aceite. A Constituição não distingue o grau de garantia que merece a remuneração dos trabalhadores do setor público, privado ou do terceiro setor (artigo 59.º, n.º 3, da CRP)."

Maria de Fátima Mata-Mouros, no acórdão referente ao Orçamento de Estado para 2013, sobre os cortes salariais na função pública e nas pensões

 

 

"Ora, independentemente de saber se este tributo é um verdadeiro imposto ou uma contribuição financeira, maxime, um tributo parafiscal, sempre haverá que reconhecer que o mesmo viola um dos mais elementares princípios do Estado de Direito, a saber, o princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança dos cidadãos (artigo 2.º da CRP)."


"(...) atenta a configuração concretamente assumida pela CES – isto é, tendo em consideração as taxas praticadas e o seu âmbito de incidência objetivo e subjetivo – esta não respeita os ditames do princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso, revelando-se desnecessária e certamente desproporcionada em face dos fins públicos visados. Da imprevisibilidade e irracionalidade da alteração introduzida, conjugadas com a gravidade da penalização em que a mesma se traduz, decorre, em meu entender, a não prevalência do interesse público sobre os interesses particulares em presença, havendo que concluir, atento o iter percorrido, pela violação do princípio da proteção da confiança, dedutível do artigo 2.º da CRP, e, consequentemente, pela inconstitucionalidade da norma visada."

 

José Cunha Barbosa, no acórdão referente ao Orçamento de Estado para 2013, sobre a não declaração da inconstitucionalidade da Contribuição Extraordinária de Solidariedade

 


"Volvidos três sucessivos exercícios orçamentais, o corte de remunerações, três vezes reiterado, não encontra já respaldo na Constituição: o argumento, fundamental, do resultado imediato perdeu-se, e torna-se incompreensível a invocação da imperatividade ou natureza insubstituível da solução para a preservação da capacidade financeira do Estado, por não haver soluções alternativas, de outra natureza, através das quais se chegasse a igual valor certo. Aliás, esta razão, utilizada no acórdão para fundamentar a inconstitucionalidade do artigo 29.º, a que aderi, não pode deixar de estender-se, a meu ver, ao artigo 27.º. Acresce que o caráter cego da desigualdade mantida pelas reduções remuneratórias só pôde ser constitucionalmente suportável num contexto de efetiva provisoriedade, enquanto solução meramente conjuntural e imediata, justificada pela sua infungibilidade quando se procura atingir um objetivo legítimo e premente. Assim, mesmo não se considerando ultrapassada a difícil situação económica, e aceitando-se que se mantém o mesmo interesse público legítimo ligado a objetivos orçamentais essenciais ao reequilíbrio das contas públicas, com o decurso do tempo, não pode já justificar-se a imposição de uma redução remuneratória desigualitária com a sua imprescindibilidade (no sentido de opção única) para arrecadar um valor determinado de forma imediata."

Catarina Sarmento e Castro, no acórdão referente ao Orçamento de Estado de 2013, sobre os cortes salariais na função pública



"Independentemente do juízo formulado no Acórdão n.º 396/2011, nos parâmetros valorativos em que se moveu a Lei do Orçamento de Estado de 2011, quanto à introdução da medida do corte salarial dirigida apenas aos servidores públicos – categoria de pessoas cuja vinculação especial à prossecução do interesse público não pode significar a limitação da vida privada e familiar e habilitação a posição de desfavor na perceção de direitos de natureza patrimonial por referência a outros credores de prestações públicas -, não creio que se possa mais configurar esse sacrifício discriminatório, no terceiro ano de aplicação, e com funcionalização genérica e ambígua ao “equilíbrio efetivo das contas públicas”, como materialmente justificado. Não basta a sua apresentação como medida de política financeira basicamente conjuntural, de combate a uma situação de emergência, por definição passageira e de curto prazo. Como criteriosamente apontou o Conselheiro Vítor Gomes em declaração de voto aposta no Acórdão n.º 353/2012 “o decurso do tempo implica um acréscimo de exigência para o legislador no sentido de encontrar alternativas que evitem, com o prolongamento, que o tratamento diferenciado se torne claramente excessivo para quem o suporta”."

 

Fernando Vaz Ventura, no acórdão referente ao Orçamento de Estado de 2013, sobre os cortes salariais na função pública


"Acresce, a este respeito, que o regime assim configurado introduz uma maior desproteção dos trabalhadores – que integram a minoria cujo consentimento se dispensa – não abrangidos por instrumento de regulamentação coletiva de trabalho ou não sindicalizados que também não parece conciliável com as exigências de igualdade que a Constituição concretiza no proémio do artigo 59.º, n.º 1, quanto aos direitos dos trabalhadores."

 

Maria José Rangel de Mesquita, no acórdão referente ao Código do Trabalho, sobre o banco de horas

 


"E se é defensável que o nível de ofensa destes direitos fundamentais resultante da aplicação dos referidos regimes de flexibilidade admite ainda uma autolimitação pelos trabalhadores afetados, esse consentimento tem que resultar de um ato pessoal dos titulares desses direitos, não sendo admissível a sua imposição pela entidade empregadora, com mero fundamento na adesão ao regime do banco de horas por uma maioria dos trabalhadores de uma determinada estrutura económica de uma empresa. Estamos perante direitos de conteúdo eminentemente pessoal cujo nível de proteção constitucionalmente exigido não desaparece nem se fragiliza pelo facto da maioria dos trabalhadores da mesma estrutura económica de uma empresa terem concordado em autolimitar os seus direitos com igual conteúdo. Nem essa adesão maioritária é suscetível de permitir o funcionamento de uma presunção de favorabilidade da instituição do banco de horas para todos os trabalhadores, uma vez que os motivos dessa adesão podem ser os mais diversos, nem essa presunção pode funcionar de forma absoluta, impedindo os não aderentes de recusarem a sua sujeição ao banco de horas. Perante tão severa restrição de direitos fundamentais como são o direito ao repouso, ao lazer e à conciliação da atividade profissional com a vida familiar dos trabalhadores, só um ato pessoal de manifestação de concordância destes poderá legitimar essa restrição, pelo que, não estando prevista essa possibilidade, pronunciei-me pela declaração de inconstitucionalidade da norma constante do artigo 208.º-B, do Código do Trabalho."

 

João Cura Mariano, no acórdão referente ao Código do Trabalho, sobre o banco de horas

 

 

"A garantia da segurança no emprego, que o artigo 53.º da CRP consagra, não é uma “especificidade” da Constituição portuguesa. É antes um princípio comum aos Estados da Europa, se atentarmos no que dizem os artigos, que o Acórdão cita, das cartas europeias de direitos. O que está em causa é, tão-somente, o direito a não se ser arbitrariamente privado de um emprego que legitimamente se obteve, e que é o modo de sustentação da vida própria e familiar. A aplicação desta garantia (que é assim, tal como o princípio da continuidade mínima da ordem jurídica, um princípio constitucional comum aos Estados da Europa) ao emprego público traz, por certo, especificidades. Uma coisa é admitir restrições ao direito à segurança no emprego quando o que está em causa – como sucede nas relações laborais de direito privado – é a iniciativa económica privada, enquanto “valor constitucional” que legitime a restrição; outra coisa é admitir restrições a esta garantia quando o que está em causa – como sucede nas relações de emprego público – o bom funcionamento do Estado, convocado como motivo e fundamento para a restrição. Sobretudo em circunstâncias, como estas que rodeiam o contexto em que a presente questão é posta ao Tribunal, em que o “bom funcionamento do Estado” significa nem mais nem menos do que o imperativo de reestruturação da Administração Pública, não pode negar-se o particular peso e a particular intensidade dos valores constitucionais que justificariam a restrição do direito à segurança no emprego. Não há – sejamos claros – ordem constitucional que perdure para além da sustentabilidade do Estado, como não há constituição que racionalmente eleja como princípio orientador da ordem pública a “irresponsabilidade” (ou a indiferença) da geração presente perante a autonomia das gerações futuras. Simplesmente, e uma vez mais, para legitimar o comportamento arbitrário da administração no despedimento dos seus próprios “trabalhadores” seria necessária uma demonstração clara da essencialidade da medida para a prossecução desse princípio de sustentabilidade estadual. Cabia ao legislador ordinário o ónus da demonstração dessa essencialidade. Perante a sua inexistência, votei no sentido da inconstitucionalidade."

 

Maria Lúcia Amaral, no acórdão referente ao diploma da "requalificação" dos funcionários públicos

 

 

Incluo também aqui a parte final da declaração de voto da juíza Catarina Sarmento e Castro no acórdão de Orçamento de Estado para 2013, dada a sua relevância para o debate que hoje se trava. Se há citação a sacar de uma declaração de voto, é esta:

"Se é verdade que, à partida, todas as normas gozam de presunção de constitucionalidade, não sendo exceção as normas orçamentais ou fiscais, a confiança creditada ao legislador não aumenta nos ciclos de crise. As leis orçamentais e fiscais, potencialmente ameaçadoras de direitos fundamentais, vivem sempre, como as demais, num tempo que é sempre o da Constituição. O prolongamento, ou mesmo o agravamento, dos momentos difíceis não deve trazer consigo um inelutável aligeirar do controlo da constitucionalidade das normas. Pelo contrário, bem se compreende que, nos momentos de tensão e de dificuldades várias, a Lei fundamental assuma papel destacado, enquanto bitola delimitadora da margem de liberdade de que dispõe o legislador. E se a energia vinculativa de uma norma constitucional pode, em certos aspetos e com apertados critérios, esmorecer no confronto com um interesse público de relevância absolutamente indiscutível, ainda e sempre a criatividade do legislador terá de funcionar no quadro da Constituição."

 

20
Jun14

Ora, é mesmo isto

David Crisóstomo

Eu ia escrever sobre este voto mas, tal como já tinha acontecido num outro caso, um dos deputados já resumiu muito bem a minha posição. Ainda para mais dada a proibição antidemocrática de manifestações públicas pró-República que foi ontem decretada em Madrid. Parabéns à Isabel Moreira e aos outros 13 deputados do PS que hoje se abstiveram nesta votação: Isabel Santos, João Soares, Paulo Campos, Eduardo Cabrita, Miguel Coelho, Ana Paula Vitorino, Pedro Delgado Alves, João Portugal, Nuno Sá, Catarina Marcelino, Gabriela Canavilhas, Isabel Oneto e Mário Ruivo.

 

 

 

 

 

20
Jun14

"Parece que quis dizer: eu caio, mas o PS cai comigo."

Nuno Oliveira

Tomás Vasques ali ao lado: QUESTÕES POLÍTICAS NÃO SE RESOLVEM COM PARECERES JURÍDICOS

 

Quando confrontado com o desafio de António Costa à liderança do PS, António José Seguro podia ter revelado coragem política e desapego do poder convocando de imediato eleições directas internas para secretário-geral. Tinha poupado o partido socialista a um desgaste político desnecessário e, ganhasse ou perdesse o confronto, saía de cabeça erguida.

 

Acabou por reconhecer a legitimidade do seu opositor para o defrontar, marcando um demorado e desgastante processo para "eleição do candidato a primeiro-ministro", do qual resultará a sua demissão do cargo que ocupa em caso de derrota. Parece que quis dizer: eu caio, mas o PS cai comigo.

 

A situação para a qual Seguro está a arrastar o PS é de tal ordem prejudicial ao partido que 4 dos 6 secretários-gerais (Mário Soares, Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues e José Sócrates) têm condenado esta cega "fuga para a frente" do actual líder socialista. O caminho que Seguro tomou, enleando-se em estatutos e pareceres jurídicos para resolver uma questão política, é a melhor prova de que tinha (tem) de ser substituído por incapacidade para liderar o maior partido da oposição.

 

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«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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