Palhaçadas à parte, rir é importante. Afecta o estado de espírito e até a forma como nos relacionamos como os outros. Nada como uma boa e genuína gargalhada até por ser das sensações de maior liberdade que se pode ter. Desde logo porque não nos rimos por pedido ou paramos de o fazer se assim nos mandam, o que às vezes tem o efeito contrário: ainda dá mais vontade de rir. Nem sequer conseguimos controlar a duração do momento, do género "já chega".
O humor é, por isso, terapêutico em certa medida. Do mais non sense ao mais elaborado e direccionado, a caricaturização da realidade tem, no entanto, vários níveis de profundidade. Mais ligeiro ou mais agressivo, dependente também da realidade que se vive ser, ela própria, mais ou menos caricaturável.
O humor baseado na vida política é um bom exemplo disso mesmo. Os protagonistas são sempre uma boa matéria prima, mas obdecem a uma lógica de inversão bem curiosa: quanto pior, melhor. Quanto menos os políticos se dão ao respeito, mais mordaz e ácido se torna o humor. A alegria dos humorista, pela quantidade de material à disposição para trabalharem, torna-se assim a tristeza nacional pelo que tal implica.
Não há qualquer tipo de crítica a fazer aos humoristas pelo aproveitamento da situação. Pelo contrário. A denúncia de determinadas situações, muitas delas sérias, mesmo expostas através do ridículo humorístico, é sempre importante. A capacidade de nos rirmos das nossas próprias desgraças deve vir sempre acompanhada de um profundo sentimento de auto-crítica e de perceber o outro lado da moeda do humor.
A imagem do Chefe de Estado preparado para actividades circenses pode provocar mais do que um sorriso, mas é preciso saber qual a imagem que os portugueses têm do seu Presidente da República. Pode rir-se das figuras da nova Cilinha Supico Pinto, mas nunca esquecer que continua a crescer o número de famílias que passa a depender do Banco Alimentar. Fernando Ulrich pode aguentar bem ser o alvo da chacota humorística, mas não dá para ignorar que muitos dos quase um milhão de desempregados não têm condições sociais de poder regressar ao mercado de trabalho. Pode até dar vontade de rir ver o pai do primeiro-ministro dizer ao filho, pelos jornais, para entregar isto que não tem conserto.
"Isto", presumo, é o país. São estes pormenores, como outros que foram acontecendo ao longo destes últimos dois anos, que fazem com que as coisas já tenham deixado de ter piada.