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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

31
Mar13

Os mediterrânicos afinal são ricos (e sornas)!

Pedro Figueiredo

Na fase inicial dos empréstimos generosamente concedidos aos países mais endividados da União Europeia, e no auge do período “PIIGS must learn”, surgiu uma série de notícias que apontavam uma suposta diferença nas horas de trabalho entre os países do Norte e do Sul da Europa. No fundo, levava a crer que a malta do Club Med era sorna e pouco amiga de trabalhar.

As condições meteorológicas assim o demonstravam. Quem tem praia à porta de casa, não faz outra coisa na vida se não passar o tempo entre o surf e o bronze e a fazer corridas de motas de água. Todas de categoria F1, já que jetsky é para remediados.

Se foi com essa ideia (ou não) que os grandes obreiros do sucesso da actual Europa ficaram dos povos mediterrânicos, não sei. Na verdade, seria até interessante saber o que pensam os alemães dos seus companheiros europeus de caminhada e se acham que o projecto comum está a seguir na melhor direcção.

No entanto, surgiu um novo estudo, desta vez do próprio Bundesbank, que deve ter deixado o povo germânico a pensar que há contas que não devem estar a bater certo. Como é possível as famílias alemãs ainda serem mais pobres que as italianas e espanholas? O estudo, segundo o Spiegel Online, tem falhas e isso deve-se aos cálculos feitos que incluem o imobiliário. Apenas 44,2% dos alemães são donos das suas próprias casas, contra 82,7% dos espanhóis.

É a segunda vez que tentam plantar uma ideia na opinião pública alemã. O mais curioso é que o estudo sai três dias depois do ministro das finanças alemão ter acusado os críticos países europeus de inveja da Alemanha. Sim, senhor Schauble: os mais ricos têm sempre inveja dos mais pobres. São até os primeiros a dizer que o dinheiro não traz felicidade.

30
Mar13

Da anatomia dos sevandijas

Cláudio Carvalho
Não sei se é uma realidade particularmente portuguesa, nem interessa para o caso, mas constato que boa parte dos fazedores de opinião do burgo sustentam as suas conclusões ou posições com base na realidade como a imaginam e não de acordo como ela realmente é. Depois, a "opinião pública" vai ao sabor da maré dos sevandijas de serviço, consoante lógica similar. Os factos nada interessam. Se não gostam de um fulano, basta apimentar uma hipótese com uma boa dose de demagogia, que logo se tornará numa verdade dogmática aos olhos do público. O forte enraizamento cultural do futebol e a mentalidade sebastiânica fazem o resto; quão angustiante é, este fenómeno bem português da futebolização da discussão política e da adoração de políticos disfarçados de comentadores que julgam deter toda a verdade e serem os salvadores de uma nação, nem que para isso seja preciso inventar a realidade. Em comentarismo política, não vale tudo.
29
Mar13

A prata

David Crisóstomo

 

Sejamos culturais, senhor. Sejamos eruditos e brilhantes. Sejamos deslumbrantes na arte de interpretar a arte feita por artistas artísticos. Sejamos superiores, senhor. Pois só os da estirpe elevada são dotados da magnânima clarividência que permite o julgamento e a distinção entre os iluminados e os seres asquerosos. Monsieur Manuel Maria, Carrilho de seu nome genealógico, outrora o responsável-mor pela Cultura com cê hercúleo, decidiu em plena quinta-feira de endoenças, num nobre acto de educação das massas ignorantes, declamar a sua superior opinião sobre as vis criaturas que por esta nossa terra caminham. E oh senhor o que ele encontrou, concluiu, magicou. Relvas (Relvas, senhor!), aquele cuja a existência humana tem certamente como propósito o de nos relembrar da baixeza dos espíritos terrenos, é, nada mais nada menos, igual a Sócrates. Sócrates e Relvas são iguais, senhor. São bestas da mesma laia, provêem do mesmo pântano, expressam-se na mesma língua desprezível. E não só: Sócrates, além de ser Relvas e Relvas além de ser Sócrates, são ambos comparáveis a Berlusconi e a Sarkozy. Abençoado seja o Manuel Maria, senhor, pois ele nos revela a verdade ocultada. Pois Sócrates será certamente Relvas. Está mais que provado senhor, pois nunca o egrégio Manuel Maria mentiria, senhor, nunca, ele não calunia, ele não difama, ele não detrai. Manuel Maria, catedrático da alta cultura, curador do Louvre nas horas vagas, o exemplo carnal do pensador de Rodin, não atacaria, não senhor, pois este mestre d'Accademia está acima de todos nós, senhor, humanos estultos, pobres de sabedoria e conhecimento. Manuel Maria tem a verdade, senhor. Nunca poderíamos discordar de Manuel Maria, senhor. Se Manuel Maria nos diz que Sócrates e Relvas são siameses separados no pós-parto, então é a verdade absoluta. Manuel Maria não precisa de apresentar factos, senhor. Não precisa de provas, argumentos lógicos, informações precisas, racionalidade. Manuel Maria está acima disso senhor, pois para ele os frescos de Giotto não têm segredos, pois a ele Virgina Woolf revelaria todas as suas profundas angústias, pois a ele Franz Kafka explicaria os horrores do mundo burocrático, pois a Liebestraum n.º 3 de Liszt é a melodia que ele cantarola no duche. Estou certo disso, senhor. Manuel Maria está acima de todos nós, não precisa de nos justificar os seus brilhantes pensamentos, pode acusar, perdão, desmascarar!, na praça pública qualquer ogre encapotado. Se Manuel Maria diz que Sócrates é Relvas, então Relvas será Sócrates. Não questionamos, curvamo-nos. Ele trabalhou em palácios sabeis senhor? E filosofou, oh se filosofou, senhor. E tem a santa bondade de nos abençoar com os seus santos conhecimentos filosóficos toda a santa quinta-feira. Especula-se que já terá obtido a pedra filosofal e que anda por ai a transformar políticos inferiores em políticos d'oiro. Mas Manuel Maria será vitima de nojentos ataques que dirão que ele é um invejoso, um pulha, um canalha deslumbrado. Dirão de tudo, senhor. Dirão aliás que ele é como as "criaturas mitómanas, destituídas de superego e, portanto, de sentido de culpa ou de responsabilidade. Revelam uma contumaz incapacidade de lidar com a frustração, que é, como Freud bem ensinou, onde começam todas as patologias verdadeiramente graves. Com eles, tudo se dissolve num narcisismo amoral, quase delinquente, que vive entre a alucinação de todos os possíveis e a rejeição de quaisquer limites. Eles estão pois muito em linha com o paradigma do ilimitado que tem anestesiado e minado o mundo nas últimas décadas." Tudo falso, senhor. Querem-lhe mal. Não, senhor, Manuel Maria não é assim.

Anh? Não entendi senhor. Porquê, perguntais vós? Oh senhor, porque Manuel Maria é muitíssimo culto. Como assim 'isso não é justificação'? Mas, senhor, não compreende? Manuel Maria é corajoso, é integro, é puro. É a personificação da veracidade e o senhor sabe-o. Não entende? Os outros são ciumentos e repugnantes, senhor. São nojentos, senhor. E o senhor cale-se que já me está a chatear. Nota-se que não sois culto como D. Manuel Maria. Calai-vos senhor.

 

29
Mar13

E ainda: o inenarrável José Gomes Ferreira

mariana pessoa

José Gomes Ferreira, em mais uma das suas piadolas, tenta responder ao que considera serem os embustes de Sócrates.

 

Detenhamo-nos neste: "O Ministro das Finanças dele não lhe disse que ao final de um mês não havia dinheiro para salários? Esqueceu-se dessa parte? E os jornalistas esqueceram-se de lhe perguntar? Esse é o primeiro embuste, não havia dinheiro para salários. Portanto não é verdade que a situação fosse como a Espanha e a Itália. É ao contrário. Estávamos à beira de os cofres do Estado não terem dinheiro para pagar salários. Está dito, está escrito, está documentado

 

Pois está. Está documentado no livro de Emanuel dos Santos, “Sem Crescimento não há Consolidação Orçamental – Finanças Públicas, Crise e Programa de Ajustamento”. Foi Secretário de Estado do Orçamento entre 2005 e 2011. É capaz de saber umas coisitas, quiçá mais do que o vendedor de farturas que ulula na SIC.


E o que diz Emanuel dos Santos? 


"Demonstramos como o argumento da falta de dinheiro para salários não tinha fundamento. Aliás, desde que a economia seja capaz de gerar receitas fiscais e a respetiva administração tenha capacidade para as cobrar, o dinheiro para financiar as funções do Estado só falta se não houver rigor na gestão dos serviços públicos ou se for utilizado para satisfazer amortizações da dívida pública que os mercados não refinanciem em condições razoáveis”


“No primeiro semestre de 2011 as receitas cobradas de impostos sobre o rendimento (IRS e IRC) ascenderam a 5,643 mil milhões de euros e os salários pagos aos trabalhadores do Estado e dos Fundos de Serviços Autónomos somaram 5,099 mil milhões de euros, ou seja, o valor da cobrança de apenas dois impostos foi suficiente para pagar todas as remunerações certas e permanentes da responsabilidade da Administração Central. Note-se que a soma daqueles dois impostos é inferior à receita arrecadada no mesmo período respeitante ao IVA (6,644 mil milhões de euros). Ora, numa situação em que a confiança no país estava a ser abalada, a atitude mais correcta não era contribuir para esse processo de descredibilização, mas antes pelo contrário, destacar as nossas capacidades e virtualidades, como era, no caso, a boa execução orçamental


Bem sei que José Gomes Ferreira é um pin up das alminhas que vêem em Sócrates a personificação dos males do mundo. E todos vemos como isso o tem alavancado nas redes sociais, onde a cada 3 horas morre um panda bebé e se partilha um vídeo de José Gomes Ferreira com títulos do tipo "Eis o homem que fala a verdade toda, todinha, até não restar nem mais uma gota". 


Mas talvez se passasse menos tempo a processar bilis de verme e mais tempo a estudar, talvez não partilhasse estes dichotes populistas da propagação de embustes narrativas falsidades convenientes a quem está sempre pronto a afagá-lo pela sua lealdade enternecedora.

29
Mar13

"Onde o antigo PM disse que não tem culpas no descalabro do país"

mariana pessoa

"Erros no passado em toda história, Sócrates reconhece apenas um" (ter aceitado formar governo sem maioria absoluta) 


Esta introdução, no Jornal da Noite da SIC no day after à entrevista de Sócrates na RTP, junta-se ao coro de comentários cujo denominador comum é este: igual a si próprio, a besta negra nunca reconhece culpas próprias.

 

 


Ora, eu não sei se todos vimos a mesma entrevista, mas aqui vão excertos da entrevista do ex-PM:


"Não digo nenhuma responsabilidade, a nossa gestão da crise teve as suas consequências e nós procuramos fazer face a elas"

"Todos os políticos cometem erros"

"Aceito as responsabilidades que tenho e não aquelas que me querem atribuir à força (...) as responsabilidades de comandar uma governação que pretendeu fazer face à crise"

"Se reconheço que há dimensão nacional? Claro que há, existem debilidades estruturais, passei 6 anos a tentar combatê-las"

 

Eu não sei muito bem qual era a expectativa, mas isto é admitir erros. Talvez a esperança do colectivo nacional fosse uma coisa à Egas Moniz, uma corda ao pescoço em vez da gravata azul bebé. Ou algo como fez Guterres recentemente. Imagino que se sacrificassem borregos aos deuses se Sócrates fizesse uma declaração deste tipo, um feriado nacional é que vinha a calhar. 

 

Mas qual é a novidade? Com Sócrates sempre foi assim, de faca nos dentes. Podia ter ganho com maioria absoluta as eleições de 2009 caso esta forma de ser PM previsse o taticismo político de não abdicar de Maria de Lurdes Rodrigues. Foram os professores que retiraram a maioria absoluta ao PS. E convenhamos: quem governa de faca nos dentes tem parcas possibilidades de estabelecer pontes suficientes para aguentar um governo de maioria simples. Afinal de contas, o principal factor identificado por Sócrates para a falência do plano.

 

29
Mar13

A Palavra de José Sócrates

Ricardo Sérgio

Quando escolhe as primeiras frases e justifica o seu regresso, José Sócrates, destemido, sublinha a importância do tempo:

É tempo de tomar de palavra”.

A citação, que poderá revisitar Eclesiastes e que se transporta para além da formulação, assume evidente sinal de aviso para “essa gente”.

É um regresso que assusta e faz tremer lá fora. E só lá fora.

Há, agora, outra rocha, que quer e que vai impedir a propagação do tal buraco que se escava. Há, agora, outra rocha, que quer e que vai impedir o alargamento do fosso.

Mas, revisitando de novo Eclesiastes, José Sócrates faz-nos regressar a III a.C. e à família dos Tobíadas, que controlava então a política interna e externa, a economia e o comércio.

José Sócrates, entre metáforas, desmonta - ancorando-se no exemplo da Palestina, então colónia da dinastia dos Ptolomeus - a estrutura social injusta, mas que se dizia justa. A estrutura social que se dizia vítima de crimes passados, mas que mais não era do que vítima dos crimes presentes e que serão julgados no futuro. No curto futuro.

Mas, mais, José Sócrates lembra novamente Eclesiastes e convida a destruir – a tal mão que se esconde no arbusto.

E, depois, convida a uma construção.

E quando convida à construção, quando desmonta a narrativa, quando se revê em Eclesiastes e quando ensina porque trilhou aqueles caminhos e explica agora os outros, José Sócrates aponta para o futuro:

Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?”.

28
Mar13

Embuste. Narrativa.Ponto de vista

mariana pessoa
Ainda não consegui escrever nada que excluísse estas 3 palavrinhas. Por isso, tenham paciência.
Até lá, fica o primeiro ensaio de fact checkers em Portugal, via Jornal de Negócios: http://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica/detalhe/factos_e_numeros_ditos_por_socrates_sao_verdadeiros_ou_falsos.html

Para mentiroso, ladrão e pinóquio não está mal de todo, não.
26
Mar13

Milagre da multiplicação

André Fernandes Nobre

Primeiro eram quatro.

 

Afinal (que confusão!) os quatro não eram para agora, ficam para depois.

 

Aparentemente, nem uma coisa, nem outra, são cinco vírgula seil mil milhões e são para já ou suspende-se a próxima tranche.

 

Dos muitos nomes que podemos dar a esta situação, sei de um um que fica automaticamente excluído: ajuda.

 

Agora imaginem Vitor Gaspar a descrever um por um os passos necessários para consubstanciar aqueles cortes: morremos todos antes de chegar a próxima parcela...

26
Mar13

Definitivamente, a vergonha é uma coisa démodé

André Fernandes Nobre

Pág. 1/5

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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