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365 forte

Sem antídoto conhecido.

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20
Nov12

Dique alemão

Pedro Figueiredo

A Organização Mundial do Comércio (OMC) pode ter sido criada com a maior das boas intenções. Este tipo de instituições, na sua larga maioria, surge pela necessidade de zelar por um bem maior De todos. Que extravasa países. Temos até um exemplo bem próximo: basta olhar a actual União Europeia, descendente grandioso mas envergonhado das suas raízes humildes que foi o tratado que criou a então Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), em 1951.


A questão é que uma boa ideia, mal gerida, pode transformar qualquer sonho num pesadelo. Não é para aqui chamado o que se perdeu na União Europeia. Pode ficar para um outro post. No entanto, desde logo salta à vista que se perdeu o rumo. Talvez devesse ter estudado o Tratado de Lisboa a fundo, mas pelo que fui lendo (e não estão em causa as fontes), o último acordo conseguido pelos 27 membros transformou a Europa num processo altamente burocrático, com o expoente máximo na criação da figura do Presidente do Conselho Europeu. Para grande azar do senhor Van Rompoy, claro.

 


A caixa de Pandora que foi aberta pela OMC foi mesmo a entrada da China. A maravilha do liberalismo económico. O grande monstro asiático adormecido finalmente acordava para o mundo.


Os alemães, justiça tem de lhes ser feita, depois da II Guerra Mundial, precisavam arrumar a casa. Sobretudo dar-se bem com os vizinhos que tinham espezinhado pouco tempo antes. O projecto europeu, lutar por ele, pela paz na Europa (nunca esquecer os propósitos do CECA), parecia a oportunidade perfeita. Sem exército próprio para financiar (foram proibidos de ter a seguir ao Holocausto), a Alemanha abriu a pestana e piscou o olho aos parceiros escandinavos. Devem até ter aprendido algo com eles. Vantagens de quem começa praticamente do zero.


Hoje, em qualquer parte do mundo, se se perguntar a quem quer que seja qual o sinónimo de indústria automóvel alemã, não estaria muito longe da verdade se a quase totalidade dos sondados respondesse: eficiência. Há exemplos que podem soar a clichés, mas são a mais pura das verdades.


Mas os alemães devem ter percebido cedo que a aproximação da China ao resto do mundo não seria propriamente o sétimo céu. É certo que o mercado deles é de 1,3 biliões de consumidores e que este tipo de comunismo de alta finança gera tantos ricos como qualquer off-shore em Nassau. Só que quando a esmola é grande, nem só o pobre desconfia. Há ricos de olho aberto. A China sempre havia sido a oficina da contrafacção mundial. Agora com as portas abertas... era só fazer contas. Até a insuspeita Apple percebeu e já tem o cuidado o cuidado de escrever nas caixas dos seus produtos: desenhado na Califórnia e montado na China.


Na Alemanha preparou-se para o embate. Uma década sem aumentos salariais. Aguentaram? Ai aguentaram, aguentaram. Mas uma década não são quatro anos, nem dois. Nem muito menos um trimestre. O dique germânico foi aberto aos bocadinhos e água excedente da albufeira foi saindo aos poucos. Não de cascata desenfreada. O modelo milagroso germânico pode funcionar na Alemanha e com 10 ou mais anos de tampão. Abrir as comportas de uma vez só, dá cheia. De tal forma que a força das águas está a levar tudo pela frente.


Não há dúvida que a Alemanha é a locomotiva económica da Europa. Ninguém o nega. Mesmo na hecatombe (que o subprime norte-americano fez o favor de espoletar e piorar ainda mais) financeira em que o mundo está atolado, em que tudo dependente das agências de rating, sensíveis a qualquer espirro mais deficitário, a Alemanha mantém-se firme. Está é a perceber que algumas carruagens que puxa está a atrasar a composição.


Poderão até estar a pensar em abandonar algumas pelo caminho. Ou não. Podem estar já a conceber o plano técnico para dar corpo ao helicóptero de dinheiro, solução apontada pelo prémio nobel da Economia, o senhor Milton Friedman. Não vai chover dinheiro, mas pode acalmar as águas. Que nesta borrasca são já poucos os que conseguem ir levando o barco.

 

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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