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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

02
Jan14

Qualidade da democracia

David Crisóstomo

 

"Nesta eleição há vencedores e há derrotados. Venceram os que acreditam em Portugal, os que têm a coragem da esperança. Venceram os que estão na vida pública com uma atitude construtiva, os que fizeram uma campanha com ideias, com projectos a pensar nos portugueses

Nesta eleição há vencidos. São aqueles políticos e os seus agentes que preferem o caminho da mentira, das calúnias, dos ataques sem sentido ao debate de ideias sobre o futuro de Portugal."

 

"Esta é a noite da vitória da dignidade. A honra venceu a infâmia e a qualidade da democracia ganhou com esta vitória da dignidade."

 

Na sua última intervenção ao país, o Presidente da República voltou a urgir a necessidade de um consenso, de uma união, da unidade de todos os portugueses. De um Compromisso de Salvação Nacional, como ele lhe chama. De uma cessação da discussão, do debate, da divergência e multiplicidade de pensamentos, opiniões, alternativas. Dando a ideia de que não há nem haverá alternativa às decisões politicas dos últimos anos, Cavaco Silva voltou a pressionar os agentes políticos para abdicarem das suas visões próprias sobre o futuro do país e a fundirem-se num projecto consensulizador e uniforme para a República. Cavaco crê que o debate e as discordâncias democráticas não servem o país. Que a existência de oposição ao rumo escolhido prejudicam a nação. Que só há um caminho, seja ele qual for. É da máxima importância que estejamos todos de acordo, que não haja dissonâncias nem divergências, que estejamos todos unidos em volta de algo que a Presidência da República aprove. É da máxima urgência que nos transformemos numa democracia sem discordâncias, apelou Cavaco Silva na mensagem de abertura do 40º ano da democracia portuguesa.

Não é a primeira vez que Cavaco Silva insiste na tónica do unanimismo e do consenso salvífico. Já o tinha feito e certamente voltará a fazê-lo. Apesar de ter "uma magistratura activa", Cavaco Silva nunca quis criar alarido, confusão, discórdia. Nunca desejou que o responsabilizassem, que pudesse ser alvo de critica. Prefere deixar isso a outros, utilizar ventrículos, falar por interposta pessoa. Nunca dar a cara, mostrar sempre as costas. Um Presidente Not To Be Disturbed. Daí o desejo pelo supremo consenso nacional. A ausência de discussões, a ausência de "chatices", permitiram-lhe quase que "reinar", sem incumbências, sem responsabilidades. O perfeito "centro de mesa", como lhe chamou Ricardo Araújo Pereira. Não preside, apenas está lá para acenar e colher eventuais louros. Coisas que apenas lhe engrandeçam a imagem. Tudo o resto é dispensável. A parca incitativa de fiscalização da constitucionalidade (Orçamento de Estado para 2012, Código do Trabalho e Orçamento de Estado para 2014 não lhe suscitaram quaisquer dúvidas, aparentemente) é o mais demonstrativo exemplo.  

As citações acima expostas são do discurso de vitória das eleições presidenciais de 2011. Após um mandato marcado pela baixa intriga, Cavaco Silva é reeleito e expõe a sua mesquinhez. A mesma que irá exibir nos meses seguintes, auxiliando a direita nacional a mandar às urtigas a estabilidade nacional, a derrubar um governo e a empurrar o país para o memorando que inspirou os relojoeiros do CDS-PP. Cavaco Silva, que tem ignorado o juramento que prestou na sua tomada de posse, pede um Compromisso de Salvação Nacional. Eu peço-lhe um pouco de respeito por essa Constituição que jurou cumprir, pelo cargo que ocupa, pela República a que preside. Um pouco de dignidade, somente.

 

 

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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