06
Dez13
O grande hipócrita
Nuno Oliveira
Já aqui se tinha recuperado a história. Há menos de um mês, Alfredo Barroso recordou o dia em que Portugal se isolou do resto do Mundo para ficar lado a lado com Estados Unidos e Grã-Bretanha, Reagan e Thatcher, votando contra a libertação incondicional de Nelson Mandela. Apesar de, como o David recorda, ter também votado favoravelmente e no mesmo dia uma outra resolução com uma redacção diferente e que defendia a libertação incondicional de Mandela.
Terá encontrado porventura na redacção da referida proposta um pretexto para votar contra. Mas note-se que foi um pretexto que Portugal encontrou apenas a par de Grã-Bretenha e Estado Unidos. 22 países optaram pela abstenção.
Percebe-se assim que, na ocasião da sua morte, Cavaco elogie em Mandela a coragem política que nunca teve. Pode dizer-se que agora como na altura, Cavaco se encostou à posição que no seu mau juízo julgava mais cómoda para os "interesses nacionais".
Terá encontrado porventura na redacção da referida proposta um pretexto para votar contra. Mas note-se que foi um pretexto que Portugal encontrou apenas a par de Grã-Bretenha e Estado Unidos. 22 países optaram pela abstenção.
Percebe-se assim que, na ocasião da sua morte, Cavaco elogie em Mandela a coragem política que nunca teve. Pode dizer-se que agora como na altura, Cavaco se encostou à posição que no seu mau juízo julgava mais cómoda para os "interesses nacionais".
É também essa a razão pela qual a história será certamente pouco generosa com Cavaco. Porque ao contrário de tantas figuras históricas, algumas das quais portuguesas, Cavaco nunca arriscou a vida, a liberdade ou sequer o seu conforto, fosse ele material ou político, por algo em que profundamente acreditasse. E já será porventura generosidade excessiva presumir que acredita em algo, politicamente falando.
Não sei que epíteto a história lhe reservará. Mas o grande hipócrita é uma forte hipótese.