22
Nov13
Perigosos simbolismos
Pedro Figueiredo
Imagem CMTv
O derrube das grades de protecção e a consequente subida da escadaria da Assembleia da República por parte das forças de segurança que ontem se manifestaram vai mais além do valor simbólico que possa ter. É um perigoso simbolismo. A vários níveis.
Desde logo porque ficou bem claro ao país que os cidadãos não são todos iguais. Durante a marcha dos agentes até ao Parlamento já tinha ocorrido o rebentamento de petardos (qual claque de futebol...), o que levou os organizadores a pedir alguma contenção na forma como expressavam a sua indignação. A justificação, válida, é que por serem autoridade não podiam manifestar-se como qualquer outro cidadão. Teriam de dar o exemplo.
Era só o pronuncio do que viria a acontecer depois, ao serem derrubadas as grades de protecção e de terem subido a escadaria ficando, simbolicamente, cara a cara com as portas do poder. Entrar será o passo seguinte?
Acontece que, não se podendo alhear do facto de se tratarem precisamente de agentes de segurança pública, o comportamento das forças que garantiam a segurança não se teria verificado se fosse com qualquer outra classe de manifestantes. Não sem que tivesse havido intervenção para reprimir tão ousado acto. Perigo número um, a que o Governo não pode simplesmente assobiar para o lado. Aliás, que dirá o ministro da Administração Interna sobre o sucedido? Para todos os efeitos, tratou-se de uma invasão.
Há ainda outro perigo, de muito maior gravidade, e que merece proporcional atenção. Paulo Rodrigues, da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, reconheceu no momento que apesar de simbólica, a subida das escadarias poderia não ser abonatória à imagem dos agentes envolvidos. No entanto, tal também serve para justificar o «grau de desespero» [expressão do dirigente sindical] a que muitos profissionais já chegaram.
Isto na mesma noite em que Mário Soares, na Aula Magna, no encontro para a Defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social, alertava: «É verdade que há muita gente com medo. Mas outros estão tão desesperados que já não têm nada a perder.» E não há nada pior do que ter gente desesperada, sem nada a perder, armada na rua. Sejam agentes de segurança ou não.