Somos todos parvos, é isso?
Incomoda bastante a deriva fanática ideológica deste Governo contra o Estado. Mas incomoda mais esta amálgama de declarações oportunistas ao sabor do vento. Se excluirmos a hipótese de Passos ser tontinho somos levados a acreditar que nos toma por parvos quando sugere que o "sucesso" da Irlanda se deve ao facto de ter efectuado "um esforço" maior que Portugal nos cortes.
Bem nos recordamos que o Governo afirmou logo a seguir às eleições querer ir além da troika. E também sabemos que esse ir além da troika se revelou no carregamento à cabeça, ou frontloading, dos montantes de austeridade implementados como se ilustrou em post anterior.
Ficou à vista o resultado desastrado do frontloading. Naturalmente, Passos teria de ensaiar algo desresponsabilizante e afirmou que "a crise tem sido mais forte porque as pessoas gastaram menos do que previmos." Mais tarde, surge a necessidade afirmar não ter tido intenção de ir além do memorando nos montantes de austeridade mas apenas nas reformas estruturais.
Ontem, por um instante, ficou a sensação de Passos querer retomar a retórica do ir "além da troika" sugerindo que o sucesso da Irlanda se baseia num esforço maior no corte de salários e pensões. Presume-se então que o nosso passaporte para o "sucesso" irlandês passaria uma maior recessão e desemprego dado que Passos reconhece o impacto recessivo dos cortes. A outra hipótese seria, claro, recuperar a tese da "austeridade expansionista".
Mais que caricato, trágico. Seria bom que esta vergonha a quem chamam primeiro-ministro se inibisse de nos tomar por parvos. Sistematicamente.