Da calçada portuguesa
Face à notícia da intenção de substituição de uma parte da calçada portuguesa em Lisboa custa um pouco entender esta reacção negativa, expressa com maior densidade neste artigo de opinião. Não cedo à tentação de transformar aquilo que é facialmente a intenção de preservação de uma determinada herança cultural numa manifestação de conservadorismo. Faço até um esforço para entender algumas das sugestões avançadas pela associação.
Mas não pode deixar de causar estranheza que a associação não tenha em consideração a dimensão do fenómeno. A calçada portuguesa é, combinada com o envelhecimento da população e a orografia de algumas zonas da cidade, um problema quotidiano para muitos dos que circulam em Lisboa. Não há pontos negros na calçada portuguesa no que diz respeito à mobilidade: há extensas áreas negras.
Falamos de casos não esporádicos de quedas como falamos de uma genérica perda de mobilidade. Transformada muita vezes numa limitação real de efectuar determinados percursos. Isto tudo numa calçada em perfeitas condições. Podia acrescentar-se um sem número de casos resultantes de uma por vezes rápida degradação do pavimento em calçada.
Sabemos que há soluções de revestimento ou soluções que alternem dois tipos de pedra, mas também sabemos que essas soluções têm de ser devidamente avaliadas na sua relação custo-benefício. Poderão ser soluções para alguns casos mas é duvidoso - muito duvidoso - que possam ser encaradas como soluções para áreas extensas. Como noutros casos poderá ser solução a preservação da calçada tal qual ela se encontra neste momento. Mas aquela que parece ser a solução mais sensata é uma progressiva substituição do pavimento em zonas críticas da cidade salvaguardando naturalmente as envolventes das zonas de maior interesse histórico e/ou turístico.
Não se pode, de forma nenhuma, ser insensível a uma limitação real e quotidiana da mobilidade de uma parte da população. Quando Paulo Ferrero diz que o tema não foi discutido na campanha percebo o que diz. Creio que pretenderá dizer que não foi alvo de um confronto mediatizado entre candidatos. Mas não se julgue que esteve ausente da campanha. Quem fez campanha diariamente nas ruas sabe que foi um tema recorrente nas interpelações dos cidadãos mas possivelmente em sentido oposto ao que Paulo Ferrero gostaria. Os cidadãos exigem soluções que garantam uma mobilidade segura. Como lho garantirá qualquer candidato nas últimas eleições.