Não há maior desperdício de recursos que um sistema de ensino elitista
Não sei se Nuno Crato vai implodir o Ministério mas arrisca-se a implodir o sistema de ensino português. Este programa, hoje noticiado, mostra um projecto de ensino elitista que parece destinado a excluir os menos preparados aumentando por esta via as desigualdades.
É difícil imaginar alguém ser cúmplice de um projecto que tão ostensivamente promove a desigualdade. E não é fácil imaginar maior desperdícios de recursos humanos e financeiros como o que o este projecto se presta a concretizar.
Aqui fica a ilustrativa reacção da Associação de Professores de Matemática, retirada da mesma notícia do Público:
"A dirigente da Associação de Professores de Matemática (APM) Lurdes Figueiral afirmou nesta terça-feira que o novo programa da disciplina para o secundário, ontem colocado em consulta pública pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC), “visa afastar alunos do ensino regular para percursos alternativos” e defendeu que ele “terá de cair quando o Governo cair”.
“O programa é de uma extensão brutal, são introduzidos temas e capítulos de uma complexidade matemática desajustada a este nível de ensino e as dificuldades da transição do ensino básico para o secundário são ignoradas — nada neste novo programa faz qualquer sentido”, criticou. (...)
A dirigente da APM frisa que a proposta de programa — que está em consulta pública até dia 2 de Dezembro — “ignora os resultados de todos os estudos internacionais e não tem nada a ver com qualquer programa internacional dos países de referência”. “Com nenhum e, nomeadamente, com o de Singapura, que o ministro da Educação tanto gosta de citar”, frisou.
“Em Singapura, além dos objectivos técnicos da matemática, existem também outros objectivos, como o desenvolvimento de atitudes positivas em relação à disciplina e de capacidades para encontrar formas criativas e intuitivas de formular e resolver problemas. Ora, tudo isso está ausente e o que vemos neste programa é um excesso de formalismo que deu maus resultados nos anos 1960 e que é considerado negativo e desadequado pelos mais eminentes e brilhantes matemáticos”, analisou Lurdes Figueiral.
Na sua perspectiva, não está “em causa o aumento da exigência”. “Não se trata de ser mais difícil ou menos difícil, mas de ser absurdo. Em lugar nenhum do mundo se aborda, sequer, a lógica e a teoria de conjuntos e formalismos associados, nomeadamente relações de equivalência”, exemplificou. Considerou que “o excesso de formalismo, a extensão do programa e o desinteresse dos alunos” resultarão “num aumento brutal de insucesso”, numa primeira fase, e, depois, “no abandono, pelos alunos, dos cursos que têm Matemática A, e na procura de cursos alternativos”. "Só pode ser aí que o MEC pretende chegar", disse. (...)