A inevitável demissão de Rui Machete
Caminhamos para a conclusão que, de facto, Rui Machete teria mais informação do que seria suposto. Corrijamos: mais informação do que seria suposto ele admitir publicamente. O arquivamento do processo hoje noticiado pelo Público vem fortalecer essa hipótese, que já era inicialmente a mais plausível. Paulo Gorjão, tendencialmente receptivo a teses favoráveis ao Governo, também o diz.
Podemos até partir de uma perspectiva relativamente benigna. Podemos assumir que teria havido contacto entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Procuradoria-Geral da República de forma discreta e de forma a preservar a independência entre poderes bem como o segredo de justiça. Não seria difícil imaginar um diálogo entre pessoas experientes baseado em afirmações subtis, entrelinhas e não-ditos.
Partindo desta perspectiva, a articulação entre MNE e PGR depende da capacidade dos envolvidos mas também da confiança mútua. Após este caso, é difícil acreditar existir ainda alguma réstia de confiança da Procuradora-Geral Joana Marques Vidal na capacidade e na discrição de Rui Machete. (E face à indiscrição de Machete é pertinente considerar até uma perda de confiança em Machete por parte de outros actores políticos e diplomáticos.)
Assim, se notarmos que processos com melindre diplomático não serão propriamente frequentes mas estarão longe de ser raros - considerem-se não apenas os dignitários estrangeiros mas também as comitivas diplomáticas sediadas em Portugal e até outras figuras de elevada relevância, vemos que num qualquer episódio futuro estará vedado a Rui Machete, com alta probabilidade, qualquer indicação da PGR, por mais discreta e subtil que fosse a indicação.
Vê-se assim como a inevitável demissão de Rui Machete, mesmo partindo da mais benévola perspectiva, é absolutamente imperiosa para o que costuma designar-se interesse nacional.