Recorda Correia de Campos, em artigo no Público de ontem, que faltam sete meses para as europeias.
E não é cedo para discutir "a Europa" em todas as suas dimensões. É previsível que o debate seja capturado em parte pela ascensão de alguma extrema-direita. Em qualquer caso, que seja sempre motivo para discutir a Europa que se pretende e como construí-la para que possamos sair do que arrisca assemelhar-se cada vez mais a um beco sem saída.
"(...) Que medidas devem ser tomadas para reforçar estes valores e afastar os fantasmas do populismo e do extremismo? Desde logo, iniciar o mais cedo possível a campanha de esclarecimento, evitando que as eleições europeias sirvam apenas para "cumprir calendário" ou como prateleira ou recompensa para quadros políticos cansados ou derrotados. Recomendação válida para todos. O ideal europeu deve ser descontaminado da transitoriedade de uma crise que se agravou por egoísmos nacionais. Não é uma crise da Europa, é uma crise de pensamento de sucessivos conselhos europeus sem cultura nem história, sem visão nem ambição, que permitiram a dominância de directórios de interesse geopoliticamente centrado.
Apesar de escassos, registaram-se progressos na afinação da governação europeia. Passados momentos de reserva, os Estados-membros estão hoje de acordo com o reforço da supervisão orçamental e do controlo bancário para prevenir novas crises. Com a criação de um mecanismo europeu de estabilidade para também mutualizar a dívida. Com o reforço do mercado único para animar a economia, com a iniciativa de emprego aos jovens, desde que dotada de recursos efectivos. Com o programa Horizonte 2020 para relançar a criação de conhecimento e inovação. Com o comércio digital, com a rápida construção das redes transeuropeias de energia, transportes e telecomunicações. E sobretudo com o respeito pelos valores sociais, criando um quadro de bordo de governação europeia com indicadores não apenas financeiros, mas também macroeconómicos e sociais (emprego, crescimento e inovação).
As eleições para o Parlamento situam-se a sete meses de distância. Do Parlamento sairá o presidente da Comissão, uma vez que cada lista nacional apresentará um candidato a este cargo, mas o Conselho sofre de dois factores que diminuem a sua contribuição: em muitos casos, as maiorias dentro de cada Estado-membro são ou podem vir a ser claramente anti-europeístas e, em segundo lugar, os ministros e chefes de Estado e de Governo que integram o Conselho votam à União uma atenção discreta, pouco activa e apenas benevolente quando esperam receber recursos adicionais. Estes comportamentos registáveis no mandato que vai terminar não são entusiasmantes. Poucos protagonistas têm estado à altura da sua função."